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Rene Silva quer dar valor aos projetos sociais

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Aos 11 anos, o jovem empreendedor carioca Rene Silva Santos, resolveu criar, ainda na escola, um jornal – “Voz das Comunidades” – sobre a realidade em que vivia e começou a distribuí-lo, pelo Complexo do Alemão. Mesmo com um início difícil, Rene conseguiu, com o tempo, o seu maior objetivo: dar voz a comunidade. Sabendo do alcance que poderia ter, em 2009, criou uma conta no Twitter para divulgar notícias do bairro a leitores de fora e, graças à cobertura que realizou durante a ocupação do morro pela polícia do Rio de Janeiro, seu trabalho tomou novo rumo. Em novembro daquele ano, antes da operação, o perfil @vozdacomunidade era seguido por 180 usuários – hoje, mais de 170 mil pessoas acompanham o cotidiano no Alemão. O seu perfil pessoal (@Rene_ Silva_ RJ) é seguido por mais de 90 mil pessoas. “Nosso trabalho consiste em mostrar os diversos problemas sociais que existem nas comunidades. Depois desta premiação, tivemos um alcance e respeito maior na sociedade. Nunca imaginei que através do “Voz das Comunidades” eu pudesse conhecer outros países pelo mundo afora. Desde então não paramos mais… Realizamos encontros dentro das comunidades pra debater assuntos relevantes pra que possam mudar a vida das pessoas que vivem em lugares mais pobres. (…) Não tenho dúvidas que depois da ocupação feita pela polícia aqui no Complexo do Alemão, minha vida mudou muito”, afirma. 

Rene, em 2011 você foi eleito o melhor produtor de conteúdo no quesito inovação, pela Shorty Awards, que é considerado o “Oscar” do Twitter pelo jornal The New York Times. Depois de três anos, quais foram as principais conquistas efetivas que você destacaria do jornal criado por você, o “Voz das Comunidades?”.

Nosso trabalho consiste em mostrar os diversos problemas sociais que existem nas comunidades. Depois desta premiação, tivemos um alcance e respeito maior na sociedade. Nunca imaginei que através do “Voz das Comunidades” eu pudesse conhecer outros países pelo mundo afora. Desde então não paramos mais… Realizamos encontros dentro das comunidades pra debater assuntos relevantes pra que possam mudar a vida das pessoas que vivem em lugares mais pobres. Hoje, chegamos todo mês na casa de 10 mil pessoas através do jornal impresso que é distribuído de porta em porta no Complexo do Alemão.

Como você vê o tratamento dado pelos grandes veículos de comunicação às comunidades do nosso país?

Venho acompanhando um crescimento muito grande das mídias falando das favelas do Brasil, principalmente no Rio de Janeiro. Percebo que ainda tem um certo receio para mostrar que os moradores de favelas são grandes artistas, produtores e intelectuais também.

Podemos dizer que o divisor de águas em sua vida pessoal e profissional, foi o dia da ocupação do Complexo do Alemão pela polícia. Quando você teve a noção que as suas twittadas tiveram um impacto maior do que você poderia imaginar?

Sim, com certeza. Não tenho dúvidas que depois da ocupação feita pela polícia aqui no Complexo do Alemão, minha vida mudou muito. Nunca imaginei que isso fosse acontecer, até porque não era minha pretensão. Eu só queria mesmo era mostrar o que estava acontecendo na comunidade e tentar resolver os problemas sociais, mas as coisas foram acontecendo naturalmente. Talvez se eu tivesse em busca disso tudo, nada aconteceria.

Vamos falar um pouco de empreendedorismo. Qual a sua visão do empreendedorismo no Brasil, já que hoje é considerado um dos principais empreendedores sociais do nosso país?

Minha visão é que cada vez mais as pessoas querem ter seu negócio. Cada dia que se passa, as pessoas estão abrindo os olhos para as oportunidades. Eu não deixo nenhuma escapar, acredito que podemos fazer o que queremos e sonhar o quanto quisermos. Muita gente tem medo de criar um negócio, tem medo do mercado, do público, mas tem que ter coragem, enfrentar e seguir em frente porque obstáculos são feitos para superarmos.

No ano passado você esteve palestrando em Harvard. Nessa ocasião você afirmou que estaria trazendo muitas ideias de lá para o nosso país. O que mais te chamou a atenção na forma dos norte-americanos pensarem empreendedorismo, tecnologia e sociedade?

Me chamou muita atenção a importância que tem para as pessoas que fazem o bom uso das redes sociais. Aprendi muito em Harvard, conversando com alguns alunos, que a gente deve pensar alto. Essa junção de empreendedorismo, tecnologia e sociedade é muito boa, pois, faz com que a sociedade participe da construção de valores.

Você afirmou que o tráfico de drogas não vai acabar em nenhum lugar do mundo. O que você imagina, que a sociedade de modo geral, deve fazer para atrair jovens que são perdidos para o tráfico ano após ano?

Eu sempre falo que precisamos dar valor aos projetos sociais. Os jovens que estão no tráfico, na maioria das vezes não tiveram uma oportunidade de conhecer outras culturas ou até mesmo precisam ganhar um dinheiro rápido. Muitos têm dificuldade de lidar com situações de violência e isso faz com que eles entrem pra se vingar de alguma situação também.

Millôr Fernandes em uma entrevista há alguns anos, disse que única saída para a nossa imprensa que ele considerava canalha, eram os jornais alternativos, pois, estes teriam mais força junto a população podendo até resolver problemas básicos. Se puder, nos fale de um caso que o Voz das Comunidades teve esse papel.

O Voz das Comunidades nasceu justamente por esta necessidade. Eu, quando aos 11 anos estudava na Escola Municipal Alcide de Gasperi, percebi que os grandes jornais não mostravam esses problemas básicos que deviam ser cobrados para os órgãos competentes resolverem. Então foi quando comecei com o Voz das Comunidades pra mostrar os problemas sociais que a mídia grande não mostrava e dar destaque também aos grandes artistas que nela existem.

Acredita que as UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora) estão desempenhando um bom papel?

O processo de pacificação não se dá da noite pro dia, a paz não vai chegar em 2, 3 anos… É um processo demorado de construção que deve contar com apoio da comunidade para que seja sucesso. Ainda tem muito o que ajustar neste projeto, principalmente a maneira que os policiais abordam as pessoas civis. Percebo que não há uma certa formação e eles acabam agindo de forma equivocada.

Quando o renomado cineasta norte-americano Spike Lee esteve no Brasil, ele disse ter ficado chocado com a pouca quantidade de negros no poder. O que você acredita que deve ser feito para termos uma participação mais efetiva da raça negra no mundo político, econômico e intelectual do nosso país?

Na época das eleições do ano passado, publiquei no meu face sobre a participação de negros e jovens no mundo político. Acredito que estamos caminhando para que isso aconteça, mas não será da noite pro dia…

Muitos dizem que o Brasil é o país do futuro, já você diz que o futuro já começou. Em que pontos podemos, ou melhor, em que camadas da sociedade podemos ver esse país vanguardista?

O futuro que muitos falavam lá atrás está sendo agora, é o nosso presente. Então, devemos fazer nossa parte na sociedade. Todo mundo tem um papel de cidadão que muitas vezes acaba não cumprindo. Precisamos de uma sociedade mais justa, mas pra isso é preciso que a gente cumpra com nossos deveres e não fiquemos apenas em busca dos direitos.

Como enxerga o Voz das Comunidades nos próximos anos?

Eu acredito que nos próximos anos a gente possa ter outras iniciativas como essa em diversas favelas do Brasil. Precisamos fazer com que as pessoas produzam conteúdo de seus bairros, suas comunidades. Precisamos ser vistos, para sermos lembrados.


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