Paulo Varella estudou Administração de Empresas na FGV e Cinema no Reino Unido, onde morou por 8 anos. A influência da sua formação em cinema e principalmente na direção de fotografia de vídeoclipes deu um estilo mais contrastado e colorido em seus trabalhos. Apaixonado pela figura humana, Paulo procura sempre ângulos e situações comportamentais diferentes. A maior parte do seu trabalho autoral consiste em pessoas em seus habitats. Procurando em uma foto, poder descrever os detalhes daquela situação como se fosse a prova de uma fração de segundo decisiva na vida da pessoa fotografada. “A gente costuma olhar a vida por um espectro pequeno. Em termos históricos é como se todos usássemos burcas. Sempre achamos os nossos políticos mais corruptos e a nossa arte mais sem graça. O fato é que basta olharmos o nosso mundo com um distanciamento histórico para percebemos que as coisas continuam muito parecidas com a diferença que andam mais rapidamente graças a era da informação. O lado positivo é que temos acesso maior a tudo, dos mais inteligentes aos mais estúpidos. O que precisamos é fazer uma curadoria e não dar atenção ao que não interessa. Acho que esta é a função hoje do Arteref.com com relação à arte, ajudar as pessoas a olhar com um filtro e aprender a fazer uma análise crítica”, afirma o art-publisher.
Paulo, antes de mais nada, gostaria que falasse um pouco da sua carreira até chegarmos aos dias atuais.
Nossa, muita coisa aconteceu. Pode-se dizer que tenho um monte de estórias pra contar, então vou me concentrar nos “highlights”. A minha formação em Administração, cinema e química já demonstra que eu tenho interesses em muitas áreas, mas talvez um divisor de águas foi o período que eu passei na Inglaterra. Praticamente morei durante os anos 90 em Londres e em Buckinghamshire onde estudei cinema. Lá eu tive contato com um número enorme de pessoas e de grupos sociais diferentes. Lá eu trabalhei com videoclipes, cinema autoral e publicidade, onde me especializei em fotografia. O contato com este mundo me levou ao mercado de arte. Com a minha volta para o Brasil, a experiência nestas áreas me ajudou a criar a Photoarts. Aliás, o nome Photoarts já vem desde o tempo em que eu morava em Londres.
Como foi a sua entrada para o universo da fotografia publicitária?
Logo na saída da faculdade de cinema eu já era especializado em direção de fotografia. Daí para trabalhar nos estúdios de cinema foi um passo. Ao voltar para o Brasil, terminei montando o meu próprio estúdio, onde me concentrei em fotografia de pessoas.
A arte deve ter um papel social?
A arte não deve nada a ninguém [Risos]. Ela reflete o que é captado pelos artistas e termina sendo sublimado em forma da arte. Algumas pessoas conseguem fazer isto com mais felicidade e outras conseguem entender a arte com mais fluidez. Os artistas são os porta-vozes da nossa sociedade. Não existe uma sociedade sem arte, pois, ela é o alicerce.
E quando ela não deve ter papel algum?
Não quero deixar a impressão de que a arte foi criada por alguém como se fosse um plano de assistência social. Desde o começo dos tempos as pessoas se expressam através da arte. Ela por si, serve para manter a sanidade das pessoas, mas faz isto de forma inconsciente. A arte existe desde o tempo que o ser humano é capaz de criar com as mãos; de fazer uma representação plástica usando um objeto que mostre o que está dentro da “psique” (para os mais religiosos, “alma”) do artista.
Gostaria que explicasse de uma forma didática o que é um art-publisher.
Publisher, no mundo das publicações, é um nome suave para definir o dono do “pedaço” [Risos]. Como a minha revista Arteref.com se dedica especificamente à arte contemporânea, então o nome “art-publisher”. Esta função é a de quem define o rumo do barco, se a publicação vai ser mais ácida ou mais branda.
Quais momentos mais interessantes do seu trabalho com cinema, arte e fotografia em Londres?
Foram muitos. Trabalhei com muita gente interessante. Terry Gillian, Terence Donovan, músicos como o Sting, Roxette, Right Said Fred e Kate Bush e algumas modelos da época como a Kate Moss. Toda semana tinha um assunto novo. Estou falando dos mais famosos pra chamar a atenção, pois, eu trabalhei com muito mais gente que infelizmente não decolou.
Como se deu a montagem da Photoarts Company?
A Photoarts começou quando eu vim para o Brasil no final dos anos 90. Originalmente a empresa se chamava IAN (International Art Network), pois, a minha ideia era de fazer um network com outros amigos na Europa no mundo das artes, mas terminou que eu fazia tudo e preferi me concentrar no Brasil e deixar a megalomania para um outro momento. Com a mudança do mercado de fotografia publicitária no novo milênio, eu percebi que era um bom momento para ativar o lado da arte autoral e estimular a produção artística. Terminou sendo um bom movimento, pois, quase todos os grandes estúdios fotográficos terminaram fechando e hoje, o meu estúdio virou um grande centro produtor de obras fine art.
A Photoarts vem cumprindo o papel que você imaginava?
Ah! Nunca. Eu sempre espero que as coisas se desenvolvam com o dobro da velocidade. Porém, vivemos em um mundo real cheio de seres humanos [Risos]. De qualquer forma, as ideias são muitas e o sucesso delas depende de foco e organização. Hoje a Photoarts está crescendo, mesmo depois das muitas pauladas da economia. Acho que se eu estivesse com este negócio nos EUA ou Europa, estaríamos bem mais desenvolvidos.
A arte contemporânea passa por um bom momento em sua visão?
A gente costuma olhar a vida por um espectro pequeno. Em termos históricos é como se todos usássemos burcas. Sempre achamos os nossos políticos mais corruptos e a nossa arte mais sem graça. O fato é que basta olharmos o nosso mundo com um distanciamento histórico para percebemos que as coisas continuam muito parecidas com a diferença que andam mais rapidamente graças a era da informação. O lado positivo é que temos acesso maior a tudo, dos mais inteligentes aos mais estúpidos. O que precisamos é fazer uma curadoria e não dar atenção ao que não interessa. Acho que esta é a função hoje do Arteref.com com relação à arte, ajudar as pessoas a olhar com um filtro e aprender a fazer uma análise crítica.
Você já realizou algumas ações voltadas à arte contemporânea no estado de São Paulo. Como foi a recepção?
Sim, já fiz várias exposições. A recepção é sempre muito boa. Todos, sem exceção estão muito abertos à arte. Quando alguma forma de arte não é bem aceita é quando toca em algum assunto cultural ou dogma. Eu particularmente gosto muito quando alguma exposição causa um alvoroço, como foi o caso do “Queermuseum”. Nunca tanta gente soube de uma exposição e teve tanta opinião a respeito. Bom para a arte!
Quais as principais alegrias e os principais desafios em se trabalhar com arte em nosso país?
Adoro trabalhar nas 3 áreas da Photoarts Company: Produção, galerias e notícias. Divido o meu tempo entre cada uma destas tarefas e falo com cada um dos meus funcionários e presto atenção no que eles me dizem, tudo é importante. Acredito muito que a apreciação do processo do trabalho é a essência e quando faço isto eu me sinto em paz. Este estado de paz é a forma mais duradoura de alegria. O desafio é fazer com que o maior número de pessoas possa se conectar com o que realmente é importante na vida. A arte tem um papel muito importante neste processo. Ela nos mostra o que realmente precisamos, ela nos liberta.
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