Sylvia Loeb é psicóloga formada pela PUC-SP e psicanalista pelo Instituto Sedes Sapientiae. Entre outras atividades como psicanalista, atendeu na Escola Paulista de Medicina, atuou junto ao Grupo Biruta de Artes Cênicas (Projeto Quixote), e trabalhou em comunidades de baixa renda. Dedica-se atualmente ao atendimento clínico e supervisão. São dela “Contos do divã – pulsão de morte e outras histórias” (contos, Ateliê Editorial, 2007), “Amores e Tropeços” (contos, Editora Terceiro Nome, 2010), “Heitor” (contos, Editora Terceiro Nome, 2012) e “Homens” (contos, Oficina de Conteúdo, 2017). “Freud [Sigmund Freud, médico neurologista criador da psicanálise. Freud nasceu em uma família judaica, em Freiberg in Mähren, na época pertencente ao Império Austríaco, 1856 – 1939] usava a palavra alma para falar em psique, para falar do inconsciente. Se não prestarmos atenção a essa outra instância que nos habita, o sofrimento pode ser imenso, pois, o inconsciente fala de outro lado nosso, tão real quanto o que conhecemos. E muitas vezes um lado entra em conflito com o outro. Cabe à consciência tentar entender qual o recado que vem do outro lado para tentar um apaziguamento. Não adianta não ouvir, só piora a situação: sintomas físicos, nervosismo, irritação, brigas sem motivação, até desastres de carro, ou mesmo acidentes que machucam o próprio corpo são modos extremos do inconsciente se manifestar”, afirma.
Sylvia, você disse que o ponto primordial que a levou ser psicanalista, foi que você descobriu a atuação do inconsciente em seu dia a dia. Como se deu essa descoberta?
Esse tipo de descoberta sempre se dá pelo sofrimento. Quando minha vida começou a ficar muito difícil fui procurar ajuda especializada, fui para o psicanalista. Foi quando descobri que muito dos meus atos e perturbações eram devidas a forças que eu desconhecia.
Depois dessa descoberta, o que mudou?
A mudança é gradativa, pois, as resistências são imensas. Pouco a pouco fui aprendendo a entender que o que parecia verdade absoluta, não era tão absoluta assim. Comecei a desconfiar de minhas certezas.
Você já disse em uma certa ocasião, que a solidão e o desamparo faz com que a gente saia mais humilde e mais fortes de situações. A solidão cura?
Não, a solidão não cura, necessariamente. Ajuda muito na cura se a pessoa se dedicar, seriamente, a examinar o que está acontecendo com ela, por que chegou nessa situação, nessa condição em que se encontra. A condição de desamparo faz parte de nossa estrutura. É uma condição que se manifesta em cada momento de crise. Saber disso, de nossa fragilidade, nos mostra que não somos sempre todo poderosos. Precisamos dos outros, precisamos de ajuda. Isso nos faz mais humildes, mais sensíveis a nós próprios e aos outros.
Quais as maiores dificuldades cotidianas de uma pessoa que não olha para a sua alma?
Freud [Sigmund Freud, médico neurologista criador da psicanálise. Freud nasceu em uma família judaica, em Freiberg in Mähren, na época pertencente ao Império Austríaco, 1856 – 1939] usava a palavra alma para falar em psique, para falar do inconsciente. Se não prestarmos atenção a essa outra instância que nos habita, o sofrimento pode ser imenso, pois, o inconsciente fala de outro lado nosso, tão real quanto o que conhecemos. E muitas vezes um lado entra em conflito com o outro. Cabe à consciência tentar entender qual o recado que vem do outro lado para tentar um apaziguamento. Não adianta não ouvir, só piora a situação: sintomas físicos, nervosismo, irritação, brigas sem motivação, até desastres de carro, ou mesmo acidentes que machucam o próprio corpo são modos extremos do inconsciente se manifestar, pedindo para ser ouvido.
Jung dizia que aquilo que você resiste, persiste. Por que você acredita que isso acontece?
A resistência tem um modo próprio de agir: ela reprime aquilo que não deseja que venha à consciência. O fato de estar reprimido não quer dizer que não exista mais. Aquele conteúdo fica esperando uma brecha para sair. Tudo que é inconsciente quer vir à luz. É uma força contínua que nos habita. Daí a frase de Jung [Carl Gustav Jung, psiquiatra e psicoterapeuta suíço que fundou a psicologia analítica. Jung propôs e desenvolveu os conceitos da personalidade extrovertida e introvertida, arquétipos e o inconsciente coletivo, 1875 – 1961]: o que resiste, persiste.
Quando você acredita que conseguiu levar a psicanálise para fora da Academia?
Tentei isso com meu o primeiro livro “Contos do Divã e Outras Histórias”. O livro trata das questões de uma analista com seus pacientes. É importante frisar que são pequenas histórias ficcionadas, não falo de meus analisandos. Nesse livro, as questões teóricas estão todas lá, mas numa linguagem acessível. Qualquer pessoa pode ler o livro sem nunca ter ouvido falar de psicanálise. A ideia é justamente levar para fora dos muros da Academia a possibilidade de entendimento de questões tão importantes.
Como você analisa a Academia quando o assunto é a psicanálise?
A Academia é fundamental para o fazer, escrever, pensar, transmitir a psicanálise. Sem ela, a psicanálise não existiria.
Quais são os maiores tropeços que podemos ter no amor?
O amor é cheio de tropeços. Quem imagina diferente está fadado a se frustrar. Não existem almas gêmeas. Mal entendidos, expectativas diferentes, desejos conflitantes com o par, desenvolvimento pessoal conflitante com o desejo do outro, ciúmes, possessividade, controle, a lista é imensa. Saber disso e tentar conversar para se entender, é fundamental.
E o que cura esses tropeços?
Se as diferenças não forem abissais, ouvir o outro, ouvir a si mesmo e tentar conversar com sinceridade, pode ajudar muito. Terapia de casal pode facilitar a um entender o outro.
O que a inconsciência pode mudar de fato na nossa consciência?
Como já relatei na resposta à pergunta quatro, se houver abertura, sabermos mais de nós mesmos amplia nosso conhecimento de nós mesmos e do mundo. Ficamos mais desconfiados de nossas certezas, ficamos mais humildes, pois, percebemos que quem manda em nossa casa, não somos nós, mas outra instância que nos habita e que é mais forte que nós. Nos tornamos melhores.
Gostaria que falasse sobre algo que ainda não foi falado, no que diz respeito ao seu novo livro intitulado “Homens”.
Foi uma surpresa a reação ao meu livro, principalmente por parte de alguns homens. Um deles me escreveu que não pode parar de ler, que o livro incomodou bastante, mas, ao mesmo tempo, que passou a entender muitas das questões contemporâneas que habitam o universo masculino e feminino.
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