A trajetória da TV ShopTour, criada por Luiz Antonio Cury Galebe, é uma das histórias mais inusitadas da televisão brasileira. Iniciada como um programa inovador para vender produtos em horários alternativos da TV, a ideia de Galebe ganhou relevância na década de 1990, estabelecendo um novo formato de publicidade e venda direta aos consumidores por meio da televisão. No entanto, mesmo com o sucesso inicial, o império construído por Galebe sofreu declínios abruptos ao longo dos anos. Este texto explora os principais momentos dessa história, as razões do declínio e o fim da TV ShopTour.
O ShopTour nasceu da mente inovadora de Luiz Galebe em 1987, que viu na televisão uma oportunidade ainda inexplorada no Brasil: o uso do meio para vender produtos de forma direta e acessível. Inspirado no que já ocorria nos Estados Unidos com programas de vendas, Galebe adaptou o conceito para a realidade brasileira, adicionando uma “ginga” local, como ele mesmo descreveu. O programa não era apenas uma exibição de produtos; Galebe promovia um estilo descontraído de vendas, misturando humor e proximidade com os lojistas que participavam.
Inicialmente exibido durante a madrugada da Rede Record, o ShopTour oferecia desde roupas e eletrodomésticos até carros e imóveis. Ao longo dos anos, Galebe levou o programa a diversas emissoras, como a Rede Manchete, Rede Bandeirantes, CNT Gazeta e Canal 21, sempre mantendo sua abordagem informal e voltada para o comércio direto. O sucesso foi tanto que, em 1997, a programação do ShopTour ganhou um canal próprio, no qual transmitia 22 horas de conteúdo exclusivo.
Com o sucesso consolidado no final dos anos 1980 e início da década de 1990, o ShopTour começou a atrair a atenção de grandes varejistas. Um dos marcos mais importantes foi a parceria com as Lojas Americanas, que contratou Galebe para promover seus produtos. Inicialmente resistente à ideia, Galebe acabou aceitando a proposta e, durante seis anos, fez com que a rede varejista aumentasse significativamente suas vendas por meio do programa.
Esse período representou o auge do ShopTour. Galebe era uma figura popular e querida por lojistas e consumidores. A fórmula simples – um apresentador carismático mostrando produtos diretamente das lojas – funcionava perfeitamente. O ShopTour se tornou referência no comércio televisivo brasileiro, com uma audiência fiel e resultados comerciais expressivos.
No entanto, o sucesso começou a desmoronar no início dos anos 2000. Em 2001, Luiz Galebe adquiriu o canal 46 de São Paulo, renomeando-o como ShopTour TV. Essa expansão era vista como um passo natural, dado o crescimento do negócio. Contudo, problemas internos começaram a surgir. Uma das principais fontes de complicação foi a disputa judicial com sua ex-esposa, Maria Cristina Rodrigues dos Santos, sócia minoritária da empresa.
O conflito entre os dois envolveu acusações de irregularidades financeiras e disputas sobre a divisão dos lucros da empresa. A batalha judicial se arrastou por anos, prejudicando a imagem do ShopTour e afetando suas operações. Em 2004, um interventor foi nomeado para a empresa, o que dificultou ainda mais a administração do canal e o andamento dos negócios. Galebe foi condenado a pagar uma indenização significativa à ex-esposa, o que minou ainda mais as finanças da empresa.
Além das questões judiciais, o ShopTour também enfrentava dificuldades em se adaptar a um mercado de mídia cada vez mais competitivo. A chegada da TV por assinatura, a popularização da internet e as mudanças no comportamento dos consumidores minaram a relevância do formato da TV ShopTour. Em março de 2011, Luiz Galebe, já diagnosticado com leucemia, decidiu vender a emissora para a Rede Novo Tempo, grupo de comunicação da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
A partir dessa aquisição, a emissora passou a transmitir conteúdo religioso e foi renomeada para TV Novo Tempo. Galebe, que inicialmente ficou desapontado com a venda, posteriormente se mostrou satisfeito com o rumo que o novo proprietário deu ao canal. Com isso, o ciclo do ShopTour chegou ao fim, e o formato que um dia fora inovador deixou de ser parte do cotidiano televisivo brasileiro.
Após a venda do ShopTour, Galebe optou por se mudar para os Estados Unidos com sua família. Um dos principais motivos para a mudança foi a segurança dos filhos, uma preocupação crescente do empresário devido ao aumento da violência no Brasil. Nos Estados Unidos, Galebe recomeçou sua vida longe das câmeras, fundando uma nova empresa chamada Laser King, especializada em remoção de ferrugem e sujeira a laser.
Durante suas entrevistas, Galebe revela que essa nova fase foi marcada por tranquilidade e cura. Após pedir a Deus pela sua recuperação da leucemia, ele encontrou nos Estados Unidos um ambiente favorável para o crescimento pessoal e familiar. Embora longe do Brasil, Galebe nunca perdeu o carinho pelos funcionários do ShopTour, muitos dos quais ele ainda considera amigos próximos.
Luiz Galebe nunca foi um homem de se furtar a polêmicas, e isso ficou evidente em suas opiniões políticas. Um fã declarado do ex-presidente Jair Bolsonaro, Galebe frequentemente se posicionou contra as políticas de governos anteriores e atuais, especialmente no que diz respeito às leis trabalhistas. Durante suas entrevistas, ele mencionou que a reeleição de Bolsonaro seria um fator decisivo para considerar seu retorno ao Brasil.
Em sua visão, as leis trabalhistas no Brasil são um grande empecilho para o crescimento dos negócios, e ele vê nos Estados Unidos um modelo mais eficiente de regulação do mercado. No entanto, com a derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022, Galebe permanece nos Estados Unidos, observando de longe o cenário político e econômico brasileiro, enquanto reflete sobre suas experiências passadas no país.
Embora o ShopTour tenha chegado ao fim, o legado de Luiz Galebe na televisão brasileira não pode ser subestimado. Ele foi um pioneiro no formato de vendas televisivas, abrindo caminho para uma nova forma de publicidade e marketing no Brasil. O sucesso do programa nos anos 1990 influenciou outras iniciativas semelhantes, e até hoje o nome ShopTour é lembrado por aqueles que acompanharam seu crescimento.
O formato de vendas televisivas pode ter perdido espaço para novas tecnologias e formas de consumo, mas a inovação de Galebe deixou uma marca indelével na mídia brasileira. O ShopTour serviu como um laboratório para as possibilidades comerciais da televisão, mostrando que o meio pode ir além do entretenimento e da informação, tornando-se também uma ferramenta poderosa para o comércio.
Apesar dos desafios, das polêmicas e do eventual declínio, Luiz Galebe conseguiu reinventar a maneira como as pessoas compram e vendem produtos por meio da televisão. E, embora o ShopTour não exista mais, seu impacto permanece vivo na memória de quem viveu essa era e na transformação da relação entre mídia e comércio no Brasil.
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