O mato-grossense Sérgio J. Matos é formado em Design de Produto pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), em 2005, onde a afetividade com à terra nordestina perdura até hoje. Em 2012 conquistou o mais alto prêmio do design internacional, o iF Product Design Award, na Alemanha. Seu grande mérito é a interpretação dos objetos através do material/cultura brasileira. Em 2010 criou um estúdio voltado para a criação e comercialização de peças assinadas por ele, que também desenvolve projetos para a indústria moveleira e de decoração. “Levo o meu olhar e colho impressões, emoções, memórias que farão parte de uma vida inteira. A fusão do design com o artesanato abre portas para uma imersão nos saberes e fazeres ancestrais, resguarda as referências de pertencimento. São elementos que exaltam a riqueza do produto final, afagam a autoestima dos artesãos e projetam a transformação social e econômica dos grupos envolvidos. Essa troca faz a diferença e traduz o verdadeiro sentido do design em que acredito. (…) Quando adentrei nos caminhos das consultorias dirigidas às comunidades artesãs. Através delas venho lapidando experiências fortalecidas na troca do conhecimento. Levo o meu olhar e colho impressões, emoções, memórias que farão parte de uma vida inteira. (…) Gosto de pensar que o prêmio funcionou como um holofote de muitos watts”, afirma o designer.
Sérgio, quando as pessoas falam em design aqui no Brasil, o seu nome é apontado como um daqueles para estarmos de olho na atualidade. Quem é Sérgio J. Matos por Sérgio J. Matos?
Um personagem simples. Um apaixonado pela cultura do Brasil mestiço, pelo patrimônio material e imaterial da nossa história, pelas técnicas artesanais e saberes ancestrais resistentes ao tempo. Um sonhador que sente prazer pelo que tem feito.
Qual a sua definição para o design?
O design tem que seduzir os sentidos. Deve exercer fascínio a um primeiro olhar, convidar ao toque, contar uma história através das formas, cores e textura. Deve desencadear indagações. Quem fez? Onde foi produzido? Com que técnica? Que mãos deixaram impressas suas digitais? Por que é especial? Design tem que encantar a alma.
Em que momento você sentiu que suas criações estavam fazendo a diferença para outras pessoas?
Quando adentrei nos caminhos das consultorias dirigidas às comunidades artesãs. Através delas venho lapidando experiências fortalecidas na troca do conhecimento. Levo o meu olhar e colho impressões, emoções, memórias que farão parte de uma vida inteira. A fusão do design com o artesanato abre portas para uma imersão nos saberes e fazeres ancestrais, resguarda as referências de pertencimento. São elementos que exaltam a riqueza do produto final, afagam a autoestima dos artesãos e projetam a transformação social e econômica dos grupos envolvidos. Essa troca faz a diferença e traduz o verdadeiro sentido do design em que acredito.
Qual o papel do estado da Paraíba em seus trabalhos?
A Paraíba é casa, endereço, laço de pertencimento. Berço da minha formação profissional pela Universidade Federal de Campina Grande – uma das mais conceituadas em design no país – e lugar onde aflora todo o processo criativo. É o pedaço do Nordeste que adotei como morada e onde tenho mapeada minha trajetória profissional. Paraíba de cultura ímpar, de gente hospitaleira, de artesãos que têm nas mãos a magia que dá vida a produtos que carregam toda essa atmosfera afetiva.
Em 2012, você ganhou o mais alto prêmio do design internacional, o iF Product Design Award, na Alemanha. Como sentiu a recepção da mídia especializada com um feito tão importante como esse?
Um prêmio está revestido de reconhecimento. O iF Product Design Award guarda um prestígio incontestável para o design internacional e é sempre uma honraria para quem o recebe. Foi extremamente oportuno para o início da minha carreira e continua sendo porque é um marco precioso na trajetória de qualquer profissional da área. De certo modo, a premiação aguçou a curiosidade da mídia especializada no momento em que no Brasil pulsava uma nova geração de designers empenhados em fazer a diferença, em mostrar um trabalho autoral. Esse movimento começou a chamar a atenção aqui e além das fronteiras.
O olhar da indústria interessada no desenvolvimento de produtos de mobiliário, mudou em relação a você depois que ganhou esse prêmio?
Gosto de pensar que o prêmio funcionou como um holofote de muitos watts, mas que é preciso gerar energia para que siga sendo notado em um mercado exacerbadamente competitivo. O trabalho é árduo e o mais importante é ser coerente com o que você acredita.
Viver de design no Brasil é difícil. Essa fase já passou com todo reconhecimento que você tem atualmente?
O brasileiro está aprendendo a valorizar e consumir o design com selo nacional. É um processo lento, mas que apresenta reflexos na abertura de lojas especializadas no design made in Brasil e nas feiras, e eventos que pautam uma agenda regular nas principais capitais do país. Considero um desafio diário ocupar este mercado ainda acostumado a olhar primeiro para o que vem de fora.
O designer Marko Brajovic, disse que desenha para as pessoas e não para o mercado; já o lendário Sérgio Rodrigues, afirmou que desenhava aquilo que gostava e acreditava. E você, pra quem desenha?
Desenho sempre pensando em cultivar histórias, em estabelecer conexões afetivas, em emocionar. O meu processo criativo está alicerçado na identidade brasileira. É disso que é feito o meu traço e a cultura é matéria-prima essencial.
Como está enxergando o design cada vez mais personalizado?
Enxergo originalidade. O design distante de tendências e exaltando identidade, provocando reflexões e sensações, emocionando. As pessoas estão interessadas em produtos que estabelecem elos com suas memórias e vivências, que têm ligação com suas próprias referências e atitudes diante do que as cerca. É muito mais que forma e função.
Em que momento a preocupação com a sustentabilidade se tornou mais aguda em seus trabalhos?
O universo das consultorias dirigidas às comunidades artesãs instiga a criação sustentável e isso é muito prazeroso. Sustentabilidade que transcende a matéria-prima renovável do entorno e pauta futuros desejáveis cultivados pelas pessoas dessas localidades através do trabalho que gera e perpetua riquezas. A humanização dos processos criativos e o resgate sociocultural é um passo decisivo na herança que deve ser deixada às novas gerações.
O que você tem criado neste momento e que gostaria de compartilhar conosco?
O estúdio tem uma atmosfera de “tear” pela assinatura singular das tramas que envolvem parcela representativa dos produtos. No entanto, novos projetos nos conduzem a trabalhar com madeira no desenvolvimento de mobiliário para empresas nos estados do Rio Grande do Sul e Amazonas. Em paralelo, começamos a tecer uma coleção de bolsas com comunidades indígenas e ribeirinhas do Amazonas. Produtos com alma bem brasileira.
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