A startup Genial Care, fundada no Brasil pelo norte-americano Kenny Laplante, trabalha de forma multidisciplinar no cuidado e evolução de crianças autistas e suas famílias, conectando tecnologia e embasamento científico às pessoas. A empresa tem o compromisso de criar ferramentas para ajudar no desenvolvimento de crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista) e capacitar e apoiar pessoas cuidadoras nessa jornada. ”Acreditamos em uma ideia simples, mas fundamental: toda criança merece atingir seu máximo potencial. Assim como aqui dentro: cuidamos e desafiamos nossas próprias pessoas a se tornarem a melhor versão de si mesmas”, ressalta o fundador da Genial Care, Laplante. Uma pesquisa feita em 2020 pela startup com mais de 500 cuidadores de crianças de até 12 anos diagnosticadas com autismo mostrou que as mães são as principais responsáveis pelo cuidado do filho (86% dos casos). Quase 70% dos entrevistados disseram que precisam de ajuda para planejar o futuro a longo prazo da criança e 57% gostariam de orientação sobre o fazer e como agir diante de situações desafiadoras. A ideia para o negócio veio da soma das experiências de Laplante como investidor no fundo de investimentos General Atlantic, que investe no Brasil em companhias como QuintoAndar e Gympass, e voluntário nos postos de saúde brasileiros, enquanto buscava um nicho para atuar em saúde infantil.
Kenny, qual a lembrança mais lúcida que você tem daquele garoto que tinha dificuldades com a fala?
Na infância, eu era completamente não verbal. Por não conseguir acompanhar os colegas de turma, frequentei as aulas em uma classe especial por três anos. Eu era um menino muito agitado e difícil de lidar por causa das dificuldades de comunicação. Graças a uma professora, que também era fonoaudióloga, iniciei uma intervenção desde cedo, assertiva, e consegui começar a me comunicar. Sou neurotípico, não me comparo com quem está no espectro do autismo. Mas sei como o atendimento precoce me ajudou.
Em que momento essa lembrança foi de fundamental importância para o seu empreendimento?
Relembrar o que passei quando criança, o que minha família também passou, e agora, anos mais tarde, tendo familiares no espectro, foi algo de fundamental importância para o meu propósito com a Genial Care.
Quando surge a ideia da Genial Care?
A ideia para o negócio veio da soma das minhas experiências trabalhando na categoria de saúde no fundo de investimento General Atlantic, que investe no Brasil em companhias como QuintoAndar e Gympass, enquanto buscava um nicho para atuar em saúde infantil. Percebi que desde o diagnóstico até a intervenção, há muitas carências relacionadas ao autismo no país.
Qual o seu maior orgulho de ter criado essa startup?
Saber que meu trabalho vai fazer com que cada criança atinja o seu máximo potencial. Acreditamos que todas as crianças têm capacidade de aprender e se desenvolver – sejam elas típicas ou atípicas. Por isso, estamos trazendo tecnologia e inovação para criar caminhos extraordinários para crianças com autismo e suas famílias.
Quais os maiores desafios de trabalhar em prol das crianças autistas e das suas famílias?
Percebi que crianças atípicas ainda sofrem muito pela falta de intervenção precoce. Vivi um pouco dessa realidade e vi como investidor, além de ter familiares no espectro. Além disso, há uma grande carência de informação e falta de acolhimento para os pais e cuidadores. Resolvi empreender na área para ajudar de forma direta e gerar impacto.
Aponte as duas maiores carências relacionadas ao autismo no país.
No Brasil, acredito que as duas maiores carências são a falta de padrões profissionais para intervenção no autismo e a falta de empoderamento para os pais, que são os melhores “professores” dos seus filhos, mas não para torná-los terapeutas, e sim para proporcionar a eles mais informações para cuidarem de suas crianças e de si mesmos nesse processo.
Como suplantar essas carências em sua visão?
Acredito que é preciso pensar de forma holística, direcionando esforços e inovação para a criança, as famílias e os profissionais. Por isso na Genial trabalhamos em algumas frentes:
Avaliação multidisciplinar de ABA, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional para a criança e avaliação do contexto familiar.
Intervenção através de atendimentos para a criança nas clínicas e domiciliar.
Orientação parental, empoderando as pessoas cuidadoras para complementar a intervenção da criança e garantir mais confiança e autocuidado.
Genial Care Academy, um núcleo de capacitação clínica para garantir o padrão ouro para todas as famílias.
A tecnologia também é um grande aliado para suplantar essa carência, desenvolvemos, por exemplo, painéis clínicos de acompanhamento, mensuração e visibilidade do desenvolvimento das crianças.
Durante toda essa jornada de tratamento e aprendizado sobre autismo, as famílias podem se deparar com inúmeras possibilidades para o desenvolvimento da criança. Mas é importante entender que a ciência e as práticas baseadas em evidências são a melhor forma de garantir resultados positivos para a vida dessas crianças.
Por que o foco da Genial está nos cuidadores desde sempre?
Porque a família, o pai e a mãe, são os professores mais naturais que qualquer criança pode ter, eles têm muito potencial para serem protagonistas, mas costumam ser ignorados nos processos. O momento de descoberta é muito sensível para as famílias e esse acolhimento e orientação é muito importante.
Quantas crianças com autismo vivem no Brasil atualmente?
A Organização Mundial da Saúde estima que, em todo mundo, uma em cada 160 crianças tenha autismo. Nos Estados Unidos, um levantamento divulgado em 2020 diz que uma a cada 54 crianças do país está no perfil de Transtorno de Espectro Autista (TEA). O Censo do IBGE 2022 colocou, pela primeira vez, o autismo no radar das estatísticas como forma de mapear quantas pessoas vivem com o transtorno e quantas podem ter, mas ainda não tiveram diagnóstico. No Brasil, estima-se que existam dois milhões de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) – porém, esses dados estão extremamente desatualizados, e por este motivo o IBGE passou a incluí-los no novo Censo, e os resultados devem ser divulgados em breve.
Quais os grandes fatos ocorridos em 2022 com a Genial Care?
Em 2022, expandimos a equipe, inauguramos nossa segunda unidade própria, no Alto de Pinheiros, e demos os passos iniciais para a conquista de um importante aporte, de US$10 milhões (mais de R$50 milhões), liderado pelo fundo de investimento General Catalyst. É o primeiro aporte em saúde comportamental no Brasil feito pelo fundo.
O que a startup almeja para 2023?
A Genial Care recebeu um aporte de US$10 milhões, um investimento liderado pelo fundo General Catalyst, referência mundial em saúde, o que é um marco para o segmento healthtech brasileiro. Estamos em um momento de crescimento da Genial Care, com aumento de cerca de 600% em faturamento ano a ano. O montante recebido será dividido em três principais frentes de atuação: tecnologia proprietária, melhorando nosso app, e ecossistema de produtos para profissionais clínicos; Genial Care Academy, que é a nossa frente de capacitação profissional; e ampliação das contratações corporativas.
Atualmente, temos cerca de 150 colaboradores, e temos como objetivo triplicar nossas unidades próprias, chegando a 12 até o final de 2023. Além disso, temos como expectativa aumentar em dez vezes o número de famílias atendidas até o final deste ano.
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