Sitawi Finanças do Bem está fazendo história

A Sitawi Finanças do Bem é uma organização sem fins lucrativos fundada em 2008 e pioneira no desenvolvimento de soluções financeiras inovadoras para impacto. A organização mobiliza e gerencia recursos para quem quer construir um futuro melhor, ressignificando o papel do capital por meio do impacto socioambiental positivo. É o investidor de impacto mais ativo do Brasil, com mais de 80 transações e mais de 35 negócios apoiados. “Os investimentos de impacto na Amazônia começam com a convocação, mapeamento e identificação de oportunidades de organizações locais. Muitas delas chegam até a Sitawi através das Chamadas para Investimento que realizamos ao longo do ano. Para se inscreverem, no entanto, todos os negócios precisam ter uma missão de fator socioambiental positivo atrelado. Em seguida, avaliamos se há uma lógica comercial de produtos, serviços e negócios, e a previsibilidade de receita, se é compatível com o empréstimo. Depois vem a fase de análise aprofundada de due dilligence e de um comitê de investimento, que aprova as organizações e as condições de empréstimo. Esse comitê é composto por organizações e/ou empresas parceiras que aportam capital filantrópico, na lógica do Blended Finance, para fomentar o Investimento de Impacto no país”, afirma Leo Letelier, CEO da Sitawi Finanças do Bem, entrevistado com execlusividade pelo portal Panorama Mercantil.

Como você analisa os investimentos de impacto socioambiental realizados nos últimos anos no Brasil?

Diria que tivemos uma diversificação em termos de instrumento financeiro, tíquete mínimo e causa, e impacto pretendido, por exemplo. A Sitawi chegou ao ecossistema há 15 anos, umas das pioneiras, ajudando na sua democratização e inovação . Em 2019 lançamos a inovadora Plataforma de Empréstimo Coletivo para impacto. Para os próximos anos estamos ainda mais focados na inovação e democratização para tornar o investimento de impacto positivo ainda mais acessível.

Quais as características primordiais desses investimentos?

No investimento de impacto, o objetivo, por definição, é o impacto positivo em causas, com expectativa de retorno financeiro. Em qualquer investimento há o binômio risco x retorno, mas, no caso dos investimentos de impacto a lógica se expande para um trinômio impacto x risco x retorno. E nesta ordem, leva-se em conta, primeiramente, os impactos social, ambiental e econômico coletivo que aquele empréstimo irá proporcionar. O investidor, do menor ao mais milionário dos aportes, pode definir o nível de risco e a oportunidade que apresenta o melhor retorno. Em nossa nova fase de posicionamento e comunicação temos reforçado que o impacto deve vir na frente, pois, investir em causas diz, ou deveria dizer, muito mais do bem que queremos fazer do que propriamente pensar no retorno do investimento. E, nos casos mapeados e apresentados pela Sitawi há ainda o acompanhamento dos empréstimos de ponta a ponta com transparência. Já são mais de 10 rodadas abertas desde 2019 beneficiando empreendedores locais. São pessoas que dependem diretamente do negócio para sobreviverem e são especializadas no que fazem. Sabem, mais do que ninguém, o negócio que têm em mãos.

Quando surge a Sitawi Finanças do Bem nesse ecossistema?

A Sitawi surgiu em 2008 com a missão de mobilizar capital para impacto socioambiental positivo. Quando comecei, tinha como objetivo colocar minhas habilidades e conhecimentos em finanças a serviço de ONGs e negócios de impacto socioambiental em seu desenvolvimento. Surgimos, inicialmente, fazendo empréstimos socioambientais, nos tornando pioneiros no investimento de impacto no país. A lógica era captar doações e emprestar o dinheiro a ONGs e negócios sociais. Quando esse dinheiro era quitado, íamos atrás de outras iniciativas para uma nova leva de empréstimos. Em 2019, evoluímos para um conceito de Plataforma de Empréstimo Coletivo, que veio para democratizar o investimento de impacto no Brasil. Oferecemos para pessoas físicas a possibilidade de investir em organizações, fomentando o impacto socioambiental positivo no país. Para isso, usamos a abordagem Blended Finance, que potencializa e estimula o capital – proveniente de investimentos ou doações – a se alinhar aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Hoje, celebrando a nossa consolidação neste ecossistema com 15 anos de atuação – sendo o investidor impacto mais ativo Brasil – já mobilizamos mais de R$ 360 milhões para impacto socioambiental positivo e expandimos nosso escopo, contando com quatro frentes principais de atuação: Gestão de Filantropia, Fundos Patrimoniais, Finanças de Conservação e Clima e Investimento de Impacto.

Quais os principais pilares da organização?

Nesses 15 anos de pioneirismo e muito trabalho dentro do ecossistema de impacto, refletimos e definimos nossos valores, que são os pilares de nossa organização:

1 – Gerar impacto em primeiro lugar: antes de pensar em rentabilidade, pensamos no impacto que pode ser gerado com o capital;

2 – Compartilhar a responsabilidade da mudança, onde cada um faz sua parte para mudar o futuro com impacto;

3 – Inovamos e pautamos pelo melhor exemplo, buscando ser referência no que fazemos e entregamos;

4 – Agimos com empatia, tomando decisões tendo em mente a perspectiva de todos os agentes do ecossistema;

5 – Atuamos de forma transparente, com um gerenciamento claro, prestação de contas e um discurso compreensível.

Mobilizamos e gerenciamos recursos para quem quer construir um futuro melhor, ressignificando o papel do capital por meio do impacto socioambiental positivo. Atuamos no Investimento de Impacto, conectando investidores a empreendedores sociais através da Plataforma de Empréstimo Coletivo. Também fazemos a gestão de Filantropia e de Fundos Patrimoniais, além de desenvolver soluções financeiras para conservar a biodiversidade e enfrentar os urgentes desafios climáticos.

Quantos investimentos de impacto já foram mobilizados pela Sitawi se colocarmos isso em números?

Já tivemos mais de 80 transações de investimento de impacto, apoiando mais de 60 organizações através do nosso investimento. Mais de 680 investidores já passaram pela nossa plataforma, mobilizando cerca de R$27 milhões para o impacto positivo em diferentes causas.

Como é feita a conexão entre investidores e empreendedores que possuem um foco socioambiental?

Na Sitawi fazemos uma extensa e cuidadosa curadoria de empreendimentos de impacto positivo que estejam alinhados com nossos propósitos e que estejam aptos tanto para receber os recursos, alavancando e potencializando seus negócios, como também arcar com o pagamento do empréstimo coletivo que receberam. Na Plataforma de Empréstimo Coletivo, unimos os investidores às causas que acreditam, apresentando a eles os negócios aptos a receber os aportes e quais os rendimentos previstos (o da atual Rodada Amazônia, por exemplo, está com uma taxa de 14% a.a.). Depois do investimento, enviamos relatórios trimestrais aos investidores e acompanhamos o empreendedor durante toda a vida do empréstimo.

Quais os grandes feitos realizados pela Sitawi no ano de 2022?

Nosso 2022 foi histórico, marcado por grandes feitos e conquistas. Apoiamos mais de 2.600 organizações e iniciativas sustentáveis e impactamos a vida de mais de 12 milhões de pessoas por todo o Brasil. Ampliamos nossa atuação com novos mecanismos de soluções financeiras para conservar a biodiversidade, alavancar negócios locais que geram emprego e renda e lutar contra as mudanças climáticas.

Além disso, em parceria com a Endowments do Brasil, propusemos um modelo inovador para a democratização de Fundos Patrimoniais no Brasil – mecanismo que torna possível o investimento por meio de doações que, ao longo prazo irão gerar rendimento para a manutenção e expansão das atividades e estruturas de instituições. Desta forma, de maneira prática, esses endowments promovem a estabilidade financeira da organização e da causa apoiada.

Também recebemos alguns reconhecimentos. Fomos eleitos como umas das 100 Melhores ONGs do Brasil pela quinta vez consecutiva, além de contarmos com a certificação, pelo segundo ano, da Great Place To Work como um excelente lugar para trabalhar. Também estamos entre as 6 ONGs mais influentes do Brasil e no Top 100 global, de acordo com o The Dot Good.

Como se dá a operação para investimentos de impacto socioambiental positivo na Amazônia?

Os investimentos de impacto na Amazônia começam com a convocação, mapeamento e identificação de oportunidades de organizações locais. Muitas delas chegam até a Sitawi através das Chamadas para Investimento que realizamos ao longo do ano. Para se inscreverem, no entanto, todos os negócios precisam ter uma missão de fator socioambiental positivo atrelado. Em seguida, avaliamos se há uma lógica comercial de produtos, serviços e negócios, e a previsibilidade de receita, se é compatível com o empréstimo. Depois vem a fase de análise aprofundada de due dilligence e de um comitê de investimento, que aprova as organizações e as condições de empréstimo. Esse comitê é composto por organizações e/ou empresas parceiras que aportam capital filantrópico, na lógica do Blended Finance, para fomentar o Investimento de Impacto no país. Depois desses fluxos, lançamos as rodadas de investimentos na plataforma, convocando investidores de todo o Brasil. Qualquer pessoa pode investir para aportar recursos para se somarem ao empréstimo coletivo. O fluxo segue com o acompanhamento destas captações e como os negócios estão fazendo uso dos mesmos. Neste momento entram as prestações de contas, com relatórios trimestrais para quem investiu, e o acompanhamento dos negócios.

Qualquer investidor poderá fazer investimentos nessa rodada?

Sim! Qualquer pessoa pode investir, só precisa ter uma conta bancária no Brasil. Basta acessar www.emprestimocoletivo.com.br para conhecer as oportunidades de investimento abertas. Atualmente, pessoas interessadas podem investir na 100% Amazônia e na Belterra na atual Rodada Amazônia em vigor. A 100% Amazônia é uma organização fundada por mulheres, que atua com mais de 50 produtos, sendo 90% dessa produção proveniente de mata nativa da região amazônica e extraída por 590 famílias. Já a Belterra tem a missão de transformar áreas degradadas em floresta produtiva através de Sistemas Agroflorestais. Hoje possuem mais de 2 mil hectares sob gestão.

Quais os maiores objetivos com essa mobilização?

Nosso maior objetivo é o impacto na ponta e em primeiro lugar, sempre. Queremos também mobilizar esse tema do investimento de impacto mais acessível e mais próximo do dia a dia das pessoas. Queremos impulsionar negócios e empreendedores de todo o Brasil, gerando empregos e renda, movimentando a economia de forma sustentável e comprometida com as pessoas e o meio ambiente.

Além dessa movimentação, o que a Sitawi espera alcançar em 2023?

Fazer mais e melhor do que já fazemos, apresentando inovações e tendo o impacto sempre em primeiro lugar. Isso significa beneficiar a vida de milhões de pessoas e construir um país mais justo. Ao olhar para trás e para a atuação da Sitawi ao longo dos anos, esse é o nosso histórico. Sempre fazemos mais e melhor. Em 2023, a gente quer continuar fortalecendo nossas áreas de Gestão de Filantropia e de Investimento de Impacto com um grande olhar nosso – e do mundo – para a Amazônia. A gente entende que temos muito a agregar nesse processo e podemos apoiar o fluxo de captação para esse impacto socioambiental positivo. Também queremos intensificar a atuação nas soluções financeiras para conservar a natureza e enfrentar desafios climáticos. Um de nossos objetivos é, também, expandir nosso portfólio de Fundos Patrimoniais – ou endowments – para mais causas sociais e ambientais.

De modo geral, quais são os passos que o investidor deve seguir para fazer um investimento mais consciente?

Para fazer um investimento mais consciente, o investidor tem que estar disposto a se fazer perguntas um pouco menos individualistas e mais coletivas. “Que tipo de impacto eu acredito e posso apoiar – seja social, seja ambiental – para o futuro?”. “Estou disposto a dar passos um pouco menos convenientes?”. A Plataforma de Empréstimo Coletivo Sitawi ainda pode ser entendida como um mecanismo eventualmente menos conveniente do que algo que já está disponível no banco e corretoras na carteira de quem investe. Então, é importante estar disposto a colocar um esforço na direção do que a pessoa quer. A partir disso, tem toda a lógica de finanças. Continua valendo, por exemplo, em relação a se perguntar o nível e o risco de retorno, a diversificação de portfólio. Diversificar tanto em classe de artigo, em renda fixa e variável, mas, também, nos ativos dentro de cada uma dessas classes, quais são as empresas e os papéis, especificamente, que a pessoa vai investir.

Vale a pena ter uma carteira de investimentos diversificada?

Sim, vale a pena. Uma carteira de investimentos diversificada é importante para reduzir os riscos financeiros, mas podemos falar para além da “renda fixa” e “renda variável”. As pessoas tipicamente têm uma pluralidade de objetivos e desejos para serem alcançados e isso pode acontecer com diferentes tipos de dinheiro. Explico: no último artigo que produzi, falei sobre o “dinheiro de consumo”, “dinheiro de doação” e “dinheiro de investimento”. Nesse sentido, o dinheiro de investimento pode prover parte desses desejos, mas um portfólio de doação, por exemplo, também é uma forma de realizar objetivos. Minha sugestão é diversificar todos os “seus tipos de dinheiro” e, claro, sempre alinhado com seus propósitos e objetivos.

Deve-se pensar em ter também um portfólio de doações?

Sim, sem dúvida. As pessoas podem e têm alcançado seus objetivos e desejos com vários tipos de recursos, inclusive o dinheiro de doação. Além de transformar o mundo em um lugar melhor, as doações respondem pela solução de parte das necessidades, vontades e desejos pessoais e coletivos. Então, nesse sentido, o investimento responde parte dessas necessidades, mas ter um portfólio de doações também é uma forma de responder a isso. Na verdade, acredito que as pessoas deviam fazer isso com todos os tipos de recursos que possuem.