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Octavio Aragão fala que o futuro será bem promissor

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Graduado pela Escola de Belas Artes da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), depois de trabalhar em várias agências de publicidade e escritórios de design, Octavio Aragão teve ainda uma rápida passagem como desenhista de produção no cinema. Especializou-se durante a década de 1990 na produção de infografias e gráficos informativos veiculados em grandes jornais e revistas cariocas. Foi coordenador de arte de O Globo, sub-editor de arte de O DIA e editor de arte da linha de revistas de informática da Ediouro Publicações. Em 1998 estreou profissionalmente como escritor, com o conto “Eu Matei Paolo Rossi”. Dois anos mais tarde, deu início ao projeto Intempol (Polícia Internacional do Tempo). Intempol é um dos primeiros projetos multimídia de arte fantástica brasileira, pólo de produção cultural, principalmente no campo literário e da arte sequencial. “Fui coordenador de arte de O Globo, sub-editor de arte de O DIA e editor de arte das revistas de informática da Ediouro. Acredito que sua questão tem múltiplas respostas, nenhuma definitiva ou certeira. Há um certo paradoxo na proliferação de novos projetos gráficos em todos os grandes jornais e um certo consenso que estabelece um prazo de quatro anos de validade entre cada redesign. (…) Temos uma maneira plural de fazer/pensar design. Não acredito em fórmulas porque, diferente de países como Itália e Espanha, somos um país gigantesco”, afirma o designer gráfico. 

De um modo geral, como você enxerga hoje o design gráfico em nosso país?

Temos uma maneira plural de fazer/pensar design. Não acredito em fórmulas porque, diferente de países como Itália e Espanha, somos um país gigantesco, com muitas culturas em uma e, como qualquer designer sabe, o diferencial para um design de personalidade é balancear o mundial e o regional. Ao mesmo tempo que precisamos estar “antenados” com o que se faz de mais moderno, a originalidade é o que faz o trabalho se destacar e, nesse caso, o novo vem da compreensão das características regionais ou particularizadas. Assim sendo, o design desenvolvido no Rio Grande do Sul é diferente do que se faz na Bahia, que diverge da produção de São Paulo, apesar de todos compartilharem a língua. Os muitos “sotaques” me parecem a fonte da riqueza do design brasileiro.

Em suas entrevistas, sempre o projeto Intempol (Polícia Internacional do Tempo) vem à baila. Por que você acredita que a ficção científica mexe tanto com a cabeça das pessoas?

Não sei se mexe com a cabeça da pessoas, mas com certeza mexe com a minha. Gosto do tipo de envolvimento produzido por esse subgênero da literatura (veja bem, literatura, não cinema) fantástica. Gosto de imaginar a transcendência, o futuro e as realidades alternativas e, do jeito que penso, isso tem a ver com design. Outro dia comentava a respeito da possibilidade do Império Romano ter utilizado a tecnologia a vapor, que já tinha sido cogitada e até aplicada em pequenos protótipos de locomotivas, para construir ferrovias e unificar a Europa, impedindo a invasão bárbara e, consequentemente, eliminando a Idade Média. É esse “e se” que move não apenas meu trabalho como designer, mas também como ficcionista, mas não sei dizer se meus leitores compartilham esse sentimento.

Você foi editor de arte de O Globo e sub-editor de arte de O DIA. A arte gráfica está sendo bem empregada nos principais veículos impressos do país, ou acredita que poderia ser feito ainda mais?

Fui coordenador de arte de O Globo, sub-editor de arte de O DIA e editor de arte das revistas de informática da Ediouro. Acredito que sua questão tem múltiplas respostas, nenhuma definitiva ou certeira. Há um certo paradoxo na proliferação de novos projetos gráficos em todos os grandes jornais e um certo consenso que estabelece um prazo de quatro anos de validade entre cada redesign. Compreendo as necessidades comerciais dessa postura, mas creio que isso contradiz um dos principais motes do design, que é buscar uma solução o mais definitiva possível e considerar o que foi apresentado ao cliente como a resposta única. Logo, se um projeto nasce com prazo de validade pré-estipulado, podemos concluir que ele não encarou de frente todos os problemas, admitindo que há falhas inerentes e, por que não dizer, aparentemente insolúveis. Dessa maneira, creio que a “arte gráfica”, principalmente numa publicação periódica, não é um fim em si, mas existe em função de diversas necessidades. Mudar tudo em quatro anos apenas, me passa a ideia que o trabalho anterior aprovado pelo cliente, vendido como a solução, não era tão bom. Consequentemente, sempre que vejo um novo projeto gráfico apresentado como “mais moderno, limpo e arejado”, me pergunto “mas o anterior já não foi vendido assim?”. Talvez não devêssemos fazer “mais”, mas fazer “melhor”.

Como a arte sequencial entrou na sua vida, ou melhor, quando viu que tinha jeito para desenvolver esse trabalho?

Desde que me alfabetizei leio quadrinhos e me fascino por comunicar por meio de ilustrações em páginas. Gosto de desenhos animados, mas a mecânica das HQs me fascina, com todos os “ganchos” e truques narrativos para prender o olhar do leitor, lutando contra os estímulos que o rodeiam, competindo por atenção. Considero que fiz a transição de leitor para “pensador” de HQs quando, aos 12 anos, identifiquei pela primeira vez os estilos gráficos de cada ilustrador, deixando de prestar atenção nos personagens para seguir os criadores. A partir daí, sempre que leio uma nova HQ, divido a fruição em três fases: 1) leitura superficial, como leitor comum; 2) leitura prática, como profissional de ilustração e design e 3) leitura crítica, na qual entro de cabeça no roteiro e nas técnicas narrativas. Infelizmente, a cada leitura o maravilhamento decresce, mas isso faz parte. O preço por trabalhar no que se gosta é a perda da inocência.

Existe uma parcela considerável de especialistas que dizem que a infografia será reinante no jornalismo digital em pouco tempo. Acredita que a infografia terá todo esse poder?

Sim, acredito. Trata-se não apenas de uma nova maneira de fazer jornalismo, mas de pensar informação, mais imediata, multisensorial, sinestésica, que tem tudo a ver com as novas mídias. A cada dia acompanho o nascimento de um novo tipo de profissional, que mescla as características de fotógrafo e ilustrador à de construtor de textos. Esse é o futuro.

“Ler apenas Stephen King é quem nem almoçar e jantar macarronada todos os dias. É gostoso e vai lhe deixar inchado, mas não atende a todas as necessidades”. Muitas vezes, essa “macarronada literária” não é imposta por especialistas, e até pela própria mídia, que de certa forma, fica quase impossível não se viciar nela?

Há imposições comerciais em tudo na vida e a maioria das pessoas não se preocupa em romper a camada de glacê, do facilmente alcançável, para alcançar o bolo. Mas se um entre dez fruidores se aprofundar, optar pelo “visível” em lugar do “olhável”, considero como lucro. Já ouvi falar de leitores que só buscavam conhecer os volumes que ocupavam as colunas de mais vendidos dos jornais e não critico essa atitude, apesar de não ter nada a ver comigo. Compreendo a necessidade de pertencimento, de “saber por que tanta gente está falando nesse romance”. Isso não é errado, mas creio que ainda é um resquício do hábito de enxergar no livro uma “funcionalidade” à qual ele não necessariamente se propõe. Há uma outra pergunta de senso comum que ao menos uma vez já assombrou leitores vorazes: “está lendo esse livro para quê?”. Dá vontade de responder, voltando à metáfora culinária, “leio porque tem palavras impressas. Se fosse líquido, eu beberia”.

Você disse que aprendeu muito sobre o ofício da escrita com o prosador francês Gustave Flaubert. Nos fale mais a respeito.

Flaubert me ensinou que um romance realista como “Madame Bovary” pode ter momentos de maravilhamento, choque e transcendência estética que eu não achava possíveis. Uma cena desse romance descreve as consequências de uma tentativa de cura de um aleijado. É um momento que, caso tivesse sido cortado do romance, não interferiria com a linha narrativa principal, mas é uma aula de “suspense frio”, onde o narrador descreve uma situação horrenda com olhar desapaixonado e prepara o terreno para o que virá, desenvolvendo um sentido de catástrofe em espiral. Já em termos técnicos, no que diz respeito ao lado prático, foi com Flaubert que descobri o “quarto do grito”, que foi como ele batizou um aposento onde lia em voz alta seus textos, interpretando a voz aos personagens. Sempre que tenho oportunidade faço o mesmo. Há também a questão, que li pela primeira vez numa declaração de Flaubert e da qual discordo, de não querer interpretações visuais de seus personagens, principalmente ilustrações, o que considero uma postura reducionista diante da própria obra, mas que compreendo e admiro como um direito do autor.

Há quatro anos, você afirmou que o mercado editorial brasileiro para ficção científica estava melhorando. De lá para cá, mudou alguma coisa ou continua melhorando?

Na verdade, o mercado melhorou em diversos sentidos, não especificamente para a ficção científica, mas para o gênero fantástico como um todo. Temos diversas editoras pequenas, como Draco e Tarja, fazendo um trabalho de base, lançando autores no mercado, e algumas maiores, como a Aleph e a LeYa, com distribuição e divulgação profissionais, sedimentando um espaço. A tendência, ao que me parece, é ampliar e sedimentar, mas temos de ver como a revolução dos e-books, que promete mudar tudo em alguns anos, vai influenciar esse desenvolvimento.

Você acredita que a televisão destrói o interesse da leitura, como escreveu o seu “pai espiritual” no mundo da ficção Ray Bradbury em Fahrenheit 451?

Adoro Bradbury, mas nesse caso específico não concordo. Acho que uma coisa complementa a outra. Há uma anedota que diz que, quando o homem desenvolveu os primeiros métodos de notação, houve alguém que levantou a possibilidade de perdermos a capacidade de memorizar dados por preguiça mental. Esse medo do novo no que diz respeito às novas tendências comunicacionais é uma constante na história da humanidade, mas o que vemos é uma sobreposição de camadas, onde a que está em cima jamais destrói a subjacente, mas a complementa. É sempre bom recordarmos que Bradbury era um autor de FC [Ficção Científica] com algumas tendências que poderíamos considerar “ludistas” e talvez a melhor atitude diante dele e de outros autores é fruir a obra, mantendo um certo distanciamento crítico quando o assunto em questão diz respeito a opiniões ou idiossincrasias particulares.

Qual a sua visão sobre o jornalismo de quadrinhos, que tem talvez como o seu maior expoente o maltês Joe Sacco?

Tenho lido muito Joe Sacco, Marjane Satrapi, Keiji Nakazawa, André Toral e a magistral obra Fax From Sarajevo, de Joe Kubert, tanto por prazer como para orientar diversos trabalhos acadêmicos na ECO – UFRJ. Há uma febre em torno da popularização das narrativas gráficas de Sacco e de Persépolis, de Satrapi, e acredito que isso é salutar tanto para o jornalismo quanto para as HQs, comprovando a versatilidade de ambos. No Brasil, destaco as contribuições de Allan Alex para o jornal Extra, do Rio de Janeiro, contando em quadrinhos a tomada do Morro do Alemão e uma biografia de Nelson Rodrigues. Considero essas oportunidades pontos altos do gênero no Brasil. Também percebo que alguns desses graduandos de comunicação em breve apresentarão propostas de peso voltadas para o jornalismo em quadrinhos, focados no estudo da história recente do Brasil.

Para finalizar, o que você gostaria de realizar no mundo dos quadrinhos ou mesmo da ficção científica e que ainda não foi possível?

Neste momento lanço meu segundo romance, “Reis de Todos os Mundos Possíveis”, que é parte da série de histórias Intempol, e em seguida embarco sem descanso em duas graphic novels e dois romances, além de um livro teórico sobre ficção científica e quadrinhos, tudo mais ou menos ao mesmo tempo, alguns em parceria, outros em empreitadas solo. Depois disso, que deve me ocupar até 2016, pensarei no que fazer, porém adianto que há projetos com os quais gostaria de me envolver, mas que considero castelos de areia: voltar à terceira de minhas paixões, o rock, para compor e gravar um CD conceitual, ou criar um programa de TV sobre todos os assuntos que me interessam. Gosto de acreditar que o futuro será um lugar interessante para viver.


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