Ricardo Vignini é violeiro, compositor, professor de música, produtor fonográfico e cultural. Também atua como pesquisador de música tradicional. Começou integrando a banda de rock e blues Cheap Tequila como guitarrista na capital paulista (ainda adolescente). Toca na banda Matuto Moderno desde 2002, que mistura música caipira com rock. Já acompanhou os músicos americanos Bob Brozman e Woody Mann em suas turnês brasileiras. Produziu CDs e um DVD do cantor Índio Cachoeira. Também produziu o CD Moço das Estrelas, de Costa Senna. Em 2004 produziu o álbum “Música Raiz, Catira e Folia de Reis”, de Os Favoritos da Catira, Os Mensageiros de Santos Reis e Oliveira e Olivaldo. Como curador e diretor musical, realizou o projeto “Do Velho Chico ao Mississipi”, em 2006. O festival foi premiado pela Revista Bravo, como um dos 100 mais importantes do Brasil em 8 anos. Lançou e produziu o CD “Moda de Rock – Viola Extrema”, uma parceria sua com o violeiro Zé Helder. Este projeto trouxe regravações de clássicos do rock internacional, adaptados para viola caipira. No mesmo ano, realizou, com o mesmo Zé Helder, uma turnê pela Europa do projeto “Moda de Rock”. Com o mesmo projeto, já haviam realizado turnê pelo Brasil e pelos EUA. “Sentia falta de fazer novamente um álbum autoral instrumental, fui chamando alguns amigos, e as músicas também me remetem a lugares por onde passei”, afirma o músico.
Ricardo, você é violeiro, compositor, professor de música e produtor. Onde acredita que sua expressão torna-se total quando está atuando nessas várias atividades descritas?
Penso que no palco, tudo o que eu sempre fiz foi para estar no palco, ali é minha casa, onde eu realmente me sinto a vontade.
A música deve ter um papel social?
A música é meu oxigênio, vivo dela faz 25 anos. Dou graças a Deus por ter caído nesse caminho. Hoje com o fim do emprego formal, vejo as pessoas passando por dificuldades que pra mim sempre existiram. Aprendi o que é política com a música!
Você também é pesquisador de música tradicional. Como é o seu trabalho nessa área?
No começo do Matuto Moderno viajávamos muito para conhecer as folias de reis, catiras, danças de São Gonçalo, manifestações tradicionais onde encontramos a viola. Com o passar dos anos fui convivendo com o violeiro Índio Cachoeira, com o pessoal dos Favoritos da Catira e com Os Mensageiros de Santos Reis por intermédio do Edson Fontes que também faz parte do Matuto Moderno. Essa coisa de pesquisa se transformou em tomar um café e uma linguinha com esse povo.
Críticos dizem que você trouxe uma abordagem original ao mundo dos instrumentos de cordas. Como você definiria essa originalidade?
Olha, demora muito tempo para descobrirmos o nosso caminho, o que realmente gostamos de fazer e tocar. Acredito que esse meu jeito acabou vindo pelo fato de não negar as influências do rock que tive na infância e adolescência. Sendo assim, acabei criando um jeito de tocar meio vira-lata.
Você transita bem entre o rock e a música caipira. Quais as principais similaridades que você encontra nos dois estilos?
A música de viola caipira talvez seja a sonoridade que mais se assemelha com o blues… As histórias, as lendas e a própria afinação do instrumento, que é a mesma utilizada pelo blues americano. As duas músicas também têm uma energia forte com origem no campo.
A música é um processo inacabável em sua concepção?
Com certeza, é um bicho correndo atrás do rabo… Primeiro tem o esforço para imprimir as suas ideias no disco, e depois pra tocar o que você gravou ao vivo.
O que um músico que leva sua arte de uma forma criteriosa e extremamente profissional, não pode perder jamais?
O tesão de tocar! Essa foi talvez uma das maiores lições que aprendi quando toquei com o Pepeu Gomes, que é manter de alguma forma a criança dentro da gente.
Você toca na banda “Matuto Moderno” desde 2002. Como foi a sua entrada e o que você acredita ser o grande diferencial da banda?
Eu e o Marcelo Berzotti fomos os fundadores em 1999 do Matuto Moderno. Começamos em uma época que não tinham muitos artistas com essa fusão de música de viola com outros universos. Hoje é gratificante ver tanta gente fazendo histórias diferentes com a viola, além de uma geração mais nova dizendo que escutou bastante a gente.
Em sua carreira, você dividiu o palco com grandes nomes. Gostaria que relembrasse dois momentos em especial, que foram com Almir Sater e Woody Mann.
Prefiro falar do Lenine e do Woody Mann. O Lenine me convidou para gravar a música Castanho do seu CD Carbono, logo depois me levou para o Rock in Rio em 2015, o que fez que se abrissem muitas portas e que eu passasse a ser conhecido por muitas pessoas que nunca tinham ouvido falar de mim e do meu trabalho, mesmo já tendo 11 CDs lançados nessa época. O Woody Mann é um grande músico especialista na Cultura Americana. Fizemos cerca de uns 8 shows juntos, foi bacana pra mim poder trocar essas experiências com o som de outras culturas, e claro, além de mostrar a viola pra ele também.
Poderia falar como foi gravar o álbum “Rebento?”.
Meu último CD solo o “Na Zoada do Arame” saiu em 2010. Sentia falta de fazer novamente um álbum autoral instrumental. Fui chamando alguns amigos, e as músicas também me remetem a lugares por onde passei. Fui gravando e quando vi o álbum estava pronto, um rebento.
O poeta francês Paul Claudel, definiu a música como a alma da geometria. Como você definiria a música e em especial a música que você faz?
Esses dias fazendo um show desse repertório uma pessoa me disse no final do show: “Sua música tem uma energia boa”. Julgo que é isso que busco… Conseguindo isso já estou feliz.
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