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Thiago Alvarez fala do seu aplicativo GuiaBolso

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Thiago Alvarez trabalhou como gerente sênior na consultoria McKinsey & Company, onde se especializou em serviços financeiros. “Lá, me dei conta de que o Brasil tinha uma população muito grande que não entendia sobre finanças”, ressalta o empreendedor. Assim, Thiago criou em 2012, junto com Benjamin Gleason, o GuiaBolso, um aplicativo de finanças pessoais. Em uma única plataforma, é possível visualizar transações bancárias, criar categorias, planejar metas e ter acesso a diversas funcionalidades. Segundo Thiago, o app foi criado para ajudar as pessoas a entender sobre finanças e tomar melhores decisões. Hoje, o aplicativo registra mais de 5 milhões de usuários e já recebeu R$ 215 milhões em cinco rodadas de investimentos. Em 2017, a startup entrou para a lista das fintechs mais inovadoras e promissoras do mundo feita pela consultoria KPMG em parceria com V2 Capital. “A ideia do Guiabolso surgiu algum tempo depois da minha decisão de empreender. Primeiro, chegou um momento da minha vida em que senti a vontade de fazer isso. Depois conheci o Benjamin e sentimos que podíamos fazer algo realmente grande no setor financeiro. Quando a gente percebeu que o momento tinha chegado, começamos a colocar no papel o que poderia ser. Só sabíamos que teria que ser algo de impacto social, que usasse a tecnologia e o suporte digital”, afirma o empreendedor.

Thiago, quais os maiores desafios na hora de empreender em um país tão instável como é o Brasil?

Sem dúvida, empreender é algo bastante desafiador e talvez com dificuldades adicionais por causa de períodos de turbulência na economia brasileira. Um dos primeiros desafios é encontrar o segmento que pretende atuar e ainda como. Acredito que dada a competitividade, empreendedores devem buscar negócios que possuem um grande diferencial, uma grande barreira para novos entrantes num primeiro momento.

Também é importante saber o momento certo para empreender no setor escolhido. Em algumas áreas, se você esperar a regulamentação completa pode já estar atrasado. É o caso do GuiaBolso, criado em 2014, e do open banking, que está sendo discutido agora em 2019. É preciso se antecipar a movimentos do mercado e tomar algum risco nessas decisões.

Após você ter em mente o que quer fazer, outro desafio é conseguir recursos para se sustentar até o seu projeto sair do papel e começar a gerar receita. Passado isso, temos que enfrentar o aprendizado de formar uma equipe forte e com alto potencial de desenvolvimento. E mais que isso, pessoas que acreditem em um projeto que ainda não saiu do papel. Depois vem a tarefa de captar recursos com novos investidores para fazer o negócio crescer, tornar o projeto escalável e quebrar barreiras de confiança do mercado e, em especial dos consumidores.

O que é ser empreendedor em sua visão pessoal?

É ser alguém completamente apaixonado pelo que faz. Se aventurar nesse caminho vai exigir muitas renúncias, rugas de preocupação, horas e mais horas de trabalho árduo. Também é importante conhecer a área que você vai atuar, delimitar o espaço que você vai se dedicar, convencer pessoas a se unir ao projeto, a abraçá-lo e escalá-lo. Passado o momento de viabilizar, o desafio passa a ser conseguir a tração suficiente pra ele sobreviver. E a partir daí conciliar entregas, projetar o curto, médio e longo prazo, sem se esquecer de gerir as equipes, de se reciclar e acompanhar o mercado e as tendências que se desenham no Brasil e mundo afora.

No que essa visão pessoal lhe ajuda no dia a dia do mundo dos negócios?

Essa visão me ajuda a orientar todos que trabalham comigo e inspirá-los a vestir a camisa com o entusiasmo suficiente para cumprir metas e buscar sempre fazer a diferença em benefício dos consumidores, o foco do nosso negócio. Esse pensamento também ajuda a entender que os desafios precisam ser superados diariamente. Então, um bom desempenho precisa ser repetido ou melhorado no dia seguinte.

E algo não tão bom precisa ser ajustado quanto antes. A mentalidade de gestão e de estar sempre preparado e buscando referências também não me deixa esquecer que é importante aprender a cada momento e dedicar parte do mês para buscar novas referências e me inspirar em outros modelos que existem por aí. E como faço isso? Participando de eventos, buscando novos contatos e cases em outros lugares, e me conectando com uma rede de fintechs.

Qual o papel da resiliência para uma empresa se tornar bem-sucedida?

Costumo brincar com o Ben (Benjamin Gleason, meu grande amigo e outro fundador do GuiaBolso) que a resiliência é um dos ingredientes ativos para empreender e continuar nisso. Vamos pegar a nossa história com o GuiaBolso. Perdemos a conta de quantos “nãos” tivemos que ouvir de potenciais investidores. Se a gente desanimasse ou mudasse os rumos com isso, talvez não estivéssemos aqui contando isso. Sempre permanecia na nossa mente e no nosso foco que não importavam as negativas, a gente só precisava de um único sim e ele veio, ainda bem.

Antes de ser empreendedor você passou pela ONG AlfaSol. Quais foram os principais acréscimos em sua carreira que foram oriundas dessa experiência em especial?

Passar pela Alfabetização Solidária foi muito importante na minha trajetória. Lá atuei como CFO e liderei alguns projetos em outras áreas. E a ONG realizava um trabalho extraordinário no setor educacional. Minha passagem por lá abriu perspectivas sobre a importância de oferecer algo realmente palpável e concreto para a sociedade. Ao mesmo tempo, também percebi a possibilidade de interconexão entre as áreas. Passei a acreditar que era possível fazer algo de grande impacto social envolvendo o bolso das pessoas.

Como surgiu a ideia do GuiaBolso?

A ideia do GuiaBolso surgiu algum tempo depois da minha decisão de empreender. Primeiro, chegou um momento da minha vida em que senti a vontade de fazer isso. Depois conheci o Benjamin e sentimos que podíamos fazer algo realmente grande no setor financeiro. Quando a gente percebeu que o momento tinha chegado, começamos a colocar no papel o que poderia ser. Só sabíamos que teria que ser algo de impacto social, que usasse a tecnologia e o suporte digital. E mais importante a gente trazia das nossas experiências profissionais anteriores que nem sempre a relação das pessoas com o sistema financeiro era saudável ou justa e isso precisava ser diferente.

Uma ideia inicial era fazer um consultor financeiro, mais voltado aos investimentos. Então, nos deparamos com um problema anterior. A maioria das pessoas não tinha conhecimento sobre o quanto ganhavam de fato, muito menos como gastavam. E aí estava lançada a semente e os alicerces para desenvolvermos o GuiaBolso.

Quais são os principais pilares da startup?

A gente trabalha com uma grande missão: mudar a forma como o brasileiro lida com o dinheiro e diminuir as distorções do sistema financeiro. A partir disso temos alguns valores que funcionam como referências da empresa, todos aliados ao senso de dono que cada um que está aqui precisa ter.

Esses valores são “poder ser eu mesmo” (desde ser aceito pelo modo que sou ou penso até da maneira como visto. Isso, claro sem ferir o espaço do outro e os princípios da convivência harmônica). Além dele temos o “fazer parte”, “fazer o melhor juntos” e “fazer acontecer” (todos inspiram a uma entrega baseada na ajuda coletiva, na busca pela excelência acima de tudo e no envolvimento de todos que fazem parte daquela engrenagem). Por fim, temos a ideia de “falar a verdade” sempre, principalmente nos momentos difíceis. Ela nos ensina, nos dá suporte e com esse feedback bem estruturado conseguimos nos desenvolver mais rápido e com mais eficiência.

Como as experiências externas lhe moldam como empresário?

Cada contato com outras realidades e experiências são fontes ricas do que se pode fazer em determinada situação, sob um contexto específico. O conhecimento auxilia a ponderar riscos, tentar prever cenários e buscar o caminho que parece fazer mais sentido. E quanto mais exemplos for possível reunir melhor na hora em que algo semelhante acontece. Por isso a importância de ler, ouvir, vivenciar experiências de outros lugares.

E além de ações do trabalho essa ideia serve para atividades fora do expediente. Sabe, coisas que te ajudam a esquecer o trabalho, mesmo que seja por algum tempo. E isso passa pelo contato com a família ou por fazer alguma coisa diferente que a gente gosta. Pode ser relacionado ao esporte, à música, ao que for que te inspire, relaxe e faça feliz.

As suas reflexões internas, te orientam nas tomadas de decisões?

Sem dúvida é importante mapear a situação, listar as possibilidades de ação e os possíveis efeitos de tudo isso. Quando existe algum caso parecido para servir de referência e de certo modo como comparação também ajuda. Consultar outras opiniões também. Mas a decisão final precisa ser minha em muitos momentos e aí é fundamental parar e refletir por alguns momentos antes de optar pelo caminho a ser tomado.

O que o seu aplicativo tem de diferencial e que faz toda a diferença num mercado tão competitivo como é o das finanças pessoais?

Primeiro, o aplicativo é o primeiro e único no Brasil a automatizar em uma única tela as faturas e extratos de todas as contas sincronizadas. Ou seja, a pessoa não precisa anotar quanto e onde gasta. Nosso sistema inteligente já lê e puxa tudo para o app. Tudo simples, rápido e gratuito.

Outro ponto é que a tecnologia entende cada vez mais o usuário a ponto de dar dicas personalizadas para ele e sugerir os produtos que mais fazem sentido naquele momento. É uma espécie de curadoria dos melhores produtos, feito de um jeito individualizado. O que eu recebo de recomendação é diferente do que chega para você e para a outra pessoa.

Por fim, o GuiaBolso usa uma linguagem próxima ao usuário. Não tem essa de tom professoral ou de dar bronca por alguma coisa que é feita. Nosso foco é que a pessoa saiba que cada escolha tem uma consequência. Então, se acabar extrapolando por um lado pode ser possível compensar de outro. O importante é ter um foco e tentar cumpri-lo. E mais importante, ter visibilidade de quanto e como se gasta. Isso evita sustos com o final do mês ou o endividamento em forma de bola de neve.

Quais perguntas que são feitas diariamente por você e que foram fundamentais para o crescimento do GuiaBolso?

Costumo dizer que o GuiaBolso está em uma fase em que tenho que fazer muitas perguntas, levantar problemas e ajudar a trazer as soluções, mas em especial levantar as perguntas. Muitas delas levam em conta se aquilo tudo faz sentido para o usuário e se o que temos ou entregamos é o melhor para ele e resolve as maiores dificuldades que ele enfrenta. Depois preciso pensar na estrutura e na execução a ponto de ponderar se estamos no caminho certo, se é possível fazer melhor e com menos custo ou recursos.

E não se pode descuidar do curto, médio e longo prazo. Quais são os próximos desafios, como me preparo para superá-los. Onde posso melhorar? Como dar bons exemplos a todos? O que preciso cobrar dos outros e como faço isso. O que está acontecendo lá fora que pode me ameaçar, ou ao contrário será um apoio.


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