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Tendências para o mercado de crédito

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No último ano, o mercado de crédito foi marcado por um crescimento no volume de concessões e uma leve redução na taxa média de juros. Para este ano, o esperado é que o cenário sofra algumas modificações. Pensando nisso, Rodrigo Cabernite, CEO da GYRA+, fintech especializada em crédito para Pequenas e Médias Empresas (PMEs) se reuniu recentemente em um bate-papo com o Bruno Loiola, cofundador da Pluggy, fintech focada em Open Finance no Brasil, para abordar as expectativas e previsões do mercado. Antes de explorar como será o futuro, Cabernite afirma ser importante entender como foi o cenário dos últimos anos. Ele destacou que, em 2021, o crédito concedido por fintechs no Brasil atingiu 55 bilhões de reais. O número representa um crescimento de 1.045% no período 2016-2021. “Apesar de o número ser impressionante, o domínio de grandes bancos permanece indiscutível”, destacou. Entretanto, ambos os especialistas acreditam que com o Open Finance, as fintechs passem a ocupar um espaço de maior impacto no mercado. Isso porque, com o financiamento aberto, os clientes podem compartilhar informações de suas contas correntes para novas instituições financeiras. “A nova instituição avaliadora de risco de crédito poderá fazer uma análise mais abrangente, possivelmente assumindo menor risco e oferecendo taxas de juros mais baratas”, pontuou Loiola. Cabernite completou que o momento atual é de escassez do crédito.

Rodrigo, como você avalia o crescimento do mercado de crédito concedido por fintechs no Brasil nos últimos anos?

De 2017 até 2022, houve uma expansão extremamente forte nas operações de crédito concedidas pelas fintechs no Brasil. Em alguns segmentos, já houve uma desconcentração de mercado, como, por exemplo, em produtos como cartões de crédito com Nubank ou Home Equity com a Creditas. Em outros segmentos, ainda há espaço para que as fintechs conquistem parte dos espaços dominados pelos bancos. No entanto, uma tendência mais recente que estamos observando é que os bancos estão utilizando cada vez mais as tecnologias desenvolvidas pelas fintechs em seus próprios processos de crédito. Empresas como a GYRA+ conseguem, através de suas tecnologias aplicadas aos processos de crédito, resolver alguns gargalos das operações dos bancos e outras instituições financeiras.

Quais são os principais obstáculos que as fintechs enfrentam atualmente para competir com os grandes bancos no mercado de crédito?

A rápida e forte alta dos juros no Brasil impactou as fintechs nos últimos 2 anos. Por um lado, os juros muito altos encarecem o financiamento, por outro, ainda contribuem para a deterioração da qualidade de crédito dos tomadores. Nos níveis atuais de juros, com taxas altamente impeditivas economicamente, as famílias e empresas endividadas enfrentam dificuldades para honrar suas dívidas.

Como o Open Finance pode impactar o mercado de crédito no Brasil e qual o papel das fintechs nesse contexto?

O Open Finance já está mudando a forma como pessoas e empresas se relacionam com o sistema financeiro. Tirar o monopólio de conhecimento sobre os clientes das mãos de poucos bancos enormes foi um passo absolutamente acertado pelo Banco Central, visando proteger o consumidor de potenciais abusos dos bancos. Os próprios bancos ainda estão engatinhando no que diz respeito às suas capacidades de acessar e processar os dados do Open Finance e traduzi-los em novos produtos. Já as fintechs, que nasceram no mundo digital, conseguem surfar essa onda com muito mais naturalidade e criar produtos financeiros muito mais aderentes aos seus clientes. Uma forte tendência observada atualmente é uma crescente procura pelos bancos por tecnologias desenvolvidas pelas fintechs, para melhorar e acelerar seus processos.

Quais são as principais vantagens do financiamento aberto para os clientes em termos de acesso ao crédito e taxas de juros?

Uma vez que qualquer banco ou fintech consiga receber, interpretar e transformar os dados dos clientes em propostas aderentes de crédito, quem se beneficia é o cliente. Na forma antiga, pré-Open Finance, cada produto de prateleira tinha uma taxa média que era cobrada de todos os clientes, independentemente da qualidade de crédito individual de cada cliente. Daqui em diante, veremos um novo cenário de produtos altamente personalizados para cada cliente.

Em relação à escassez de crédito no momento atual, como o Open Finance pode contribuir para democratizar o acesso ao crédito no país?

O momento do crédito, de fato, não é bom. Estamos praticando taxas exorbitantes de juros em um ambiente extremamente afetado pela Covid-19. Consequentemente, observa-se níveis históricos de perdas com provisionamento nos balanços de bancos e fundos. Os produtos com garantias e menos riscos ainda estão sendo ofertados de forma irrestrita, mas são justamente os créditos sem garantias que estão severamente escassos. Acredito que os bons pagadores conseguem ser vistos de forma mais justa com o Open Banking. Eles terão acesso ao crédito, mesmo no atual cenário de escassez.

46 milhões de brasileiros poderão ser incluídos no mercado de crédito com o Open Finance. Quais são as principais razões que impediam essas pessoas de ter acesso ao crédito anteriormente?

O acesso ao crédito de micro e pequenas empresas e pessoas físicas, sem dúvida, pode ser visto como um alicerce social que precisa ser apoiado por todos os agentes do mercado, sejam eles reguladores, bancos, fintechs ou a sociedade como um todo. As pessoas desbancarizadas aos poucos estão criando pequenos históricos nos bancos digitais. Provavelmente, serão esses históricos que poderão ser utilizados por essas pessoas, via Open Finance, para a obtenção de produtos financeiros em outros bancos ou fintechs.

Como a abertura do ecossistema financeiro pode ajudar a combater problemas como ineficiência dos dados, inadimplência e fraude no mercado de crédito?

A quantidade de novos dados sendo criados diariamente continua em uma curva exponencial. A abertura dos dados via Open Finance é o primeiro passo para que os agentes de mercado comecem a se equipar com modelos que sejam capazes de organizar esses dados e utilizá-los como insumo em modelos de Inteligência Artificial para interpretá-los corretamente. Ainda há um longo caminho a ser percorrido para chegarmos perto da utilização do potencial do Open Finance.

Você e o Bruno Loiola já mencionaram o Embedded Credit como uma tendência no mercado. Quais são os benefícios desse modelo para os varejistas e seus clientes?

Embedded Credit se traduz para o português como crédito embarcado. Neste tipo de oferta de produto de crédito, aproveitamos os dados e a distribuição de plataformas digitais como marketplaces, meios de pagamento ou ERPs para ofertar produtos personalizados aos seus dezenas ou, centenas de milhares de usuários. Com isso, o custo de aquisição do cliente cai drasticamente e o crédito fica mais barato. Todos ganham.

Quais são os desafios enfrentados pelas empresas ao fornecerem serviços financeiros embutidos em suas operações principais?

O processo é bastante fácil e geralmente tem pouca fricção. Se uma empresa resolver montar um produto de crédito para potencializar o retorno do seu cliente além do produto core oferecido, o caminho é bastante longo. É preciso montar equipes, estruturar a operação financeira, desenvolver produtos e assumir riscos. Agora, com produtos de prateleira embarcados, como a plataforma de antecipação de recebíveis e capital de giro com recebíveis de cartão oferecida pela GYRA+, a empresa poderá gerar uma oferta de produto muito melhor em pouco tempo e com menos riscos associados.

Como você enxerga o futuro do mercado de crédito no Brasil, considerando o crescimento das fintechs, do Open Finance e do Embedded Finance?

Primeiramente, é preciso melhorar o custo dos produtos de crédito no Brasil. Juros mais baixos são imprescindíveis para a expansão saudável do crédito no país, mas não é só isso. É preciso melhorar todo o arcabouço jurídico no campo da recuperação de créditos inadimplidos. A execução de créditos inadimplentes precisa ser rápida e barata, muito diferente do sistema atual em que vivemos. Uma vez resolvidos os pilares dos juros e do arcabouço, teremos a chance de realmente explorar o tremendo potencial de desconcentração de crédito que temos no Brasil. Sinto que temos uma Ferrari estacionada na garagem, mas ainda estamos asfaltando as ruas.

Como a GYRA+ contribui para ampliar os limites do empreendedor no acesso ao crédito e qual é o diferencial da plataforma em relação aos grandes bancos?

Os pequenos empresários se beneficiam de nossas plataformas ao acessar crédito personalizado para sua realidade financeira. Aqui, seus dados serão avaliados de forma justa e transparente para geração de propostas de crédito. Cada vez mais bancos e outros tipos de instituições financeiras estão utilizando as tecnologias de crédito da GYRA+, tornando esses bancos cada vez mais capacitados a entender seus clientes e acertarem nas ofertas de crédito.


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