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O talento genuíno da atriz Andréia Ribeiro

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Andréia Ribeiro é atriz, pesquisadora e produtora do espetáculo solo “Carolina Maria de Jesus, Diário de Bitita” 2015/2016/2017; Atriz, pesquisadora e Produtora do Espetáculo “Memorial” 2007/2008/2009; “Fuga” em 2007 Supervisão Geral: Frederico Paredes; “O Impulso Que Me Move” – Teatro e dança em 2006 roteiro e direção: Andréia Ribeiro, supervisão: Laís Bernardes e Soraya Jorge “Janelas”- Amostra Grátis – Centro Cultural Carioca em 2006, direção: Renato Carrera; “Cai o Pano” encerramento do Festival de Teatro da Faculdade Veiga de Almeida, uma homenagem à atriz Nathália Timberg em 2002. Direção: Renato Carrera, atriz e produtora do espetáculo “Retalhos Para Um Recital”, baseado na obra de Adélia Prado direção de Ronaldo Serruya teve sua estréia no Teatro Vila Lobos em 2001, e em seguida uma temporada de 2 meses no Sesc Tijuca em 2002. Fez parte durante 3 anos do Grupo Muito Prazer, dirigido por Márcio Vianna atuando nos espetáculos: “O Último Bolero”, cumprindo temporada no Teatro Laura Avim em 1995, “Farra Dos Atores” estreando os jardins do Museu da República, cumprindo uma temporada de 5 meses em 1995 e neste mesmo ano participou do Festival de Teatro 2º Porto Alegre em Cena. Atuou ainda nos espetáculos: “Os Sete Gatinhos”, “Bonitinha, Mas Ordinária” em 1993, direção de David Herman; “Yerma” cumprindo temporada no teatro Gláucio Gil em 1991 direção: Armando Nogueira e em “O Alienista”.

Andréia, qual foi o “start” para o seu despertar para o mundo das artes?

Sempre quando tento puxar pela minha memória, quando penso na criança que eu fui, vem uma imagem de uma criança muito triste, com um olhar triste… Na adolescência também essa imagem se repete em minha memória, esse olhar triste. Sozinha, eu assistia uma novela chamada “Escrava Isaura” e ficava paralisada, encantada vendo aqueles personagens fortes, atores maravilhosos como Rubens de Falco, Lea Gracia, Lucélia Santos, Beatriz Lyra e aquelas cenas me emocionavam. Essa novela mexeu muito comigo… Um desejo silencioso dentro de mim de fazer aquilo, interpretar, dar vida a outras histórias, a outros personagens… A vida conduziu tudo certo e me levou para as mãos sábias de Sérgio Brito, Hamilton Vaz Pereira e depois segui para a CAL (Casa das Artes de Laranjeiras). Nessa casa me encontrei. Foi uma sensação de adequação muito grande. Mantenho algumas amizades da época da CAL até hoje, inclusive o diretor do meu espetáculo, Ramon Botelho, e minha assistente de direção, Gabriela Buono Calainho, são meus amigos dessa época. Como nada acontece por acaso e estudando a vida de Carolina, vi que o primeiro livro que ela leu foi “Escrava Isaura” que uma vizinha deu a ela.

Em que momento você acredita que arte exerce um papel social?

A arte precisa ter esse papel de tirar as pessoas do lugar. O público tem que sair do teatro diferente de como ele entrou… A arte tem que afetar o outro e provocar uma reflexão sobre o mundo, uma mudança de comportamento.

Como dividir a cabeça da atriz, da produtora e da pesquisadora para que essas partes trabalhem em uma unidade?

É muito difícil assumir todos esses papéis, mas hoje acho muito rico… Nessa época em que vivemos, o ator precisa entender de produção para movimentar seu trabalho. É importantíssimo que o ator esteja no centro (pesquise, leia, investigue, observe o mundo, as inquietações, as dores humanas e entenda também de produção para tornar seus projetos realidade). O principal é se cercar de pessoas que você goste de trabalhar… pessoas que você admire… pessoas de caráter. Teatro é grupo!

Quais as maiores dificuldades em se produzir uma peça em nosso país?

A falta de incentivo, de políticas culturais efetivas que fortaleçam a arte em nosso país. Diariamente nos deparamos com o desmonte que o poder público vem tentando fazer com o nosso ofício… Uma tentativa diária de desestruturar nossa classe, desvalorizar nosso ofício. É preciso uma resistência diária, muita vocação.

Essa dificuldade se fez presente em “Carolina Maria de Jesus, Diário de Bitita?”.

Olha, esse meu processo com Carolina foi lindo demais, foi uma produção feita com muita calma. Viajei até a cidade de Carolina, em Sacramento, Minas Gerais. Fui até a escola em que ela estudou. Andei pelas ruas de Sacramento. Foi um processo de quatro anos até nossa primeira estreia em Uberlândia. Foi mágico!

Por que essa história lhe chamou atenção?

Carolina já denunciava a fome, a miséria, a desigualdade social, o racismo, o machismo. Quando falo suas palavras a sensação que eu tenho é que eu já conhecia esta mulher, foi um encontro ancestral, não tenho dúvida. O contato com essa obra me remete à minha vó Dolores, minha mãe Marisete, mulheres guerreiras como Carolina. Ela entendeu muito nova que seu maior patrimônio era o seu conhecimento, adquirir o saber. Quando eu falo no espetáculo: “quando eu não tenho o que comer ao invés de eu xingar ou pensar na morte eu escrevo”; eu penso: caramba que mulher! Minha responsabilidade aumenta. Eu tenho que tentar ser uma pessoa melhor todos os dias para falar as palavras de uma das maiores representantes da literatura negra deste país.

Voltando ao papel social da arte, em que momento da peça esse papel se faz presente em sua visão?

Carolina desde criança já era inquieta, curiosa, cheia de perguntas. Todo tempo do espetáculo as palavras de Carolina são um grito, uma denúncia. Eu já começo o espetáculo falando: “ontem eu comi macarrão do lixo com medo de morrer”. É preciso conhecer a fome para saber descrevê-la. A fome tem cor… é a pior das enfermidades.

Além do teatro você já fez cinema e TV. Como você enxerga esses outros meios para o trabalho dos atores em especial?

Adoro fazer TV e cinema, acho veículos maravilhosos cada um com suas especificidades. O que a gente precisa são de bons personagens, não importa o veículo. Me sinto abençoada por ter tido esse encontro com a obra de Carolina e de ter tido a força e parceiros maravilhosos que me ajudaram a tornar esse sonho realidade.

Em algum momento em sua vida como atriz, você já se emocionou ao ler sobre o personagem que viveria?

Com Carolina… Cada noite no palco com as palavras que falo a emoção vem forte!

Isso aconteceu com a sua transformação em Bitita?

Sim, hoje me acho uma pessoa muito melhor e consequentemente minha atuação torna-se mais verdadeira.

O que ficou em você depois de atuar nessa peça e que serve de reflexão nos vários momentos da sua existência?

Aprendo com Carolina todos os dias. A capacidade dessa linda mulher que mesmo vivendo no meio de condições tão adversas (ser mulher, negra, pobre, favelada, mãe, com 3 filhos para sustentar sozinha) ainda tem esse olhar para a realidade e precisa escrever para dar conta do mundo. Extrair poesia de uma realidade tão dura! Carolina precisava escrever… Ela era uma artista e deixou uma obra imensa: peças de teatro, poesias, romance, músicas. Essa personagem me permite fazê-la com muita idade. O tempo é meu aliado nesse projeto e isso não tem preço para um artista. Pretendo levar a história de Carolina para muitas pessoas. Quero que o Brasil conheça essa escritora brasileira, um patrimônio cultural do Brasil.


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