Os dividendos globais tiveram um forte início em 2023 devido ao crescimento dos dividendos especiais, de acordo com o último Janus Henderson Global Dividend Index. O total nominal aumentou 12%, atingindo um recorde de US$326,7 bilhões no primeiro trimestre. O crescimento subjacente, que é mais representativo da tendência, foi de 3%. Os dividendos brasileiros registraram uma divergência em relação a um início global robusto de pagamentos em 2023. Os dividendos das empresas brasileiras caíram -27,5% em uma base subjacente, já que a Vale cortou seus dividendos em US$1,8 bilhão no primeiro trimestre – a maior redução no pagamento de dividendos em todo o mundo. “A história dos dividendos do Brasil no primeiro trimestre foi de fraqueza e contrastou com o desempenho positivo observado no resto do mundo”, diz Ben Lofthouse, chefe de renda variável global da Janus Henderson. “Essa é uma boa ilustração da concentração das grandes empresas brasileiras pagadoras de dividendos em alguns setores sensíveis a commodities. Os investidores devem estar cientes dessa concentração e considerar o papel que uma diversificação geográfica mais ampla dos investimentos pode desempenhar para gerar retornos positivos por meio de um efeito de portfólio em uma base mais sustentável e duradoura”, completa o executivo do grupo britânico-americano de gestão de ativos globais.
Ben, que fatores contribuíram para o forte início de 2023 dos dividendos globais, especialmente devido ao crescimento dos dividendos especiais?
O forte início de 2023 dos dividendos globais foi impulsionado pelo crescimento dos dividendos especiais. Os pagamentos especiais não recorrentes, como os da Tata Consultancy na Índia, contribuíram significativamente para esse crescimento.
Qual é a razão por trás da divergência dos dividendos brasileiros em relação ao início global robusto de pagamentos em 2023?
A divergência dos dividendos brasileiros em relação ao início global robusto de pagamentos em 2023 ocorreu devido à redução dos dividendos da Vale, que cortou seus dividendos em US$1,8 bilhão no primeiro trimestre, a maior redução de entre as empresas levadas em conta no relatório.
Quais foram os principais motivos para a contração nos dividendos do setor de mineração global e como isso afetou a América Latina?
A contração nos dividendos do setor de mineração global foi causada principalmente pela queda nos preços das commodities. O setor de mineração reduziu os dividendos em cerca de um quinto, de US$20,6 bilhões no primeiro trimestre de 2022 para US$16,6 bilhões no primeiro trimestre de 2023. Isso afetou especialmente a América Latina devido à região ser dependente desse setor. Essa é uma boa ilustração da concentração das grandes empresas brasileiras pagadoras de dividendos em alguns setores sensíveis a commodities. Os investidores devem estar cientes dessa concentração e considerar o papel que uma diversificação geográfica mais ampla dos investimentos pode desempenhar para gerar retornos positivos por meio de um efeito de portfólio em uma base mais sustentável e duradoura.
Por que nenhuma empresa da América Latina aparece na lista das 20 maiores pagadoras de dividendos do mundo no primeiro trimestre de 2023?
Como explicado, as grandes empresas mineradoras da região foram afetadas pela baixada no preço das commodities. Outras grandes empresas, como a Petrobras, fizeram pagamentos com o relatório já finalizado e não foram levadas em consideração nessa edição do JHGDI. O index analisa 1.200 das maiores empresas do mundo.
Quais foram os destaques do desempenho dos mercados emergentes em termos de dividendos e quais fatores contribuíram para esse resultado?
Depois de um 2022 muito forte, os mercados emergentes iniciaram 2023 com um aumento de 22,7% nos pagamentos nominais, graças principalmente a um grande dividendo especial da empresa de software indiana Tata Consultancy. Mas, por trás do número nominal, o quadro era mais débil. Os dividendos foram 5,3% menores em bases subjacentes, devido aos cortes das mineradoras do Brasil, México e Índia, bem como às reduções dos bancos da Malásia.
Como os dividendos especiais não recorrentes impactaram globalmente o primeiro trimestre de 2023, e quais setores foram mais afetados?
Os dividendos especiais não recorrentes aumentaram para um valor quase recorde no primeiro trimestre. O total de US$ 28,8 bilhões ficou atrás apenas do primeiro trimestre de 2014, quando a Vodafone vendeu a Verizon Wireless nos EUA e distribuiu os lucros aos seus acionistas. A bonança foi a maior entre os fabricantes de veículos, que responderam por quase um terço dos dividendos especiais do primeiro trimestre no mundo. Os pagamentos desse setor foram dez vezes maiores em relação ao ano anterior no primeiro trimestre. Os pagamentos vieram da Ford e da Volkswagen, que distribuiu os lucros da IPO da Porsche. Os dividendos especiais não recorrentes também tiveram um impacto significativo nos setores de transporte, petróleo e software.
Quais setores, além da mineração, impulsionaram o forte crescimento dos dividendos ao nível global?
Na verdade, o setor da mineração caíram em um quinto no primeiro trimestre devido ao preço das commodities. Mas essa queda foi compensada pelos aumentos dos bancos e dos produtores de petróleo. Os bancos fizeram a maior contribuição global para o crescimento do primeiro trimestre. Os fabricantes de veículos apresentaram forte crescimento e elevados dividendos especiais… No geral, a maioria dos setores apresentou aumentos no primeiro trimestre, mas a redução dos dividendos da mineração causou um impacto significativo no crescimento.
Por que a Janus Henderson atualizou sua previsão para um total de dividendos maior em 2023, especialmente na Europa, e quais fatores contribuíram para essa melhoria?
O registro excepcionalmente grande de dividendos especiais não recorrentes no primeiro trimestre, juntamente com o forte cenário do segundo trimestre na Europa, são os principais motivos por trás da atualização da nossa previsão para 2023. Esperamos agora um crescimento de 5,2% nos dividendos nominais, proporcionando pagamentos recordes de US$1,64 trilhão.
Fale mais sobre isso.
No tocante à Europa, esperamos ainda fortes pagamentos no setor bancário procedentes do levantamento das restrições impostas aos dividendos durante o período da Covid. Além disso, como quase todos os dividendos anuais únicos da Europa refletem o desempenho robusto dos lucros de 2022, também estamos observando aumentos significativos em vários setores à medida que o segundo trimestre se desenrola.
Considerando os desafios econômicos globais, como inflação, taxas de juros e a pandemia contínua da Covid-19, qual é a perspectiva para o crescimento dos dividendos ao longo deste ano?
A economia mundial vem se desacelerando à medida que a inflação, as taxas de juros mais altas e as condições financeiras mais rígidas afetam cada vez mais a demanda. Como resultado, os lucros estão sob pressão e isso acabará afetando o crescimento dos dividendos. Porém, os dividendos são muito menos voláteis do que os lucros ao longo do ciclo, portanto, qualquer desaceleração ou declínio total nos lucros terá um impacto mais suave sobre os pagamentos durante o próximo ano. Por isso a nossa previsão foi atualizada com um aumento para o final do ano.
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