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Tratamentos oncológicos em época de Covid-19

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O medo de contaminação e de piores resultados levou muitos cirurgiões e associações no mundo todo a recomendar a limitação de procedimentos cirúrgicos oncológicos durante a pandemia. Em um estudo publicado no British Journal of Surgery, os pesquisadores analisaram as cirurgias digestivas, urológicas e de mama entre 1º de março e 9 de abril de 2020 e compararam com o mesmo período de 2019. A conclusão é que os procedimentos para câncer podem ser realizados com segurança em pacientes sem infecção demonstrável, desde que o hospital tenha menos de 25% dos leitos ocupados por pacientes com Covid-19, crie áreas separadas para estes procedimentos, além de um programa eficiente de teste para Covid-19. Os cânceres que surgem dentro da cavidade oral, ou da laringe, podem comprimir a via aérea e obstruir, gerando falta de ar, mesmo que os tumores não sejam tão grandes. Isso torna a detecção precoce fundamental, pois, além de ter um prognóstico melhor, também evita outros riscos que os tumores mais agressivos podem causar além da insuficiência respiratória, como o sangramento dentro da árvore brônquica, mais abrupto. “Com certeza, a demora do paciente ao tratamento e o medo de procurar atendimento médico nos primeiros sintomas vão criar um impacto nos tumores de cabeça e pescoço”, explica Leonardo Rangel, cirurgião de cabeça e pescoço, especialista pelo INCA, professor e pesquisador da UERJ.

Doutor, qual foi o impacto da pandemia do coronavírus no tratamento do câncer no Brasil?

Houve um impacto importante e ocorreram de duas formas. A primeira, os pacientes deixaram de procurar atendimento médico de rotina para os tumores mais comuns como mama e próstata e nos outros órgãos também não procuravam quando sentiam os primeiros sintomas. Segundo, os pacientes que decidiram procurar atendimento encontravam médicos impossibilitados de atender e instituições totalmente desviadas para o atendimento da pandemia.

Como o tratamento de câncer se encontrava antes da pandemia?

O tratamento de câncer no Brasil sempre foi um desafio para o Sistema Único de Saúde (SUS). Falta de centros especializados em câncer, equipamentos de radioterapia e tipos de quimioterápicos estão entre os principais gargalos do sistema. É claro, aqui no Brasil existem diferentes realidades, porém, essa dificuldade é vista quase que uniformemente.

Pessoas estão deixando de fazer o tratamento do câncer por causa da epidemia?

Sim, o tratamento de muitos pacientes foi retardado por conta da pandemia. Redução e redirecionamento da força de trabalho e dos insumos foram responsáveis pela redução das vagas disponíveis para tratamento oncológico. As orientações das Secretarias Estaduais de Saúde sempre foram para manter o atendimento oncológico, contudo, respeitando novos protocolos de atendimento e biossegurança para o paciente e equipe de saúde.

O número de mortes deve crescer em relação ao ano de 2019?

A lógica é que deve aumentar, sim, pois há, a tendência dos casos serem diagnosticados de forma mais avançada e com isso um pior prognóstico de sobrevida da doença.

Os tumores de cabeça em especial, também estão em crescimento?

Os tumores de cabeça e pescoço são classicamente relacionados com tabagismo e etilismo. O tabagismo em nosso país reduziu drasticamente nas últimas décadas, logo seria de se esperar que os tumores malignos relacionados com ele também. Entretanto, um novo fator de risco surgiu com a mudança de comportamento sexual. A infecção pelo HPV se torna cada vez mais um importante fator de risco nesses tumores preponderantemente nas neoplasias de orofaringe nas quais atualmente são fundamentais inclusive no estadiamento.

Como fazer a detecção precoce desses tumores?

Em alguns casos, além da apalpação do local em que há anormalidade, o diagnóstico é feito com exames simples como ultrassonografia, mas não é a realidade que encontramos. A maioria dos casos se apresentam de forma avançada e com prognóstico reservado.

Quais sintomas são preponderantes e que merecem uma procura médica com uma maior rapidez?

Identificação de lesões na língua que não somem após 15 dias, rouquidão que não melhora após três semanas, dor ao falar, mastigar ou engolir, além de caroços no pescoço devem nos chamar a atenção rapidamente e levar a procurar atendimento médico especializado.

O senhor é especialista em técnicas minimamente invasivas de tireoide e paratireoide. Essas técnicas são exceções nesse tipo de tratamento?

Técnicas minimamente invasivas, em geral, são para casos mais iniciais e casos que podem esperar algumas semanas ou mês para realização do procedimento. Alguns procedimentos minimamente invasivos podem ser feitos para neoplasias malignas e com isso certa urgência pode ser admitida nestes pacientes. O importante é adequar e individualizar o tratamento do paciente com as melhores técnicas disponíveis e o estágio em que a pandemia se encontra em sua localidade.

Quais os principais desafios no pós-Covid em relação ao câncer?

Primeiro, a prevenção. Pacientes com câncer já possuem um impacto grande em sua saúde geral pela doença ou pelo tratamento em si. Contrair mais uma doença potencialmente grave pode ser devastador para um paciente imunocomprometido e todo cuidado deve ser tomado. Mas estamos falando de pacientes com doenças tempo-sensíveis em que não podemos adiar indefinidamente o início do tratamento. Uma coisa muito difícil de resolver e também é um desafio é a capacidade de atendimento ao paciente com câncer. Uma vez que, todos os serviços de atendimento possuem uma capacidade máxima e geralmente o SUS já trabalha muito próximo de seu limite. O maior desafio será garantir o acesso ao tratamento de centenas de pessoas ao mesmo tempo. Se pensarmos que ficamos quatro meses com a demanda reprimida e que esses pacientes procurarão atendimento após a pandemia será que os serviços de oncologia irão comportar todos esses pacientes?

Fale um pouco da sua aula virtual sobre Ablação por Radiofrequência em nódulos benignos de tireoide.

Umas das maiores preocupações dos pacientes (principalmente mulheres, as mais afetadas) que têm que operar a tireoide é a cicatriz no pescoço. O acesso endoscópico permite fazer ressecção de um grande número de casos (benignos e malignos) sem a necessidade de uma cicatriz na região anterior do pescoço. A Ablação por Radiofrequência permite que nódulos benignos de tireoide sejam tratados de forma quase ambulatorial, com leve sedação e anestesia local com a qual podemos destruir o tecido nodular preservando o tecido normal da glândula tireoide e com isso preservando a função tireoidiana.

A Johns Hopkins Medicine School é uma das escolas mais importantes no mundo na cirurgia minimamente invasiva endocrinológica e de cabeça e pescoço. É uma honra estar entre os professores convidados. Muitos avanços foram feitos nas modalidades de diagnóstico e nas opções de tratamento para doenças da tireoide e da paratireoide. Prezamos pela qualidade de vida do paciente e a técnica deve ser divulgada, pois, é o futuro da medicina. Os conceitos de gerenciamento nesses tumores estão em constante fluxo médico e cirúrgico. Há uma grande quantidade de informações publicadas, incluindo diretrizes, sobre esses tópicos, o que pode dificultar ao médico clínico manter-se atualizado com os novos desenvolvimentos. O curso (realizado no mês passado) é destinado a endocrinologistas, cirurgiões gerais, radiologistas e otorrinolaringologistas.

O objetivo é capacitar o aluno a: resumir os riscos e benefícios potenciais da RFA para nódulos da tireoide; descrever o método pelo qual o RFA funciona; identificar as configurações e métodos apropriados para a aplicação segura de RFA; discutir as indicações e contraindicações da RFA para nódulos tireoidianos benignos.


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