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Silvia Grilli fala do desafio da inovação no design

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Formada em Desenho Industrial em 1985 com especialização em design de móveis, Silvia Grilli é consultora de diversas empresas no setor de móveis/decoração. Após um período na Itália trabalhando em escritórios de arquitetura, voltou ao Brasil e fundou seu próprio estúdio. Atualmente leciona design no Liceu de Artes e Ofícios de SP e na pós-graduação em Movelaria do SENAC. Seu trabalho premiado pode ser classificado como contemporâneo light, sempre combinando recursos clássicos com novos materiais. Em seu portfólio constam o projeto de coleções de móveis para as principais lojas de design da capital paulista. “Como designer eu vejo a inovação como uma cultura pessoal: é pensar diferente no processo criativo, no uso de tecnologias, na abordagem de mercados. Para mim a inovação é um desafio diário e interminável, e nem sempre é perceptível pelos consumidores à primeira vista. (…) Na minha opinião não há gestão sem estratégia. Muitas empresas e marcas lançam produtos de forma aleatória, por diversos motivos: atender as demandas específicas do mercado, pegar uma carona em modismos, ou simplesmente para atualizar seus catálogos. Então eu acredito que uma boa gestão do design está diretamente relacionada a uma clara estratégia do negócio, que deverá orientar todo o processo de oferta de novos produtos para o mercado atendido”, afirma a talentosa e pioneira designer.

Silvia, por que escolheu o Design como o seu campo de atuação?

Meu avô italiano era um mestre do Liceu de Artes e Ofícios SP e nossa convivência me despertou um olhar especial para o prédio onde ele estudou e hoje é a Pinacoteca do Estado. Desde criança me interesso por Artes e Arquitetura, e o Design foi uma escolha natural. Também houve o pai de uma amiguinha, que tinha uma prancheta enorme no meio da sala. Eu dizia para mim: quando crescer eu vou trabalhar numa dessas…

Qual a sua definição pessoal sobre o Design?

Como eu resumi no livro comemorativo dos 5 anos de DW! (Design Weekend São Paulo): “Design é sabedoria para suprir as demandas do contemporâneo, aliando razão e emoção”.

Como você definiria uma boa gestão do design de um produto ou de uma marca?

Na minha opinião não há gestão sem estratégia. Muitas empresas e marcas lançam produtos de forma aleatória, por diversos motivos: atender as demandas específicas do mercado, pegar uma carona em modismos, ou simplesmente para atualizar seus catálogos. Então eu acredito que uma boa gestão do design está diretamente relacionada a uma clara estratégia do negócio, que deverá orientar todo o processo de oferta de novos produtos para o mercado atendido.

Você foi a primeira designer brasileira a levar empresários moveleiros do Brasil para a Itália. Quais experiências que tira desse fato?

Na verdade, a minha carreira é toda pontuada por projetos com alto grau de pioneirismo. Sempre gostei de estar à frente do tempo e dezenas de vezes ouvi dos meus clientes que “aquele” meu projeto estava muito adiantado. Quando comecei com as viagens guiadas para a feira de Milão, em 1998, minha intenção era despertar um olhar estratégico nos meus clientes e parceiros. Eu dizia: “Se você quer copiar algo, copie o modo como eles pensam, produzem e comunicam seus produtos”. Gastei muito tempo com este discurso e só agora (20 anos depois) os moveleiros nacionais compreendem o que eu dizia. As experiências assimiladas são muitas: além dos inúmeros contatos no cenário moveleiro internacional, desenvolvi um olhar apurado para o que importa ver/saber e uma antena bem sensível para a antecipação de tendências.

Em uma certa ocasião, você disse que poucas empresas se dispõem a sair da sua zona de conforto quando o assunto é inovação. Por que isso ocorre em sua visão?

Porque inovar não é lançar mais um produto baseado em valores estéticos. Inovar não é comprar novos equipamentos para a fábrica. Inovar é uma ação atrelada à quebra de paradigmas culturais e de gestão, tão fortes nas empresas moveleiras. E isso dá muito trabalho.

Como você trata a palavra inovação em seu “instinto pessoal” enquanto designer?

Como designer eu vejo a inovação como uma cultura pessoal: é pensar diferente no processo criativo, no uso de tecnologias, na abordagem de mercados. Para mim a inovação é um desafio diário e interminável, e nem sempre é perceptível pelos consumidores à primeira vista.

O que um Design deve ter além de forma e função?

Deve ter conceito, ou seja, deve ter um propósito e contar uma história que o conecte ao seu público.

Fale um pouco sobre o seu trabalho como consultora.

Depois de tantos anos criando produtos para marcas moveleiras ou para projetos especiais no mercado corporativo, passei a me questionar sobre aquelas experiências que não estão visíveis no meu portfólio, mas que poderiam fazer muita diferença para meus clientes. Então eu comecei a orientar projetos de Design dentro das fábricas, para as equipes internas de projeto, sem necessariamente desenhar algo. Realizo uma consultoria chamada Oficina de Direção Criativa, que começa com um bombardeio de informações e referências e termina com muitas rafes e esboços de novos produtos, sempre respeitando os recursos da indústria em questão. Além disso, também realizo pesquisas de mercado on demand e produzo relatórios de tendências estratégicas.

Sustentabilidade e Design estão andando juntas em algum sentido na atualidade sem o marketing que muitos fazem sobre esse assunto?

Pois é: sustentabilidade é um tema recorrente no Design contemporâneo, mas poucas empresas o levam a sério no cenário moveleiro. É difícil mesmo, porque além da madeira de reflorestamento (que o pessoal do marketing gosta de destacar) trabalhamos com processos químicos que geram resíduos, embalagens plásticas, etc. Quando se fala em produção e entrega de móveis a sustentabilidade ambiental só será garantida com a obrigatoriedade da logística reversa. Quanto à sustentabilidade social, a indústria moveleira nacional está longe de ser um exemplo. Há regiões no Brasil em que as empresas são enormes, com faturamento idem, os empresários são ricos e a população é miserável.

Em que momento a ideia da marca Beijo de Focinho se fez patente?

A marca Beijo de Focinho é mais um projeto paralelo meu, mas que tem tudo a ver com a atuação do designer. A ideia de empreender no mercado pet foi da minha sócia. Pesquisamos um pouco e descobrimos uma demanda por móveis para pets que fossem um item de decoração na casa (ao contrário das caminhas de pano com estampas infantilizadas e péssimo acabamento). Descobrimos uma grande oferta desses produtos nos EUA, mas sabemos que o público brasileiro aprecia mais o design europeu que o americano. Então desenhei uma linha de caminhas e sofás na escala das raças (cães e gatos) para ser vendida em lojas de móveis tradicionais. Nosso conceito é bem inovador e muitos arquitetos já recomendam os produtos Beijo e Focinho em seus projetos de interiores.

O que vislumbra para o futuro do empreendimento?

Neste momento estamos pensando na ampliação da linha, prototipando mais um modelo de sofá e um de guarda-roupas. Pretendemos iniciar em breve as vendas via e-commerce próprio e, graças ao interesse da Apex estamos estudando a viabilidade de exportar a marca Beijo de Focinho.


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