A Polen é a primeira startup de sustentabilidade do mercado a fazer toda a rastreabilidade dos resíduos em uma blockchain neutra em carbono. A empresa é comandada pelo CEO Renato Paquet. O trabalho que a startup faz impacta toda a cadeia de reciclagem no Brasil. Em 2020, a empresa teve um crescimento de 300% e agora, em 2021, quer triplicar este número com investimentos na realização e desenvolvimento de soluções de logística reversa para as empresas que geram resíduos através de suas embalagens, seu grande diferencial, tanto aqui no Brasil como nos 8 países em que eles atuam (Colômbia, Paraguai, Canadá, Portugal, Espanha, China, Chile e Tailândia). Desde 2019, quando lançou no mercado a solução de logística reversa de embalagens, que consiste na coleta e encaminhamento até a reciclagem de embalagens de produtos após a realização do descarte pelo consumidor final, a Polen já neutralizou mais de 12 mil toneladas de embalagens para indústrias de todos os setores. Além dos créditos de logística reversa, a Polen comercializa em sua plataforma de resíduos todos os tipos de materiais recicláveis, sendo os de maior volume os plásticos (pet) e metais (alumínio), com uma média mensal de quase 2.000 toneladas destes materiais. São cerca de quatro mil indústrias (e empresas) atendidas, com cases de sucesso que envolvem marcas como Kibon, Votorantim, Braskem, Natura, Papirus, Hortifruti, Ambev, Unilever, do Bem, Tetra Pak e Heineken.
Renato, como a sustentabilidade se tornou o seu norte de atuação?
A sustentabilidade entrou na minha vida muito cedo, pelo fato de eu ter passado toda a minha infância e parte da adolescência morando dentro de uma área de proteção ambiental, que é a Macaé de Cima, uma das maiores APAs de Mata Atlântica do nosso país. Experimentei todos os serviços sistêmicos ofertados por uma APA, ecoturismo, trilhas ecológicas e até parte da alimentação oriunda da produção local. Daí nasceu o meu desejo de trabalhar para que aquilo que eu vivenciava, na prática, fosse mantido, que pudesse continuar sendo conservado. Isso foi um dos motivos pelo qual decidi estudar ecologia na graduação, o primeiro passo do meu interesse pela sustentabilidade.
Ao longo da minha trajetória profissional percebi que a melhor conta a se fazer para mostrar para uma indústria a necessidade da conservação é provar que o retorno do investimento naquela conservação é maior que qualquer outro. Isso significa dizer, por exemplo, que o caminho do resíduo é uma conta simples: é mais barato você comprar uma tonelada de plástico por meio de um fardo de garrafa pet com o intuito de reciclar o resíduo, do que você explorar um poço de petróleo, extrair e refinar a matéria-prima, para só depois do processo todo chegar ao seu produto final que é a garrafa pet. Obviamente é mais barato você comprar esse resíduo plástico direto e começar a reciclar, pois, diminui a demanda por petróleo bruto na fabricação de novas garrafas pets.
Foi analisando essa demanda por reutilização de resíduos que a sustentabilidade se tornou o meu foco de atuação profissional. O desejo de trabalhar com a conservação, me levou para o mercado da economia circular. Toda vez que consumimos a tonelada de um determinado resíduo, necessariamente deixamos de explorar algum recurso ecossistêmico como fonte de matéria-prima virgem.
Como esse norte foi o grande impulsionador para criação da Polen?
A Polen surgiu depois das experiências que tive ao trabalhar no CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), onde criei estratégias de governança para sustentabilidade dos maiores grupos empresariais do Brasil, e na Firjan, com micro, pequenas e médias empresas. Percebi que havia uma dor em comum entre as indústrias e empresas: a dificuldade de encontrar soluções técnicas financeiramente viáveis para os resíduos gerados, que cumprissem todo o compliance necessário para as operações. Todo esse cenário foi um incentivo a criar a Polen.
O que faz a Polen ser valorizada e diferenciada no mercado em sua visão?
São duas razões principais, a primeira está relacionada à necessidade das empresas de cumprirem o que delibera a Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos. A Lei determina a reciclagem de ao menos 22% de todas as embalagens colocadas no mercado, esse processo de compensação de embalagens é chamado de logística reversa ou logística de reciclagem. E a Polen tem uma expertise em auxiliar indústrias e empresas nesse processo de realização e comprovação da logística reversa.
A segunda razão é a transparência e praticidade da nossa solução. Criamos uma solução inovadora para a compensação dessas embalagens, ou seja, encontramos uma maneira de comprovar a neutralização dessas embalagens no Meio Ambiente por meio da geração de créditos de reciclagem.
Como funciona? Utilizando a tecnologia blockchain, conseguimos registrar e rastrear as notas fiscais de compra e venda de resíduos sólidos gerados pelo nosso cliente. Por sua vez, o nosso cliente pode entrar na plataforma desenvolvida pela Polen, onde terá a chance de acompanhar o processo com transparência ao ter acesso não só ao volume de resíduos sólidos que a sua empresa está compensando, mas também a quantidade de créditos de reciclagem advindos deste processo de compensação de embalagens.
O mais legal disso tudo é que o consumidor final que é a ponta da cadeia da reciclagem, também consegue ter acesso aos detalhes desse processo de compensação ambiental quando ele escaneia o Selo Polen, que nada mais é do que um QR Code impresso no rótulo das embalagens produzidas pelos nossos clientes. Assim, ele tem a certeza que está consumindo um produto cuja embalagem será de fato reciclada e não mais uma descartada de forma inapropriada poluindo o Meio Ambiente.
Qual a importância social da Polen e que nunca foi falado em nenhum lugar?
A importância social do Polen está muito ligada à emancipação dos catadores de materiais recicláveis que fazem, o que acarreta melhoria da qualidade de vida deles por conta de uma remuneração mais justa e da profissionalização das cooperativas em si. Mas existe um lado do nosso trabalho que tem um impacto tão importante quanto, que é o da reciclagem intimamente relacionado à conservação ambiental. Por exemplo, a cada tonelada de resíduo plástico que reciclamos, uma determinada quantidade de petróleo deixa de ser extraída do fundo dos oceanos. A cada determinada quantidade de sucata ferrosa que reciclamos, uma determinada quantidade de minério de ferro não precisa ser explorada nas minas e assim por diante. Então, existe um trabalho muito forte da reciclagem em prol da conservação ambiental e pouco se fala sobre a reciclagem ser um instrumento de conservação da natureza e dos ecossistemas.
Como o trabalho da Polen impacta toda a cadeia de reciclagem no Brasil?
Quando uma empresa adere ao programa da Polen, ela não só neutraliza suas embalagens, mas passa a apoiar toda a rede de cooperativas de catadores de materiais recicláveis. Olhamos para a cadeia de reciclagem como um todo na busca da valorização dos materiais, dos resíduos, das embalagens pós-consumo e principalmente das pessoas e do trabalho realizado por elas, seja nas cooperativas ou nas ruas. O impacto para todos os agentes envolvidos na cadeia da reciclagem e contribui para sustentabilidade ambiental urbana das cidades onde atuamos.
Fale um pouco mais sobre o funcionamento da rastreabilidade dos resíduos em uma blockchain neutra de carbono.
A rastreabilidade dos resíduos em uma blockchain podem passar por diversas etapas e camadas. A primeira delas é a rastreabilidade logo no momento onde o resíduo é destinado a algum local para que seja recebido o tratamento. Na prática, significa passar com o caminhão da coleta seletiva, coleta o resíduo e destina a uma cooperativa ou uma central de tratamento que tenham cooperativas trabalhando, então, esse resíduo começa a ser separado lá. Esse primeiro elo é o que vai comprovar que um determinado resíduo recebido, foi reinserido na cadeia produtiva de novo, ou seja, ele deixou de ser um resíduo e passou a ser novamente uma matéria-prima. Como comprovar isso? A primeira medida para que algo seja considerado de novo na cadeia produtiva e tenha se tornado um produto é a nota fiscal. Então, rastreiamos a chegada desse resíduo até essa central de triagem ou essa cooperativa e começa a organizar as notas fiscais e os documentos comprobatórios acessórios a isso, como o manifesto de transporte de resíduos e o certificado de destinação final de resíduos, para comprovar a reinserção desse material. Temos esse primeiro elo de entrada comercializado por um aparista ou um terceirista, a partir daí vamos acompanhando essa rastreabilidade segundo o desejo do cliente. Em alguns casos, essa rastreabilidade vai até o produto final pronto para ser comercializado. Conseguimos fazer todo esse caminho através da blockchain.
E, por que a blockchain é interessante para se fazer isso? Porque ela permite que tenhamos todos os dados que comprovam essa rastreabilidade e uma base de dados descentralizada, do qual não é possível, por uma razão matemática, apagar qualquer dado ou alterar qualquer dado desta rastreabilidade, uma vez que a blockchain tem o controle direto sobre o seu próprio banco de dados.
Isso implica que todos os dados que estejam lá sejam estritamente verdadeiros ou acabam se configurando como uma potencial fraude no sistema. Isso permite com que abramos essas informações para que todos os steakholders interessados nessa transação, sejam clientes ou indústria, possam acessar e saber que de fato aquele material é oriundo de resíduos reciclados.
Por meio da blockchain não temos o trabalho de convencer ninguém sobre o que fazemos, uma vez que por meio dela é possível comprovar aquilo que é feito, assim, ganhando a confiança e a credibilidade de quem está consumindo aquele determinado material.
A logística reversa tem crescido no Brasil?
Sim, a logística reversa tem crescido no Brasil. É uma constante agora entre os estados e até mesmo municípios que estão regulamentando a logística reversa em seus territórios. Apesar de ser uma Lei Federal que deveria ser cumprida em todas as unidades da federação, ela ainda é pouco fiscalizada. O que acontece é que toda vez que um estado regulamenta, o seu órgão ambiental competente começa a atuar na fiscalização fazendo com que as empresas se obriguem a seguir o que está determinado na Lei desde 2017.
No Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso do Sul essa regulamentação já aconteceu e algumas capitais como Cuiabá e Manaus estão caminhando nessa direção. Isso faz com que cada vez mais partes do nosso território nacional tenha a fiscalização e a cobrança sobre o cumprimento da logística reversa de embalagens.
Empresas que não levarem a logística reversa em conta perderão mercado?
Com certeza a tendência é que essas empresas percam espaço no mercado, isso porque cada vez mais consumidores estão mais conscientes sobre o impacto dos resíduos no Meio Ambiente e cada vez mais informados sobre as ações que as marcas estão fazendo para minimizar esse impacto ambiental, como a própria logística reversa. Se esse consumidor tiver que escolher um produto de qualidade similar e que esteja na mesma faixa de preço, sendo que um neutraliza o impacto das embalagens e o outro não, esse consumidor tende a guiar sua decisão pela marca que tem a responsabilidade socioambiental. À medida que mais empresas forem adotando a logística reversa, certamente aquelas que não fazem perdem espaço no mercado.
Quantas indústrias a Polen atende atualmente?
Desde 2019, quando lançamos no mercado a solução de logística reversa de embalagens, a Polen já neutralizou mais de 12 mil toneladas de embalagens para indústrias de todos os setores. Já atuamos em conjunto com cerca de 4 mil indústrias.
Em quantos países?
Ao todo, já desenvolvemos operações com nove países, sendo Brasil, Colômbia, Paraguai, Canadá, Portugal, Espanha, China, Chile e Tailândia.
Em 2020, a empresa teve um crescimento de 300% e em 2021 a startup quer triplicar esse crescimento. Por onde passa essa ambição?
Nosso crescimento de 300% em 2020 fazia parte do nosso foco e a ambição em triplicar de tamanho este ano passa muito por como foi o primeiro trimestre de 2021, que nos surpreendeu. Se seguirmos o ritmo do primeiro semestre vamos crescer até mais de 300%, temos aí esse grande desafio pela frente. Para que isso aconteça, estamos fazendo muitos investimentos para que este crescimento todo seja sustentado e sustentável.
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