Foram necessários apenas três anos para o economista russo Michael Kapps, deslanchar seu primeiro empreendimento: uma plataforma de gestão de saúde populacional. Formado pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, seu primeiro “laboratório” foi o município catarinense de Rio Negrinho, com 41.380 habitantes. Foi lá que, em 2015, testou o projeto Tá Na Hora (TNH), um sistema de envio de mensagens telefônicas destinado a aumentar o engajamento em tratamentos de saúde, que hoje atinge 100 mil pessoas em quase todos os estados do país. Clínicas, seguradoras, cidades e grandes empresas, que já são clientes do TNH Health, são responsáveis por registrar seus pacientes no sistema. “A situação atual aumentou a prevalência de transtornos mentais significativamente. A nossa solução (Vitalk), é digital, o que significa que ela é adequada para o momento atual de isolamento social. Adicionalmente (já que empresas têm orçamentos mais apertados) o nosso preço é muito atrativo (4 vezes menos do que a terapia tradicional ou teleterapia). Em muitos casos, a empresa nem precisa pagar para ter acesso a esse serviço (oferecemos desconto para seus funcionários). Do outro lado, as pessoas físicas que podem estar desempregadas atualmente ou em risco de desemprego, olham nossa solução como algo mais econômico para cuidar da sua saúde mental”, afirma.
Por que o setor de saúde como foco dos seus investimentos?
Sempre fui interessado na área de saúde. Com 16 anos fui para Gana e, com meus amigos, montei uma ONG para combater a malária. Ou seja, saúde é minha paixão. É uma área que eu poderia fazer o bem para sociedade e também fazer dinheiro. É um setor que está sempre evoluindo, especialmente na saúde digital. Com o Covid, o setor vai mudar ainda mais drasticamente, porque a saúde digital vai crescer exponencialmente. É um tempo animador…
Quando surge a ideia do TNH Health?
Foi em 2013. Originalmente a ideia foi usar SMS para lembrar as pessoas de tomar seus remédios. Porém, não deu muito certo. Pacientes ficaram chateados de receber muitos SMS, e também nossos clientes (farmácias), não quiseram pagar pelo serviço. Nós quase fechamos a empresa, só que percebemos que pacientes estavam respondendo os SMS. Isso deu a ideia de usar SMS para monitorar a saúde das pessoas. Assim, criamos os primeiros chatbots de saúde no Brasil.
Quais os maiores obstáculos para a implantação dessa ideia?
O maior obstáculo foi tentar convencer um setor muito tradicional para aceitar as inovações. Muitos dos nossos clientes, como a indústria farmacêutica, os planos de saúde, e os municípios, não estavam preparados para a inovação. Por isso, demorou muito para mostrarmos casos de sucesso e começar a escalar.
Como estava a procura por esse serviço antes da pandemia?
O nosso produto principal, a Vitalk, é um aplicativo de saúde mental para ansiedade, depressão e estresse. Enquanto a terapia tradicional custa R$100 por consulta, nossas consultas custam apenas R$25. Antes da pandemia, percebemos que nossos clientes (empresas principalmente) começaram a discutir esse tema. Elas começaram a perceber o valor em investir na saúde mental dos seus colaboradores. Porém, apesar do nosso preço ser muito mais acessível, a demanda foi limitada.
E no momento atual?
Agora, com o Covid, mais empresas estão olhando para a saúde mental. A situação atual aumentou a prevalência de transtornos mentais significativamente. A nossa solução (Vitalk), é digital, o que significa que ela é adequada para o momento atual de isolamento social. Adicionalmente (já que empresas têm orçamentos mais apertados) o nosso preço é muito atrativo (4 vezes menos do que a terapia tradicional ou teleterapia). Em muitos casos, a empresa nem precisa pagar para ter acesso a esse serviço (oferecemos desconto para seus funcionários). Do outro lado, as pessoas físicas que podem estar desempregadas atualmente ou em risco de desemprego, olham nossa solução como algo mais econômico para cuidar da sua saúde mental.
Quais os principais pilares do TNH?
Queremos democratizar acesso à saúde, principalmente a saúde mental. Nossos pilares são impacto social e a inovação.
Em que momento a motivação de impactar mais gente trouxe novas mudanças na empresa?
Percebemos em 2019 que a nossa empresa havia se tornado uma empresa baseada em projetos e não em produto. Percebemos também que sem uma fonte pagadora, nossa solução não chegaria na população, em geral. Por isso, decidimos lançar nosso próprio produto, a Vitalk, e disponibilizá-la gratuitamente para a população inteira. Assim, mais pessoas usariam o produto (com nossa inteligência). Ou seja, com mais escala e mais impacto, o nosso produto fica melhor.
Quais mudanças você diria que foram cruciais para o bom desempenho do TNH?
Adotamos uma gestão baseada em OKRs (Objectives & Key Results), que trouxe um foco melhor para empresa. Agora fica claro para cada área, e para cada pessoa daquela área, o que precisa ser feito. Essa metodologia também permitiu que mudássemos a cultura da empresa para ser “data-driven”, ou seja, tomar decisões baseadas em dados.
A aposta em B2B foi algo pensado desde o começo?
Sim. Nós sempre acreditávamos em B2B. Agora temos um braço B2C, mas nosso core é sempre B2B. Na área de saúde, é muito difícil criar uma empresa B2C. Alinhando os interesses do B2B, você consegue criar algo sustentável.
Como o TNH vislumbra o ano de 2020 para os seus negócios e como a empresa deve encarar o pós-Covid-19?
2020 é um ano de aprendizagem para gente. Com o Covid a nossa empresa cresceu bastante no curto prazo, mas agora precisamos levantar tudo que aprendemos e se tornar ainda mais sustentáveis e escaláveis. O cenário pós-Covid será positivo para gente. Temos uma solução que atende uma demanda crescente (saúde mental). A nossa solução é significativamente mais barata do que outras soluções no mercado, o que será importante durante uma desaceleração da economia. Finalmente, já mostramos evidências da internacionalização da nossa empresa – vamos querer continuar investindo internacionalmente para capturar outros mercados.
A grande missão da empresa é alcançar o maior número de pessoas e usar a tecnologia para melhorar o acesso à saúde. Isso vem sendo alcançado no grau em que você esperava?
Sim e não. Nós já impactamos quase 1 milhão de pessoas, mas isso não é suficiente. Queremos impactar milhões. Nosso impacto pode ser muito mais profundo. Por isso, vamos melhorar ainda mais o nosso produto e serviço para realmente resolver problemas difíceis na saúde, como democratizar o acesso à saúde mental para todos – algo que o sistema atual não consegue fazer. Vamos pesquisar mais, medir melhor o nosso trabalho, para sermos capazes de inovar continuamente.
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