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Pondé diz que o intelecto é uma moeda sofisticada

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O filósofo, escritor e ensaísta pernambucano de origem judaica Luiz Felipe de Cerqueira e Silva Pondé, não tem medo de falar o que pensa. Seu livro “Guia Politicamente Incorreto da Filosofia” é um dos mais vendidos do país. Começou a carreira na medicina, graduando-se na Universidade Federal da Bahia. Depois cursou filosofia na Universidade de São Paulo e fez doutorado pela mesma instituição em parceria com a Universidade de Paris. A ideia e a filosofia de Pondé baseiam-se num certo pessimismo, na valorização das tradições religiosas ocidentais e no combate ao pensamento politicamente correto nos meios universitários. Alguns afirmam que ele é uma das grandes revelações do pensamento “conservador” nos últimos 10 anos no Brasil. Escreve semanalmente no jornal Folha de S.Paulo e é autor de diversas obras. “Não acredito propriamente em Deus, digo no meu livro “Contra um mundo melhor” que permaneço filosoficamente ateu. Este tema é mais complexo do que falar de sexo. Às vezes percebo uma beleza e generosidade no mundo que me encanta, e por isso passei a estudar Mística Clássica. Cresci num ambiente ateu e secular. A escola jesuíta em que estudei nunca me obrigou a ser religioso. (…) Há muito de verniz sim. Mas a cultura e a academia são de esquerda, principalmente porque não há muito dinheiro nisso. Pode-se brincar”, afirma o controverso filósofo.

Falar o que pensa no Brasil de hoje é sinônimo de polêmica?

Não mentir na vida acadêmica é raro. Fala-se em bando o tempo todo.

Quando uma pessoa diz que é de direita logo é demonizado. O Brasil é um país de esquerda ou tudo isso não passa de um simples “verniz” social?

Há muito de verniz sim. Mas a cultura e a academia são de esquerda, principalmente porque não há muito dinheiro nisso. Pode-se brincar.

Nos fale como é ser ateu num país onde crer em Deus é quase uma obrigação passada de pai para filho.

Não acredito propriamente em Deus, digo no meu livro “Contra Um Mundo Melhor” que permaneço filosoficamente ateu. Este tema é mais complexo do que falar de sexo. Às vezes percebo uma beleza e generosidade no mundo que me encanta, e por isso passei a estudar Mística Clássica. Cresci num ambiente ateu e secular. A escola jesuíta em que estudei nunca me obrigou a ser religioso. Acho ser ateu a posição mais fácil em Filosofia. O conceito de Deus é muito elegante.

A Igreja Católica vem perdendo muitos fiéis no país, principalmente para as igrejas evangélicas chamadas de neopentecostais, que batem incessantemente na tecla da “Teologia da Prosperidade”. Você acredita que se a igreja romana tradicional conseguisse de algum modo se unir com a chamada “Teologia da Libertação”, esse quadro mudaria?

A Teologia da Libertação continua sendo importante na igreja, basta aliviar o seu caráter marxista e ela estará bem em Roma, veja o novo papa. Perder fiéis para os evangélicos, têm mais a ver com a competência cotidiana em gestão. A Igreja Católica é lenta, burocrática e centralizada.

Até que ponto a liberdade sexual é prejudicial em nossa sociedade?

A relação sexual fora a pílula e o Viagra é mais marketing. As pessoas continuam cuidadosas em sexo quando afetos e vínculos estão em questão. Muita liberdade sexual é bastante prejudicial, porque deixa todo mundo broxa e sem interesse.

Antigamente quando um garoto era chamado de gordo na escola, resolvia a questão ou levando na esportiva ou até mesmo brigando. Hoje em dia isso é interpretado como bullying. Não estamos criando pessoas muito superprotegidas atualmente e que terão dificuldades de sobrevivência num futuro próximo?

Sim, o mundo estará insuportável em 50 anos.

Quando se tem um produto muito sofisticado na mídia, há poucos leitores ou mesmo telespectadores querendo usufruir destas informações. Você acredita ser possível criar um veículo de comunicação ou mesmo programas para a grande massa sem cair na mediocridade?

Difícil, mas louvável a tentativa. Acho mais interessante pensar em programas que falem a sério com as pessoas e as tratem como adultos. Acho que ser tratado como adulto está além do problema de ser ou não ser de massa.

Você diz que o mundo acadêmico nacional, tem inveja de quem está na academia e consegue fazer sucesso na mídia. É muito comum grandes antropólogos, filósofos e sociólogos escreverem para grandes jornais na Europa e nos EUA. Neste ponto, não somos muito provincianos ainda com essa mentalidade?

Com certeza, inveja de pobre.

Quando você disse no ano passado a frase “mulher gosta de dinheiro” deu o que falar. Acredita que esse choque se é que podemos dizer assim, ocorreu porquê a nossa sociedade é hipócrita?

Sim e por culpa do feminismo. Mulher gosta de dinheiro porque dinheiro é segurança, experiência, poder e condições de vida. Homem também gosta de dinheiro, mas ele está acostumado a pensar que se gosta da mulher por causa do dinheiro dela, ele é canalha. Já as mulheres associam carinhosamente dinheiro as qualidades de ação do homem.

Em uma certa ocasião, você também já disse que as mulheres gostam do intelecto masculino. Por que então o mundo vende que para você conquistá-las, é preciso ter o melhor carro, o melhor emprego, a melhor casa…

Intelecto é uma moeda sofisticada, mulheres que circulam no meio acadêmico e da mídia, erotizam o intelecto masculino. Se ela não gosta de ler e de pensar, ficará mais presa ao carro coreano.

Qual a sua reação quando lê comentários lhe chamando de elitista?

Dou risada se estou de bom humor; chamo-o de caro idiota se estou de mau humor, mas sempre concluo que ele é um pobre coitado sem repertório e vítima de preconceitos intelectuais. Normalmente quem me chama de elitista, é ele sim um elitista.

A democracia não corre perigo quando um político se torna maior que o próprio partido?

Sim, veja o caso do Lula.

O que mais te irrita ultimamente: um lugar barulhento ou ser chamado de “Bono Vox da Filosofia?”.

[Risos.] Não ligo que me chamem de Bono Vox da Filosofia. Se for por ser pop tudo bem, politicamente estou muito longe do Bono Vox e de suas fotos de crianças africanas. Lugares sempre me aborreceram, não gosto de festas, não por razões morais, mas estéticas.


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