Rodrigo Prando possui Graduação em Ciências Sociais (1999), Mestrado em Sociologia (2003) e Doutorado em Sociologia (2009) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. É Professor Assistente Doutor da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas. Na Graduação ministra as disciplinas Sociologia Geral e Sociologia das Organizações. Na pós-graduação lecionou a disciplina Sociologia do Terceiro Setor. Administrativamente, foi Coordenador Didático da área de Sociologia e Humanidades e, posteriormente, Professor Responsável pela Linha de Formação “Humana e Social”, do CCSA – UPM (2008-2013) e Professor Responsável pelo curso “Lato Sensu” de Gestão em Organizações do Terceiro Setor (2005-08). É também professor da Unifae lecionando Sociologia para o curso de Publicidade e Propaganda e professor do Mestrado em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida. Na tese de doutorado versou acerca da trajetória intelectual e política de Fernando Henrique Cardoso e fez análise de conteúdo dos discursos presidenciais (1995-98). Na UPM, realizou pesquisas no Núcleo de Estudos do Terceiro Setor (NETS), no Núcleo de Empreendedorismo e Desenvolvimento Empresarial (NEDE) e no Núcleo de Pesquisa em Qualidade de Vida (NPQV). Atualmente, é pesquisador da Agência Mackenzie Sustentabilidade.
Rodrigo, qual será o maior desafio do presidente eleito?
Há muito, no Brasil, ganhar não é o mesmo que governar. Ou seja, ganhar a eleição é importante, mas governar, construir a governabilidade junto ao Congresso, é fundamental. Portanto, o maior desafio do presidente eleito será, num clima de alta rejeição e, até, de ódio, conseguir governar para todos: ganhadores e perdedores. E, com isso, buscar forças para retirar o país da crise que se alastra na economia e na dimensão política.
Como avalia as instituições brasileiras neste momento de turbulência?
Até o momento, as instituições, ainda que com problemas, estão funcionando e cumprem seus papéis constitucionais. E isso, felizmente, pode ser um sinal de respeito à lei. Falta, no entanto, ao brasileiro uma “alma” mais democrática, nas relações sociais cotidianas, como, por exemplo, na família, no casamento, na empresa, nas escolas, etc. Portanto, há uma normalidade institucional, mas pouco apreço às regras e às instituições por parte considerável dos brasileiros.
PSL versus PT, será a nova “rivalidade” da política nacional?
O PT foi, especialmente, um partido que construiu uma narrativa de polarização. Ao receber uma economia estabilizada, com inflação controlada, do Governo FHC, logo, de início, criou o termo “herança maldita” para colar na imagem dos Governos tucanos um símbolo que não condizia com a realidade dos fatos. Depois, governando, o PT continuou com a divisão política entre “nós” e “eles”. Hoje, com o enfraquecimento do PSDB, Bolsonaro, mais do que o PSL, se nutre dessa prática de rivalidade acirrada no bojo da política nacional. Por enquanto, sim, PSL e PT são as novas faces da polarização política.
O PSDB é o maior perdedor das eleições de 2018?
Sem dúvida. O PSDB presencia sua maior crise política, mas não se pode afirmar que o partido esteja fadado ao desaparecimento. O PT, em 2016, perdeu cerca de 60% de suas prefeituras, Dilma Rousseff sofreu o impeachment e a Lava Jato investigava Lula e isso terminou com a prisão do ex-presidente. Com tudo isso, o PT, hoje, tem a maior bancada da Câmara dos Deputados e colocou seu candidato no segundo turno das eleições. Portanto, em que pese ser um momento muito difícil para o PSDB, o partido tem quadros e uma inteligência coletiva capaz de realizar uma autocrítica e recuperar seu capital político.
A velha política terá a humildade de fazer uma autocrítica em sua visão?
A autocrítica deve ser feita por todos os partidos políticos, em maior ou menor grau. Não sei, entretanto, se os políticos conseguem compreender o quadro em tela, de desgaste da política e de seus principais atores. Mas, não só! Creio que todos nós, cidadãos, devemos fazer uma autocrítica para entendermos que sociedade, que país queremos. Sem saber o que queremos, não podemos decidir quais são os melhores representantes para alcançar esse objetivo traçado.
Os novos meios (internet na dianteira) superaram o modo tradicional de fazer política ou o fenômeno Bolsonaro é o grande propulsor deste momento histórico?
Há, em minha visão, uma simbiose entre as forças liberadas pelas redes sociais e a presença de Bolsonaro. Assim, Bolsonaro foi aquele que melhor compreendeu essa nova linguagem das redes: ideais com conteúdo e forma superficiais, produção de “memes” e “lacração”. Sua forma de comunicação política foi assaz eficiente e com um custo muito, muito baixo. Ele, por exemplo, saiu na frente dos outros candidatos e surfou na onda das jornadas de julho de 2013 e, especialmente, do desgaste do PT e do impeachment de Dilma e da prisão de Lula. Sua personalidade política estava no lugar certo na hora certa. O resultado é esse que vemos.
Quais são os pontos mais negativos de uma polarização?
Transformar o adversário em inimigo, especialmente. O alto conteúdo de violência simbólica e, o pior, a violência física com agressões e até assassinatos por motivações políticas.
Enxerga algum ponto positivo?
A polarização, quando assentada em ideias, com propostas, pode ser benéfica para o ambiente democrático. Mas, no nosso caso, não vislumbro esse ponto positivo.
Que papel o “centrão” exercerá no novo ciclo político que se inicia?
Certamente, estará na coalização de poder e dará governabilidade ao novo Governo eleito.
As reformas devem acontecer pela sua análise?
Vai depender da capacidade do novo Governo de convencer os atores políticos e a sociedade da necessidade e urgência das reformas. Um novo Governo goza de enorme capital político no início do mandato e, com isso, pode, sim, encaminhar e obter a aprovação das reformas.
A governabilidade está garantida no cenário que se desenha?
Caso Bolsonaro seja o vencedor, ele terá melhores condições de governabilidade do que, por exemplo, Haddad. O perfil do Congresso Nacional, mais conservador, coaduna-se aos ideais do ex-capitão. [o candidato do PSL tornou-se o novo presidente da República com 55,1% dos votos válidos].
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