Oriovisto Guimarães fundou em 1972, o Curso Positivo, que ao longo dos anos conseguiu transformar uma pequena sala de aula na maior corporação de educação do país. Hoje o Grupo Positivo conta com mais de 4.000 colaboradores e atua no Brasil e Estados Unidos, além de países da Ásia, América do Sul, África, Europa e Oriente Médio. Na área educacional, os produtos do Grupo Positivo chegam diretamente à sala de aula de milhões de alunos, da educação infantil ao ensino superior. Conta com escolas próprias e uma universidade, com 14.000 alunos, além de uma rede de escolas públicas que adotam seus sistemas de ensino. A editora do grupo possui em seu portfólio o Dicionário Aurélio, entre centenas de outras obras. O Grupo Positivo conta ainda com a maior gráfica da América Latina e vem consolidando sua posição na área tecnológica com a Positivo Informática, empresa líder na venda de computadores, além de ser referência em tecnologia educacional com produtos exclusivos, como as mesas educacionais. É autor do livro “Você é o Dono da Escola” (1990) e de várias coleções de livros didáticos de matemática, além da tradução de “Como Sair da Crise”, de Luis Pazos (l993). Exerceu o cargo de conselheiro de Educação do Paraná em três gestões. De 2001 a 2004 foi representante no Paraná do Programa das Escolas Associadas à UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação. Atualmente é senador pelo Podemos/PR.
Senador, como avalia o momento dos homens públicos em nosso país?
É o momento que os homens públicos precisam se conscientizar em definitivo de que é preciso pensar no Brasil e não em suas carreiras políticas. É um momento em que o país já não aguenta mais ver os interesses maiores da nação relegados a segundo plano em função de interesses políticos partidários. Por exemplo, Rodrigo Maia não monta a Comissão de Orçamento para o ano que vem, mais vai parar o Brasil por 3 meses para disputar com o presidente Bolsonaro, a futura presidência da Câmara dos Deputados. Outro exemplo, um presidente da República que fica politizando a vacina… que fica feliz quando alguém morre e que fazia parte do grupo de teste da Vacina Coronavac dizendo que ela era do Doria. Ninguém pensa no país. Os homens públicos pensam neles. São egoístas, pois, deveriam pensar no país. É um momento muito triste!
Por que o senhor acredita que a percepção que muitos brasileiros têm da política nacional é tão ruim?
Por tudo isso que eu disse na resposta anterior. Os políticos no Brasil são realmente ruins. A maioria principalmente no nosso Congresso Nacional é muito ruim. Os grandes temas nacionais não são discutidos. Este ano não saiu a reforma tributária; este ano não vai sair a reforma administrativa e não vou nem falar em Comissão do Orçamento já que vai ficar para abril do ano que vem (o que já é um absurdo, já que teria que ser em janeiro). Não se fala em reforma política; não se fala em reduzir o número de partidos, nem pensam em cortar esse número absurdo de deputados (513). O Brasil não precisa disso. As coisas que realmente interessam para o Brasil os políticos não discutem. Eles discutem muito o Fundo Eleitoral; eles discutem muito as próximas eleições; eles discutem muito os seus interesses pequenos. Colocam empresas e estatais que eles não querem que privatizem, pois, as estatais são uma fonte de arrecadação quando eles vão fazer campanhas e assim por diante. O brasileiro tem razão sim de estar triste com os políticos. Muita razão!
O senhor é um homem oriundo da iniciativa privada. Iniciativa privada e vida pública são como água e óleo em sua visão?
Não deveriam ser… são coisas distintas. Na iniciativa privada você tem um foco específico e você tem a competição. É completamente diferente da vida pública. Na iniciativa privada você não pode empregar uma pessoa a mais que o teu concorrente, porque se o seu custo for maior você vai à falência, quebra. Na vida pública os políticos enchem de funcionários os seus gabinetes… enchem de funcionários o setor público. Alguns poucos são merecedores como professores, militares e outros que merecem e que ganham pouco. Mas tem um exército de gente que ganha muito, com muitos privilégios e que consome todo o dinheiro dos impostos não sobrando nada para o Governo aplicar naquilo que interessa. Não dá para comparar são coisas muito diferentes.
É possível implementar ações da iniciativa privada em orgãos públicos do nosso país?
É perfeitamente possível, mas para isso nós teríamos que ter um novo topo de político. Um político que realmente não pensasse nas suas carreiras. Um político que pensasse na população e que pensasse no país. Um político que pensasse no futuro das crianças. Que pensasse em fazer uma educação de melhor qualidade. Que votasse o fim do foro privilegiado. Que não roubasse. Que tivesse prisão em segunda instância. Que permitisse privatizações. Que cortasse na própria carne. Cadê esses políticos? Onde é que eles estão? A população brasileira tem esses que estão aí. O cara tem 40 processos e a população elege ele de novo e vai ficando lá no Supremo onde nada se resolve. A própria população é culpada por eleger essa gente!
O Brasil é o sexto país em gastos com funcionários públicos. Essa posição lhe incomoda?
Muito, muitíssimo. É um absurdo que seja assim. Não precisava e não deveria ser assim. O Governo depois que paga a folha do funcionalismo (quando digo governo, digo estadual, municipal e Federal, todos os governos). Depois que pagam os funcionários e os complementos de aposentadoria, não sobra mais nada. Todo investimento que eles forem fazer, eles têm que fazer dívida. Aí você tem um país que só tem dívida… uma dívida que está chegando a 100% do PIB e que precisa urgentemente fazer algo a pena da inflação e do desemprego não diminuir, enfim, de ficar pior do que já está.
Falta coragem para os nossos governantes na questão dos cortes de gastos públicos?
Falta coragem. Fui relator da PEC Emergencial que está parada. A pandemia paralisou por completo o Congresso Nacional (não precisava ter paralisado). Poderíamos ter votado via remoto. O que paralisou realmente foram as brigas políticas de gente que quer se perpetuar no poder. Quer se perpetuar na presidência da Câmara e quer se perpetuar na presidência do Senado. Isso que paralisou o Congresso. A PEC Emergencial não foi votada; a PEC do Pacto Federativo não foi votada; a PEC dos fundos não foi votada… para que eram exatamente essas PECs? Para dar instrumentos para os governos estadual, municipal e Federal, enxugando o funcionalismo, ou seja, tomar medidas para baratear a folha. Simplesmente elas não serão votadas! E se forem votadas, os governadores, o presidente e os prefeitos terão que ter coragem de usar e enfrentar as corporações, usando esses instrumentos que essas PECs dariam a eles.
Por que em sua visão a reforma administrativa é mais importante que a reforma tributária?
Sem dúvida, ela é mais importante que a tributária. A última vez que se fez uma reforma tributária em nosso país, foi em 1965 no Governo Militar. Sabe por que eles fizeram? Porque eles tinham todo poder, não tiveram que conversar com políticos. Conversaram com a Fundação Getulio Vargas, encomendaram uma reforma e fizeram. A arrecadação do Governo era 26% do PIB. De lá para cá, veio a Constituição de 1988 que criou um monte de direitos, criou um monte de cargos, o funcionalismo só cresceu, o salário e os privilégios só cresceram e os impostos só foram crescendo, crescendo e crescendo… para pagar o que máquina consume. Hoje, nós temos mais de 33% do PIB. Não é pouca coisa que aumentou de 26 para 33%. Aumentou 7% do PIB, que é um número monstruoso de dinheiro. São bilhões e bilhões que estou falando, sendo que a máquina pública consume tudo. Então, não adianta você fazer uma reforma tributária aumentando mais imposto e ainda continuar inchando máquina do Governo.
Ele vai consumir tudo e não vai resolver. Primeiro tem que resolver o gasto. O Brasil parece muito àquele sujeito ou aquela família, que o salário aumenta todo mês, mas que aumenta os gastos. Ele gasta mais, ele compra um carro mais luxuoso, ele compra um vinho mais caro, ele compra uma roupa mais cara, sendo que o salário aumenta, mas ele está sempre devendo. É o caso do Brasil. Os impostos só tem aumentado. De 1965 para cá, os impostos só tem aumentado e as despesas do Governo aumentam mais que os impostos ainda, ou seja, nunca vai resolver. Tem que fazer reforma administrativa. Tem que secar esse gasto. A família que não economiza, a família que não controla os gastos, ganhe o que ganhar estará sempre devendo.
Mais com corporações bem estruturadas como o senhor bem disse, isso é praticamente impossível…
Claro, o país não aguenta mais! Vai chegar uma hora que isso vai paralisar o país inteiro, porque é tanto imposto, tanto imposto, que os preços ficam absurdos, os empresários desistem de fazer as coisas porque eles não vencem de pagar tantos impostos. Aumenta desemprego, desestimula as pessoas a fazer as coisas… o capital começa a ir para outro país onde não se tem tantos impostos.
Outro ponto polêmico diz respeito ao fim do auxílio emergencial. Isso deverá ser um problema no próximo ano?
Olha, já foi um problema enorme este ano. O país já gastou quase 1 trilhão de reais devido à pandemia. Não podia ter gasto, mais gastou já que existiam muitas pessoas morrendo de fome e tal… Mas ele gastou esse dinheiro porque ele tinha para gastar? Não, não tinha, ele fez dívida. Aumentou a dívida interna. Essa dívida vai ter que ser paga uma hora. Nós precisamos não ficar imprimindo dinheiro para as pessoas, ou fazendo dívida, já que isso não é sustentável, isso uma hora quebra o país. A inflação vai disparar de novo, os juros vão disparar de novo e o país quebra nesse caminho. Precisamos fazer as reformas, para que a economia volte a crescer. Reforma tributária, privatizações, encolher a máquina do Governo, fazer uma reforma política, fazer o fim do foro privilegiado e a prisão em segunda instância para acabar com a roubalheira… aí o país volta a crescer, volta a gerar empregos, a economia cresce, automaticamente a quantidade de impostos arrecadados aumenta, porque o volume da economia é maior. Claro que 33% de 100 vai dar 33; 33% de 200 vai dar 66, sendo que você não aumenta a taxa, mas com a economia aumenta a arrecadação do Governo e ele pode investir mais e você cria um ciclo virtuoso. Agora se continuar administrando da forma como é administrado hoje vai ficar cada vez pior.
Que ideia o senhor acredita ser a mais realista para esse fato na atual conjuntura?
Nós precisamos fazer as reformas. Nós não temos uma liderança política hoje. Nosso presidente Jair Bolsonaro, infelizmente diz que não entende nada de economia e que qualquer coisa é com o Posto Ipiranga (Paulo Guedes). Só que o Paulo Guedes embora entenda muito de economia (eu tenho muito apreço pelo ministro Paulo Guedes), não tem cacife politico para aprovar o que ele quer. Esses dias ele afirmou que não conseguiu vender nem um terreno da União. Existem milhares de terrenos inúteis, empresas que estão precisando privatizar e que só dão prejuízo… ele não consegue porque não tem apoio político. Ele não consegue aprovar a reforma tributária; ele não conseguiu aprovar a PEC Emergencial; ele não consegue aprovar o Pacto Federativo; ele não consegue aprovar a reforma tributária; ele não consegue nada! Simplesmente as brigas políticas ocupam os deputados, os senadores e o presidente não tem uma base que o apoie (fez acordo com o Centrão, mas o Centrão também está paralisando a Câmara, pois, quer fazer o presidente da Câmara), então eu nem sei o que vai ser. Daqui a pouco o Paulo Guedes joga a toalha e daí a coisa vai ficar pior!
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