Roberto Padovani é formado em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e em Economia, pela Universidade de São Paulo (USP). Fez mestrado em Economia, na FGV. É economista do banco Votorantim desde 2011 (atuando agora como economista-chefe). Atuou como estrategista para a América Latina do banco WestLB por cinco anos e foi sócio da Tendências Consultoria Integrada por dez anos. Também atuou como assessor do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e acompanhou de perto a elaboração e implementação do Plano Real, em 1994. “Há várias preocupações, mas três em particular precisam ser acompanhadas com atenção. A primeira é o fato de a euforia nos mercados poder ter produzido bolhas. Após quase uma década de intensos estímulos monetários, é possível que haja exageros. Neste caso, um segundo ponto de atenção é a alta de juros nos Estados Unidos e a redução da liquidez, que podem gerar turbulências importantes. Neste ambiente, finalmente, há uma volatilidade geopolítica inédita: sem lideranças globais capazes de coordenar conflitos, as incertezas têm se elevado de modo importante. (…) No curto prazo, o país precisa controlar a dívida pública e resgatar sua classificação de grau de investimento. A médio prazo, é preciso uma economia robusta e que gere negócios”, afirma o renomado economista.
Roberto, no ano passado o senhor afirmou que os investimentos iriam retornar. Já vê algum sinal que isso se concretizará fortemente em breve de uma forma mais visível?
Sim. A produção de máquinas e equipamentos têm mostrado um desempenho mais favorável, revertendo a trajetória de queda a partir de 2017. Note, no entanto, que os investimentos só ganharão fôlego mais claro quando a economia estiver a plena capacidade e os investimentos em infraestrutura ganharem tração, o que pode acontecer mais para frente, em 2019 e 2020.
A confiança na economia já está sendo resgatada?
Claramente. Os indicadores de confiança de consumidores e empresários seguem em trajetória de alta, ainda que a avaliação da situação corrente mostre alguma preocupação.
Economistas disseram que 2016 e 2017 seriam anos de ajustes com um remédio amargo. Em 2018, o Brasil deve decolar novamente ou prevê oscilações?
A retomada já está dada. Famílias com poucas dívidas, inflação baixa e fortes estímulos monetários garantem a recuperação do consumo. A discussão está no ritmo deste crescimento, mas não na direção. Neste caso, os próximos anos tendem a ser substancialmente melhores que os últimos.
Neste momento a crise política está descolada da economia na sua percepção?
Historicamente, é difícil separar política e economia. O que tem acontecido é que as turbulências políticas têm gerado efeito moderado sobre os mercados financeiros e a economia em virtude de um quadro externo atipicamente favorável. Mudando o humor fora do país, no entanto, a política deve voltar a pesar mais.
Existe algo no cenário externo que preocupa o Brasil num curto prazo?
Há várias preocupações, mas três em particular precisam ser acompanhadas com atenção. A primeira é o fato de a euforia nos mercados poder ter produzido bolhas. Após quase uma década de intensos estímulos monetários, é possível que haja exageros. Neste caso, um segundo ponto de atenção é a alta de juros nos Estados Unidos e a redução da liquidez, que podem gerar turbulências importantes. Neste ambiente, finalmente, há uma volatilidade geopolítica inédita: sem lideranças globais capazes de coordenar conflitos, as incertezas têm se elevado de modo importante.
O pragmatismo dos investidores locais ainda persiste?
Investidores são sempre pragmáticos. Mas com o aumento das incertezas globais e domésticas, é possível que haja a partir de agora maior cautela.
O ajuste fiscal tornou-se indispensável?
O ajuste fiscal é necessário para evitar uma trajetória de alta contínua da dívida pública. O problema deste momento é que este ajuste depende menos de aumento de receitas e despesas discricionárias e mais da redução de despesas obrigatórios, como pessoal e aposentadorias. Trata-se, portanto, de uma revisão do tamanho do Estado.
Por que o senhor acredita que houve tanto descaso com a meta de inflação no Governo anterior?
Há um padrão latino-americano que relaciona escolhas de políticas públicas e ciclos de commodities. Quando há crescimento global e a economia local avança, o fato de sermos uma região pobre e carente gera, naturalmente, uma alta ansiedade por distribuição de renda, o que estimula políticas populistas e pouco responsáveis.
Qual o peso e os reflexos da Operação Lava Jato na atual situação do emprego no Brasil?
A Operação Lava Jato reforçou uma irritação da sociedade com a administração do Estado. Não apenas a recessão é vista como fruto de má gestão, mas a corrupção e o colapso dos serviços públicos geram maior tensão política e desejo de mudança. Esta instabilidade não é bom para os negócios, que se tornam menos previsíveis. Com isso, o ritmo de recuperação de emprego se reduz.
Quais são as principais condições de um investidor externo para voltar a investir no Brasil?
No curto prazo, o país precisa controlar a dívida pública e resgatar sua classificação de grau de investimento. A médio prazo, é preciso uma economia robusta e que gere negócios.
Pelo andar da carruagem, poderemos em um futuro próximo sonhar com um PIB maior que 0,5%?
Tudo indica que o crescimento deste e dos próximos anos irá superar 1,8%. O que não é difícil, dados os níveis extremante baixos de produção e vendas.
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