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Simone Ronzani trabalha com o olhar das crianças

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“Precisamos dar as crianças todas as informações requeridas.” Com esta visão e pensando nas dúvidas que seu filho Henrique tinha após ouvir e ler as notícias, a niteroiense Simone Ronzani, criou o Recontando, site que cria animações sobre as notícias mais repercutidas nas redes sociais. Cada animação é desenvolvida com precisão para deixar a notícia mais clara e didática possível para que as crianças, principal público alvo do veículo, absorvam os fatos que as circundam ao seu redor. A jornalista destaca que as informações ganharam velocidade tanto na emissão quanto na recepção, e que controlar o processo de comunicação ficou impossível. O sucesso tem sido cada vez mais solidificado com números de gente grande (18 mil acessos por mês e fanpage com quase 25 mil pessoas). Além disso, a equipe do Recontando, realizou um projeto-piloto de Oficinas de Conteúdo Transmídia para o primeiro segmento do Ensino Fundamental, que já começará nas escolas no primeiro semestre de 2014. “Até a década de 80, quando eu era criança, na época do DOS e Carta Certa (processadores de textos), as pesquisas eram feitas na Barsa (enciclopédia), as rádios só tinham programação musical, a televisão (aquela da caixa grande que ainda esquentava pra pegar no tranco) tinha horário certo para ser ligada e desligada. Internet? Era artigo de luxo”, afirma a jornalista. 

O Recontando entrou no ar no dia 30 de março, ou seja ainda irá completar um ano, mas só no Facebook, são mais de 24 mil likes. Esperava que o site já estivesse nesse estágio quando iniciou o projeto?

O Recontando é fruto de uma pesquisa detalhada de mercado, foi o meu projeto final da pós-graduação em Gestão do Entretenimento na ESPM. No plano de negócios figuram os objetivos e os passos que devem ser dados para que esses objetivos sejam alcançados. Além do engajamento contínuo na fanpage (estamos quase nos 25 mil!), os acessos ao site também são animadores. O último relatório, datado de 25 de novembro, apontou para quase 150 mil acessos, mais de 18 mil por mês.

Você acha que as crianças precisam mesmo estar a par da parte menos “cor de rosa” da vida?

Até a década de 80, quando eu era criança, na época do DOS e Carta Certa (processadores de textos), as pesquisas eram feitas na Barsa (enciclopédia), as rádios só tinham programação musical, a televisão (aquela da caixa grande que ainda esquentava pra pegar no tranco) tinha horário certo para ser ligada e desligada. Internet? Era artigo de luxo. Os diários eram de papel e tinham cadeado. Isso faz tempo. Ficou para trás. Na era midiática, as informações ganharam velocidade, na emissão e na recepção, e controlar o processo de comunicação ficou impossível.

Uma comunicação da “Vida como ela é?”.

Acredito que ´proteger nossas crianças´ ganhou outro significado. No lugar de dizer ‘Isso não é coisa para criança!’, precisamos, sim, dar a elas todas as informações requeridas. Vamos respondê-las sim, e de forma adequada. Vamos recontar!

Você disse que recebe muitas sugestões das crianças para veiculação de alguma matéria no site. Qual dessas sugestões que você se lembra, viraram uma pauta de fato?

Sim! Posso citar algumas sugestões de crianças, pais e educadores que foram recontadas: sobre as manifestações contra o mau uso da Política, do Trabalho Infantil, sobre o Mascote da Copa, da Assacu da Pompeu Loureiro, do Horário de Verão e sobre a dobradinha do dia 31 de outubro: Saci ou Halloween?!.

Trabalhar com o público mais verdadeiro que existe que são as crianças, é uma tarefa que requer mais atenção do que teria se você estivesse editando um site para um público adulto?

A responsabilidade de um jornalista que escreve para o público adulto se reflete no trabalho com o público infantil. Afinal, ofício é ofício! Mas, no processo de apuração, vamos além. Pesquisamos e refletimos bastante antes de finalizar o texto. A contextualização precisa estar bem amarrada para que a comunicação da notícia seja efetiva com as crianças.

Achamos interessante quando você diz que muitos jovens e adultos também visitaram o site. Esperava por isso ou também ficou surpresa com esse dado?

Nosso objetivo é comunicar, prioritariamente, com crianças de 5 a 11 anos. Prioritariamente, porque, desde a concepção, focamos também nos pais, educadores e irmãos mais velhos. Mas, quando escrevemos, ilustramos e animamos um episódio, olhamos para esse público-alvo. Somado a isso, em plena era midiática, quando o processo de comunicação está aceleradíssimo, o interesse adulto por uma comunicação facilitada também ganha espaço! E nós curtimos!

Você sempre diz que quer passar a informação mais clara possível. Nos explique como é feita essa análise para se chegar a isso.

O formato-mestre do Recontando, contextualizado e animado, tem como ponto de partida um processo de apuração mais demorado. É nessa etapa que elegemos as histórias paralelas que irão nos ajudar a recontar a notícia. Depois do texto, partimos para o guia de animação, onde detalhamos como as imagens deverão interagir com a narração. E, por fim, legitimamos o trabalho, submetendo o episódio ao Conselho Editorial Mirim. Através de uma dinâmica própria, avaliamos o alcance da recontação. O vídeo só vai ao ar com o aval das 4 crianças: Henrique, Luísa, Gabriel e Manoela!

Qual seria a maior dificuldade em fazer um site hard news para as crianças, já que o Recontando faz atualizações até três vezes por semana?

O processo de animação é moroso e ainda não conseguimos acompanhar a velocidade das hard news. Mas, de verdade, isso não representa embargo à nossa proposta de fazer jornalismo para crianças, justamente pelo formato que lançamos (recontações contextualizadas). Até o meio do mês de dezembro, quando o site dará lugar ao portal, as atualizações podem chegar a uma por semana. Na nova plataforma, além dos episódios animados, as crianças poderão navegar por conteúdos jornalísticos em outros formatos.

Podemos dizer que o seu filho Henrique foi o motivador para que o seu projeto saísse do papel?

Só foi! A ideia nasceu quando ele tinha quatro anos, em 2009. De lá pra cá, entrei na pós-graduação e fiz um estudo paralelo da geração Z.

Não vemos nenhum um tipo de patrocínio no site. Como é constituído o modelo de negócio?

Não faz muito tempo, uma marca de roupa infantil nos procurou para patrocinar o site. Eles queriam a associação direta das marcas, o que não nos interessou. Vendemos serviço e acreditamos que esse serviço faça a diferença nas vidas das crianças. Estimular o consumo de uma marca pura e simplesmente não nos interessa. Essa publicidade explícita às crianças é algo que, realmente, não me enche os olhos. Estruturei o Recontando para gerar receita com a realização de palestras, com o trabalho nas escolas e com a produção de conteúdo, seja para canal a cabo ou qualquer outra organização que queira recontar alguma temática. Já em 2014, iniciaremos os trabalhos nas escolas. Temos uma metodologia própria para as Oficinas de Conteúdo Transmídia e ainda nos aliamos a dois parceiros para esse trabalho: a Ediouro, através da Coquetel (divisão da editora voltada exclusivamente para a àrea de passatempos) e a GRES Grande Rio (escola de samba de Duque de Caxias no Rio de Janeiro), através da GRCESM Pimpolhos da Grande Rio. Agora, se houver algum patrocinador potencial que, de fato, some ao nosso serviço e às vidas das crianças, podemos conversar!

Para finalizar, acredita que o país tem cuidado bem do público que é a força motriz do Recontando?

Hoje, já vemos muitas escolas com a preocupação de trabalhar as notícias como parte do processo de socialização das crianças. Mas, ainda é incipiente. Há muito a fazer. Despertar o olhar crítico das crianças é fundamental para um futuro menos desigual e injusto.


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