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ReactorModel trabalha com indústria química

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Com os recentes avanços nas áreas de software (Inteligência Artificial e métodos de aprendizado de máquina) e hardware (Internet das Coisas, uso de placas gráficas ou sensoriais para processamento de grandes quantidades de dados), surge uma grande corrida para se capturar os benefícios dessas tecnologias emergentes no segmento industrial. É nesse cenário que nasceu a startup ReactorModel, dentro da Universidade de São Paulo, que conta com o prestigiado selo DNA USP, e se encontra atualmente incubada no CIETEC Ipen/USP. A empresa foi criada para oferecer ao mercado uma solução completa para a indústria química, desde a síntese de polímeros até o desenvolvimento de composições otimizadas, entregue em uma plataforma completa de formulação. Para isso, desenvolveu algoritmos proprietários que permitem a otimização na área química, como indústria de tintas, adesivos, HPC e outras. A startup foi fundada por Antonio Intini, profissional que atuou em pesquisa e desenvolvimento (P&D) na indústria de tintas por mais de 20 anos, e com a conclusão do mestrado em engenharia química em 2019, decidiu criar uma empresa de desenvolvimento de software para P&D, aplicado à indústria química. Posteriormente, o doutor em engenharia química, Eduardo Funcia, que também tem passagem na indústria de tintas, se associou à ReactorModel. A startup deverá atingir um total de oito pessoas até o meio do ano.

Antonio, o que você trouxe dos seus 20 anos na indústria de tintas para a ReactorModel?

Atuei nestes 20 anos integralmente em laboratórios de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Iniciei como estagiário, e fui progredindo na carreira até atingir o cargo de gerente de P&D de uma empresa multinacional. Isto me permitiu vivenciar as dores da P&D na indústria química, sendo a principal delas a baixa capacidade preditiva dos processos de desenvolvimento. No estado atual, formulações são desenvolvidas por um misto de experiência técnica do formulador e tentativa-e-erro por meio da execução de testes em bancada. Nesta minha passagem pela indústria, tive a oportunidade de ser o responsável pela implementação de quatro softwares de formulação, o que também me deu uma visão geral sobre as plataformas existentes e suas deficiências. Foi com todo este histórico que decidi por empreender e desenvolver uma nova ferramenta de formulação que entregue tudo aquilo que eu necessitava quando estava em um laboratório.

A criação da ReactorModel passa por quais caminhos?

Em 2016, decidi me preparar tecnicamente, focando em meu mestrado de engenharia química na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Foram três anos desenvolvendo modelos de polimerização acrílica, uma das principais aplicações das indústrias de tintas e adesivos, dentre outras. Após a defesa, em 2019, iniciei conversas com contatos da indústria, que demonstraram interessem em soluções de software para formulação. Ainda nesse ano, participei de um congresso da AIChE nos EUA, onde, além de apresentar meu trabalho, pude acompanhar a explosão do uso de aplicações de Inteligência Artificial na engenharia química. Neste momento, entendi que esta tecnologia me auxiliaria na solução de alguns problemas clássicos da modelagem, e nesse momento ficou claro o caminho que deveríamos seguir.

Quais os grandes desafios que estiveram e que estão presentes nesse caminho?

Um dos principais desafios para qualquer startup é a questão de financiamento. Para criar esta empresa, fiz um aporte financeiro pessoal, e atualmente atuamos apenas com recursos próprios. Recentemente, fomos aprovados pela FAPESP para captação de recursos para o desenvolvimento da tecnologia de Inteligência Artificial. Ainda assim, continuamos buscando ativamente por investidores, tendo em vistas a aceleração da execução do plano de negócios. Uma outra dificuldade é a retenção de pessoas. Por sermos uma empresa pequena, temos uma grande dificuldade de equiparar nossas ofertas com as de empresas grandes e já estabelecidas. Tentamos então compensar, por meio da promoção de um ambiente com bastante autonomia e reconhecimento para as pessoas, bem como a oportunidade de crescimento com a empresa. Uma última dificuldade, que é válido mencionar, é a atual pandemia da Covid-19, que tem restringido nossas possibilidades de trabalho presencial, e tem, também, causado problemas em alguns setores da indústria, reduzindo sua capacidade de investimentos.

O que norteia a startup?

Sem dúvidas, o cliente. Tivemos a oportunidade de conversar com alguns dos principais fabricantes de tintas do Brasil, onde buscamos validar nossa oferta desde o início da startup. Conforme avançamos com os desenvolvimentos, buscamos efetuar testes e demonstrações com estes clientes, que nos retornaram com sugestões muito valiosas. Também descobrimos necessidades específicas de alguns mercados, bem como uma necessidade patente em algumas determinadas tecnologias de polímeros. Tudo isto é capturado em nosso plano de desenvolvimento, e priorizado conforme a importância para o mercado. Gostaria de ressaltar também a excelente mentoria que temos recebido da Racz, Yamaga e Associados, bem como do Instituto de Mentoria e Performance (IMP). É muito gratificante contar com pessoas experientes, tanto na questão do mercado quanto da gestão de uma startup nascente, nesta jornada de construção de um negócio. Acredito que não teríamos avançado tanto se não fosse por este apoio fundamental de nossos mentores.

Quais soluções que a empresa traz para o mercado em que atua?

Oferecemos uma plataforma de formulação dentro do conceito de Indústria 4.0, ou seja, uma ferramenta digital que permita ganhos de produtividade nos laboratórios de P&D. Buscamos tornar o processo de P&D cada vez mais ágil, o que permitirá que nossos clientes possam lançar produtos mais rapidamente, reduzir os custos de suas formulações conforme variações de preços de matérias-primas, ou mesmo ajustá-las para melhoria da sustentabilidade intrínseca de seus produtos.

E quais são os seus grandes diferenciais?

Nossa plataforma, ao contrário dos concorrentes, possui um componente de especialização técnica, por meio do uso de modelos avançados da engenharia química, aliados com o uso de inteligência artificial e aprendizado de máquina. Entregamos não apenas uma plataforma digital, mas também um novo processo de P&D, modificando o paradigma até então existente. Buscamos, também, com este novo processo, aumentar a retenção do conhecimento produzido nos laboratórios. Isto permitirá a difusão deste conhecimento para todos os formuladores, aumentando sua eficiência no processo como um todo.

Como a inovação tem moldado a ReactorModel?

Inovação é o nosso diferencial. Entendemos que apenas teremos chances de crescimento no mercado se oferecermos ferramentas que ultrapassem as soluções existentes no mercado e que entreguem aquilo que nossos clientes necessitam. Para isso, desenvolvemos propriedade intelectual própria, inclusive algumas com potencial de patenteabilidade. Buscamos também nos inserir no ecossistema de inovação no Brasil, que é bastante forte. Estamos incubados na USP/IPEN CIETEC, que nos provê grande parte da infraestrutura necessária para nossas atividades. Somos uma empresa DNA USP, que é um selo que ressalta esta conexão com a principal universidade do país. Temos, inclusive, a participação de uma professora da universidade como pesquisadora associada no projeto da FAPESP. Também buscamos desenvolver opções, tais como os programas de inovação da EMBRAPII. Com tudo isso, buscamos obter esta diferenciação em relação aos nossos concorrentes, e oferecer o que há de mais avançado em tecnologia de formulação de produtos.

A aplicação da Inteligência Artificial traz quais vantagens para os negócios relacionados a essa indústria?

Esta é uma pergunta bastante frequente em nossas conversas com nossos clientes, e também bastante difícil de ser respondida com um número preciso. Existem estudos que falam sobre ganhos da ordem de 40-50% de produtividade com o uso de ferramentas de digitalização em laboratórios. Acreditamos que este número, no longo prazo, conforme o banco de dados da empresa vá sendo construído, deve ser maior que isso. E os ganhos não se limitam apenas à produtividade: é preciso considerar os ganhos de antecipação de receitas de um novo produto, os ganhos com reduções de custos, os ganhos com a retenção de conhecimento (o que permite à empresa uma maior facilidade para a contratação de novos funcionários). Estes ganhos vão estar diretamente relacionados com o tipo de formulação envolvida: valor agregado do produto, variedade de matérias-primas disponíveis para uma mesma formulação, etc. O ideal é se analisar caso a caso, considerando as particularidades de cada segmento.

Fale um pouco mais sobre o software da ReactorModel.

Trata-se de uma plataforma de formulação desenvolvida em ambiente web, o que facilita a manutenção do sistema (não há a necessidade de instalar ou atualizar cada computador individualmente). Diferentemente de outras soluções, a nossa plataforma é mantida dentro de servidores do próprio cliente. Entendemos que o sigilo das formulações é crítico para nossos clientes, e por este motivo, escolhemos esta solução ao invés de uma solução em cloud. Com isso, nem mesmo nós da ReactorModel possuímos acesso ao banco de formulações de nossos clientes.

Um dos compromissos da Reactor é aumentar a competitividade dos seus clientes. Como as soluções da startup estão sendo cruciais para esse intento?

As grandes vantagens das startups são a agilidade e a especialização. Por trabalharmos com estruturas enxutas, sem grandes hierarquias, conseguimos garantir uma comunicação muito rápida dentro da equipe. Com isso, conseguimos entregar soluções que, muitas vezes, estavam completamente fora do radar de nossos clientes. As grandes empresas já perceberam isso, e por este motivo, temos diversos programas de startups sendo realizados por algumas delas, e temos utilizado estes canais para nos aproximarmos delas.

O que a empresa vislumbra para 2021?

O ano de 2021 será de crescimento e de divulgação no mercado de tintas. Entregaremos novos produtos ao decorrer do ano, e em particular, no setor de tintas, teremos o congresso setorial da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas – ABRAFATI. Queremos utilizar esta oportunidade para alcançar o maior público possível. Também estamos atuando para implementar um plano de comunicação digital, extremamente necessário nestes tempos de pandemia e de difícil acesso presencial junto aos clientes. Também estamos avaliando setores análogos, que lidam com composições. Tivemos contatos com possíveis clientes nas áreas de adesivos e selantes, bem como cosméticos. Queremos ser a primeira escolha de solução de P&D para a indústria química como um todo, e para isso, o sucesso de nossos clientes será o principal motor de viabilização desta nossa visão.


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