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Scuderie Le Cocq: grupo paramilitar temido

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A Scuderie Detetive Le Cocq, também conhecida como Esquadrão Le Cocq, foi uma organização paramilitar formada por policiais do Rio de Janeiro em 1965. O grupo ganhou notoriedade por suas ações violentas, especialmente nas décadas de 1960, 1970 e 1980, sendo formalmente extinto por decisão judicial no início dos anos 2000. Estima-se que o Le Cocq tenha sido responsável pela morte de pelo menos 1.500 pessoas, principalmente no Espírito Santo. Ele é considerado o primeiro grande grupo de extermínio do estado fluminense e um dos mais famosos da história do Brasil. Além de sua atuação repressiva, o grupo tinha uma figura de grande relevância como presidente de honra: o lendário jornalista David Nasser, que marcou época na revista O Cruzeiro.

A origem da Scuderie Le Cocq: vingança e justiça paramilitar

A Scuderie Le Cocq foi fundada em homenagem ao detetive Milton Le Cocq d’Oliveira, que era um dos policiais mais respeitados do estado do Rio de Janeiro e integrava a guarda pessoal de Getúlio Vargas. Le Cocq foi morto em uma emboscada enquanto protegia banqueiros do jogo do bicho, fato que provocou grande comoção entre seus colegas de corporação. Seu algoz, o criminoso Manoel Moreira, também conhecido como Cara de Cavalo, teria sido o responsável por sua morte, um episódio que gerou a criação da organização com o objetivo de vingar o detetive.

Após a morte de Le Cocq, o grupo se formou com o objetivo de encontrar e eliminar Cara de Cavalo, que foi morto com mais de 50 tiros dias depois. A execução foi liderada por policiais voluntários, incluindo figuras como Luiz Mariano e Guilherme Godinho Ferreira, o Sivuca, que mais tarde se tornaria deputado estadual com o lema “bandido bom é bandido morto”. A partir desse episódio, a Scuderie Le Cocq começou a atuar como um verdadeiro esquadrão da morte.

David Nasser: o jornalista e presidente de honra da Scuderie

A figura de David Nasser, renomado jornalista da revista O Cruzeiro, teve um papel simbólico importante dentro da Scuderie Le Cocq. Nasser, que se destacou por suas matérias investigativas e críticas ao crime e à violência urbana no Brasil, foi nomeado presidente de honra do grupo. Seu envolvimento com a Scuderie refletia, de certa forma, o clima de apoio popular que existia na época às práticas de extermínio e à justiça feita pelas próprias mãos.

A presença de uma figura tão importante da imprensa brasileira no núcleo simbólico da organização elevava a Scuderie ao patamar de um movimento que buscava não apenas eliminar criminosos, mas também legitimar suas ações perante a sociedade. Quando David Nasser faleceu, em 1980, foi enterrado com a bandeira do Esquadrão Le Cocq sobre o caixão, evidenciando a profunda ligação que ele tinha com o grupo e o respeito que os membros do esquadrão mantinham por ele.

O papel da Scuderie na repressão e extermínio de criminosos

A Scuderie Le Cocq não atuava dentro dos limites legais. Seu principal objetivo era eliminar criminosos sem a necessidade de passar pelo sistema judiciário, promovendo execuções sumárias de indivíduos considerados perigosos ou indesejáveis. Suas vítimas não se limitavam apenas a criminosos; o grupo também perseguia travestis, moradores de rua e outros marginalizados pela sociedade.

Essas operações geraram medo nas ruas, ao mesmo tempo que garantiam uma aura de impunidade para seus membros, protegidos pela proximidade com autoridades policiais e pelo apoio popular que viam nas execuções um método eficiente de reduzir a criminalidade. A brutalidade dos métodos e a ausência de qualquer forma de julgamento legal transformaram a Scuderie em uma organização temida e respeitada pelos seus membros, e odiada pelos defensores dos direitos humanos.

Os “Doze Homens de Ouro” e a liderança da Scuderie

A liderança da Scuderie Le Cocq era composta por um grupo seleto de policiais conhecidos como os Doze Homens de Ouro. Esses homens foram escolhidos pelo então secretário de segurança pública do Rio de Janeiro, Luis França, para liderar as operações do grupo. Entre os mais conhecidos estavam José Guilherme Godinho, o Sivuca, e Neils Kaufman, o temido Diabo Loiro.

Esses policiais eram encarregados de eliminar criminosos e garantir que as operações da Scuderie fossem executadas com precisão e sem falhas. Cada um deles era responsável por liderar equipes em execuções e, ao longo dos anos, adquiriram grande influência dentro do aparato policial, sendo vistos por muitos como heróis que estavam “limpando” as ruas do Rio de Janeiro.

A caveira como símbolo de poder e morte

O emblema da Scuderie Le Cocq era uma caveira sobre ossos cruzados, que representava tanto o poder quanto a morte, refletindo a violência extrema que o grupo empregava em suas operações. As iniciais “E.M.” no brasão, que muitos interpretavam como “Esquadrão da Morte”, na verdade significavam Esquadrão Motorizado, divisão à qual o detetive Milton Le Cocq pertencia.

Esse símbolo se tornou sinônimo de morte certa para aqueles que eram alvos da Scuderie. A presença do emblema da caveira no local de uma execução era uma marca registrada do grupo, impondo medo e dominando as áreas em que atuava. O brasão era um claro aviso para quem ousasse desafiar o poder da organização.

Expansão das operações e impacto no Espírito Santo

A Scuderie Le Cocq expandiu suas atividades para além do Rio de Janeiro, alcançando o Espírito Santo, onde seu impacto foi devastador. Estima-se que o grupo tenha sido responsável por cerca de 1.500 mortes no estado, entre criminosos, moradores de rua e outras minorias. A violência empregada pela Scuderie no Espírito Santo se tornou uma das mais brutais do Brasil, e muitos dos assassinatos atribuídos ao grupo ocorreram com conivência ou participação direta de policiais locais.

As execuções realizadas pela Scuderie no Espírito Santo contribuíram para um aumento do medo na população local, ao mesmo tempo em que refletiam uma política de “limpeza” social, baseada na eliminação física de indivíduos considerados indesejáveis pela elite local e pelas autoridades. O legado de terror e brutalidade imposto pela Scuderie perdurou por anos, mesmo após a formal extinção do grupo.

O fim da Scuderie e seu legado na cultura de violência no Brasil

Apesar de suas atividades criminosas terem perdurado por décadas, a Scuderie Le Cocq foi oficialmente extinta no início dos anos 2000, após uma série de investigações e pressões de grupos de direitos humanos. No entanto, a organização deixou um legado de violência que até hoje influencia o debate sobre segurança pública no Brasil.

Mesmo após sua extinção formal, o nome Scuderie Detetive Le Cocq continuou a ser utilizado por alguns policiais, como em 2015, quando membros de uma Associação Filantrópica Scuderie Detetive Le Cocq promoveram uma campanha de panfletagem incentivando o uso do disque-denúncia. Isso reflete como a organização, mesmo extinta oficialmente, ainda tem influência em alguns setores da polícia e da sociedade.

O enterro de David Nasser com a bandeira da Scuderie sobre seu caixão simbolizou a importância e o respeito que o grupo conquistou em determinados círculos, mesmo em meio a sua controversa trajetória. A mentalidade de “bandido bom é bandido morto” popularizada pelo grupo ainda ressoa nos discursos sobre segurança pública, refletindo uma cultura de violência e de respostas simplistas à complexa questão da criminalidade no Brasil.


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