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Rodrigo Almeida fala sobre a intuição no design

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Rodrigo Almeida é um dos mais destacados nomes da nova geração de designers brasileiros, com um trabalho que reflete a miscigenação que caracteriza a cultura nacional. Nascido em Sorocaba e com raízes baianas, Rodrigo Almeida rompeu todas as fronteiras e conquistou o disputado espaço no mercado internacional. Em seu currículo, exposições individuais em galerias como FAT Galerie de Paris, e Patricia Dorfmann em Milão. Segundo os irmãos Campana, Rodrigo quando participou do workshop de verão que eles dão anualmente na França, desde o início não parecia um aluno e sim um mestre. De obras de arte às peças de mobiliário e utilitários até moda e acessórios, Rodrigo trafega por todos os segmentos. O artista ainda possui peças que integram coleções permanentes, como a do Centre Georges Pompidou na França e a do Museu das Culturas Brasileiras, em São Paulo. Com originalidade, versatilidade e talento único, o artista vem traçando uma trajetória que o coloca entre os grandes não apenas em nosso país. “Nunca ouvi uma criança dizer que gostaria de ser designer quando crescer e no meu caso não foi diferente. Desde sempre fui muito ligado as artes, especialmente a pintura e tive uma breve passagem pela moda. (…) O designer de produto é um profissional novo no mercado, aliás, a cultura de projeto é também bastante nova no que se refere aos códigos do que hoje chamamos de Design.”

Uma frase do designer Fernando Campana sobre você: “Rodrigo é um exemplar seguidor dos nossos conceitos de brasilidade”. Como você classificaria essa brasilidade em seu trabalho?

O trabalho dos Campana, a meu ver, é tão importante que os conceitos de brasilidade criados por eles definiram o Design brasileiro contemporâneo. Através do trabalho deles pela primeira vez se condensou em objetos o que seria de fato um objeto brasileiro. Para mim essa consideração feita pelo Fernando Campana é motivo de orgulho. Falar de design brasileiro é discorrer sobre uma linguagem que ainda esta sendo inventada, o que seria uma cadeira Afro-brasileira ou Nipo-brasileira? Esses objetos não existem de fato, mas precisam ser criados, e isso leva tempo e muita reflexão. No meu caso parti para uma pesquisa, um laboratório experimental onde pude criar uma linguagem que pudesse ser aplicada aos objetos.

Como se deu o começo de sua carreira no mundo do Design?

O designer de produto é um profissional novo no mercado, aliás, a cultura de projeto é também bastante nova no que se refere aos códigos do que hoje chamamos de Design. Nunca ouvi uma criança dizer que gostaria de ser designer quando crescer e no meu caso não foi diferente. Desde sempre fui muito ligado as artes, especialmente a pintura e tive uma breve passagem pela moda até descobrir o Design meio que por acaso e intuitivamente.

Quais as maiores vantagens em ser um designer autodidata?

Liberdade, o que também é a maior desvantagem. É preciso ter mais disciplina pra estudar sozinho e às vezes dá uma sensação de que está dando volta em círculos.

Você afirmou que nas últimas décadas, perdemos os critérios de qualidade estética e material. Por que acredita que isso aconteceu?

Olhe para um imóvel ou móvel dos anos 50, ou 60 e olhe para o que é feito agora, e não estou me referindo a imóveis e objetos feitos para pessoas de baixa renda. É claro que a industrialização de processos e de matéria-prima foi desastroso especialmente hoje quando falamos em sustentabilidade. Não teremos mais a mesma durabilidade e isso acarreta enorme gasto de recursos naturais.

Dizem que você é um pesquisador irrequieto. Acredita que esta é uma das mais importantes tarefas quando está se almejando criar uma peça única?

Não uma peça, mas uma assinatura capaz de comunicar minhas principais intenções em todos os meus projetos, como sou autodidata me disciplinei a estudar e isso faz parte do trabalho.

Se possível, gostaria que falasse um pouco da pesquisa e da criação da Exu Chair, que está no acervo permanente do Centre George Pompidou, em Paris.

Foi uma peça que fiz especialmente para uma exposição no Museu Afro-Brasileiro com curadoria de Judith Pottecher. Faz parte da minha pesquisa sobre a cultura brasileira. O Candomblé é rico em símbolos e isso deveria ser mais explorado em nossa cultura de objeto. Mas é importante lembrar que não se trata de inspiração. Não podemos tratar nossa cultura popular de forma burguesa como se fosse algo que acontece de forma pitoresca em algumas comunidades pobres. Quando falo de Candomblé no meu trabalho, estou declarando a minha descendência Afro-brasileira, é uma relação de pertencimento a cultura popular do nosso país.

O que um designer deve evitar quando está criando uma peça sob encomenda?

O óbvio e o decorativo.

Acredita que uma das funções primordiais do Design é seduzir os sentidos?

Seduzir, desafiar, instigar… O Design é uma arte visual na maioria das vezes utilitária.

Qual a sua visão, quando dizem que o mobiliário é o espelho de uma civilização ou de uma época?

Concordo e vai além disso. Quando alguém lê Made in Italy e pensa em qualidade, isso significa que as mãos e as técnicas criadas pelo povo italiano são de grande valor. Nós ainda não entendemos isso. Para nós brasileiros, qualidade é ligada a exclusividade, ou seja, exclusão. Isso tem tudo a ver com o nosso processo enquanto civilização.

O que mais lhe encanta na identidade cultural do Design brasileiro?

Sendo bem brasileiro o aspecto da nossa cultura que eu mais gosto é também o que eu mais detesto que é a contradição. Não sabemos ser lineares, ficamos serpenteando entre o certo e o errado sem definição. Produzimos objetos de aspecto preguiçoso, na maioria das vezes não fazemos cópias literais por preguiça de estudar e entender tecnicamente como se produz. Isso acaba por criar uma certa estética, que talvez possamos chamar de estética Macunaíma, pelo menos em alguns casos e em especial no que se refere a nossa produção modernista.

Existe alguma pressão em ser considerado um dos grandes nomes da atualidade no design de produto e mobiliário do nosso país?

Não.


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