Pedro Wongtschowski é engenheiro químico, mestre e doutor em Engenharia pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Foi diretor superintendente da Oxiteno (1992-2006). Entre janeiro de 2007 e dezembro de 2012 foi presidente da Ultrapar Participações. É presidente do Conselho de Administração do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM). É presidente do Conselho de Administração da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Emprapii) e presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). É membro do conselho de administração de diversas empresas, incluindo a Ultrapar Participações e Embraer, e de instituições não-governamentais na área de tecnologia, empreendedorismo e inovação. É pesquisador associado do Núcleo de Política e Gestão Tecnológica da USP desde 2012. “É difícil avaliar qual o sentimento geral dos empresários da indústria neste instante, porque a crise atinge diferentemente cada um dos seus setores. Tenho impressão que o empresário vê a trajetória econômica para daqui seis meses ou mais um pouco melhor do que no ano passado, dado que alguns sinais de recuperação já são vistos, mesmo que de modo tênue. Mas é preciso reconhecer que o empresário é um otimista por definição, dado seu caráter empreendedor”, afirma o presidente do IEDI.
Em 2015, o senhor disse que a crise econômica era mais grave que a crise política. Continua com a mesma análise, ou tem um feeling diferente para este momento?
Em 2015, o que se colocava era uma crise econômica muito forte, a atingir sobretudo o setor industrial. A partir de 2016, as perdas na esfera econômica se conjugaram com um quadro político em intensa deterioração, prejudicando evidentemente o desempenho de todas as atividades produtivas. A despeito disso, mais para o final do ano, entramos em um período de moderação que em 2017 se converteu em uma incipiente recuperação. De fato, o quadro em 2017 está menos adverso, mas nem por isso trata-se de uma trajetória firme de recuperação. As altas, inclusive na indústria, que sentiu mais fortemente a crise, ainda são muito baixas e não contemplam todos os setores.
A desindustrialização é real?
Prefiro falar em declínio da participação da indústria na economia brasileira. Isso porque a indústria não retrocedeu em termos absolutos. Continua sendo um setor fundamental para a geração de receita fiscal para o Governo, para o emprego de melhor qualidade e de maior rendimento e, principalmente, para a produção de novas tecnologias e novos processos produtivos. Ainda assim, o setor industrial perdeu muitas oportunidades devido a um conjunto de fatores que tornam o ambiente econômico bastante hostil a esse tipo de atividade. Dentre os mais destacados está a existência de elevados custos sistêmicos, decorrentes, por exemplo, de uma infraestrutura insuficiente e obsoleta e de uma estrutura tributária muito complexa e onerosa. Além disso, temos suportado taxas de juros das mais elevadas do mundo por muito tempo, encarecendo o custo de capital e desestimulando os investimentos necessários para o avanço da produtividade. Além desses fatores, períodos longos de taxa de câmbio apreciada retirou competitividade do produto nacional não só nos mercados internacionais, prejudicando a inserção brasileira nas cadeias globais de valor, como também no próprio mercado doméstico, expondo o sistema produtivo a uma concorrência extremamente acirrada com o produto importado. Esse quadro e a crise recente criam grandes desafios para o Brasil acompanhar a próxima Revolução Industrial, conhecida como Indústria 4.0.
Como o senhor tem sentido o sentimento dos empresários da indústria neste instante?
É difícil avaliar qual o sentimento geral dos empresários da indústria neste instante, porque a crise atinge diferentemente cada um dos seus setores. Tenho impressão que o empresário vê a trajetória econômica para daqui seis meses ou mais um pouco melhor do que no ano passado, dado que alguns sinais de recuperação já são vistos, mesmo que de modo tênue. Mas é preciso reconhecer que o empresário é um otimista por definição, dado seu caráter empreendedor. De toda maneira, os índices muito elevados de ociosidade da capacidade produtiva desautorizam um cenário de iminente retomada dos investimentos, mesmo que a confiança do empresariado continue evoluindo positivamente.
E quais são as suas perspectivas para o cenário em um médio prazo?
As crises política e econômica pela qual passamos possuem interações complexas que dificultam traçar um cenário de médio e longo prazo que seja de fato confiável. Turbulências políticas e deteriorações adicionais no nível de atividade econômica não podem ser completamente descartadas. Este aspecto, inclusive, ajuda explicar porque nossa recuperação tem sido parcial e muito lenta. No curto prazo, contudo, e sob um ponto de vista estritamente econômico, 2017 deve terminar com um desempenho melhor da economia, mesmo que questões importantes, tais como o ajuste fiscal e o reequilíbrio do balanço das empresas, ainda precisem ser resolvidas.
O Brasil exporta um pouco mais de 11% do PIB (Produto Interno Bruto). Por que um país com essa dimensão é tão fechado?
Devido a inúmeras causas, muitas delas já mencionadas anteriormente, como o chamado Custo Brasil, que impacta sobremaneira a competitividade industrial, o câmbio bastante volátil além de valorizado por longos períodos, e um custo de capital elevado, difícil de ser compatibilizado com os padrões de rentabilidade de muitas atividades produtivas. Além disso, é preciso reconhecer que o Brasil ficou de fora das grandes tendências globais, especialmente de acordos comerciais importantes, que foram utilizados com inteligência por economias emergentes mais agressivas no comércio internacional.
Quais seriam as saídas para uma maior abertura para as exportações?
A solução virá de uma política mais adequada de câmbio e juros e de uma participação mais estreita do Brasil em acordos internacionais de comércio.
Poderia nos falar qual o seu papel central como presidente do IEDI?
Como presidente do IEDI, o nosso papel é representar as principais visões e recomendações do Conselho do Instituto, que é formado por quase 50 empresários da maior relevância do cenário industrial do país, junto à sociedade e ao Governo. Nossa tradição é de sugerir políticas horizontais, que favoreçam o desenvolvimento de todos os setores, contribuindo para o aumento da produtividade e da competitividade da indústria brasileira, sempre almejando uma participação mais expressiva na indústria mundial.
Recentemente, o senhor afirmou que os laços entre o setor público e privado deveriam ser reformulados. Como se daria essa reformulação?
O grande número de denúncias de corrupção trouxe um certo constrangimento para o setor empresarial brasileiro, mesmo que a maioria sempre tenha operado com respeito às leis, adotando elevado padrão de governança. A corrupção sistêmica distorce o comportamento dos empresários e dos agentes públicos que, em nome de interesses particulares e específicos, deixam de procurar o bem comum. Com isso, perde a sociedade e perde o sistema econômico, porque a corrupção, no fundo, é um importante fator de distorção da competitividade. A reformulação das relações do setor público e do setor privado é uma tarefa de todas as lideranças empresariais que atuam dentro da legalidade e precisam que este comportamento se generalize, a bem de uma isonomia competitiva.
Quais seriam os desafios mais urgentes para o desenvolvimento brasileiro na chamada “Quarta Revolução Industrial?”.
Essa é uma questão da maior relevância. E da maior urgência, dadas as dificuldades enfrentadas há muito tempo pela indústria nacional. O restante do mundo não vai esperar que resolvamos os problemas que já temos. Ainda que exista muita incerteza em relação às implicações das novas tecnologias, a Indústria 4.0 já é uma realidade. Os principais países industriais do mundo, como Alemanha, Japão, EUA e mesmo a China, estão ativamente formulando políticas para acelerar essa nova Revolução Industrial. De forma pragmática, deveríamos estudar o que estão fazendo e traçar nossa própria estratégia. Este é um momento de ter ambição, porque se as novas tecnologias trazem desafios importantes, também abrem oportunidades ímpares. Precisamos pensar seriamente em melhorar nosso sistema de educação, aperfeiçoar programas e medidas de apoio à ciência, tecnologia e inovação, de modo a contemplar as áreas centrais da Indústria 4.0. Este é um esforço coletivo, que deve envolver empresas, universidades e governos.
Produtividade baixa se resolve com competição?
Como se sabe, produtividade é algo extremamente complexo e que mostra diferentes faces. Resulta de acúmulo de capital humano, de boas práticas regulatórias, de infraestrutura moderna, do arcabouço nacional de apoio à pesquisa, desenvolvimento e inovação e de um ambiente de saudável concorrência no meio empresarial que se traduza em um dinâmico processo de inovação. Isso para não falarmos de itens mais relacionados à microeconomia. Em muitas atividades e em muitos setores, o nível de produtividade atingida dentro dos muros das fábricas nacionais não deixa a desejar a nenhum de nossos competidores estrangeiros. O problema é que muito disso é perdido devido a fatores sistêmicos ou macroeconômicos. Usufruir de uma maior integração externa, seja de nossas empresas no exterior, seja de estrangeiros no Brasil, ou ainda de um fluxo mais expressivo de comércio internacional, também é um fator importante para alavancar a produtividade.
Acredita que a recuperação da economia brasileira virá em quanto tempo?
A economia mostra sinais de que começa a reagir. Se entendermos a recuperação como um processo sustentado de crescimento, isso está mais perto de acontecer do que já esteve nos últimos anos, mas nada está garantido. Outros fatores se fazem necessários, a começar por uma maior estabilidade política. As reformas, especialmente a da Previdência e também a Tributária, que vem sendo ventilada, contribuiriam muito para isso. As reformas estruturais são um elemento fundamental e quanto melhor forem desenhadas e mais rapidamente forem aprovadas, mais robusta será nossa recuperação.
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