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Um papo com o mestre Carlinhos de Jesus

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Nascido no bairro de Marechal Hermes e criado em Cavalcanti, Carlinhos de Jesus tornou-se um expoente da dança de salão no Brasil, apresentando-se em espetáculos teatrais e em programas de televisão. Atualmente é diretor da Casa de Dança Carlinhos de Jesus. Foi coreógrafo de comissão de frente das Estação Primeira de Mangueira de 1998 a 2008, e posteriormente 2014 e 2015. Coreografou também as Escolas de Samba Império Serrano, Beija Flor, União da Ilha do Governador. Em 2019 foi contratado pela Portela, onde continua no carnaval de 2020. Também atuará como coreógrafo da Unidos do Porto da Pedra no ano vigente. “A dança de salão evoluiu muito. Atualmente quem quiser se profissionalizar tem varias possibilidades. Primeiro deve procurar uma Escola com referência no mercado, um bom profissional o ajudará a conhecer e superar suas limitações. Existem Universidades que oferecem o Curso de Dança e quem tem bacharelado em Dança estará apto a montar e coreografar espetáculos; dar aulas de dança e como bailarino/dançarino ele deverá ter o seu atestado de capacitação profissional fornecido pelo Sindicato dos Profissionais da Dança do seu estado. As melhores oportunidades hoje são oferecidas para quem se capacita e o curso superior traz um diferencial. Hoje podemos dizer que já existe a profissão de professor e dançarino de Salão no Brasil”, afirma.

Carlinhos, a arte deve ter um papel social?

Sim. Acredito e compactuo com isto. A arte, em todas as suas formas, tem o papel de resgatar e eternizar a memória de um povo. Através dela podemos mudar a vida das pessoas, vejo isto no meu dia a dia. Várias pessoas que já tinham o seu “destino” traçado, por viver em regiões de risco social, são resgatados e mudam a sua vida através da arte.

Por que escolheu a dança para mostrar ao mundo o seu talento?

Eu não escolhi, acho que fui escolhido… Ainda criança em Cavalcante, bairro da zona norte do Rio de Janeiro, a dança era o meu lazer, jamais poderia imaginar que viveria, literalmente, dela. O profissional Carlinhos de Jesus surgiu acidentalmente, há 38 anos, na casa do grande jornalista carioca Sérgio Cabral. Fui convidado a dar aulas para um grupo de artistas e não parei mais, os convites se sucederam para inicialmente apresentações de dança e após coreografias para cinema, TV, teatro, espetáculos, carnaval. Abri uma Escola de Dança e posteriormente criei a Cia de Dança que leva o meu nome. No início de tudo tinha 27 anos e era funcionário público, me formei pedagogo e exercia a profissão.

Quais as principais evoluções da dança de salão em nosso país nos últimos 10 anos?

A dança de salão evoluiu muito. Atualmente quem quiser se profissionalizar tem varias possibilidades. Primeiro deve procurar uma Escola com referência no mercado, um bom profissional o ajudará a conhecer e superar suas limitações. Existem Universidades que oferecem o Curso de Dança e quem tem bacharelado em Dança estará apto a montar e coreografar espetáculos; dar aulas de dança e como bailarino/dançarino ele deverá ter o seu atestado de capacitação profissional fornecido pelo Sindicato dos Profissionais da Dança do seu estado. As melhores oportunidades hoje são oferecidas para quem se capacita e o curso superior traz um diferencial. Hoje podemos dizer que já existe a profissão de professor e dançarino de Salão no Brasil, nossos profissionais estão por toda parte vivendo do seu trabalho.

Como criar coisas novas dentro da dança sem que haja uma descaracterização?

É desafiador coreografar ritmos populares brasileiros, sendo contemporâneo, sem perder a essência da nossa cultura. É importante criar sem descaracterizar, nisto eu me policio muito, gosto de contar para os meus alunos uma história que: a Dona Maria faz uma plástica nos olhos, a gente a reconhece e a acha descansada, bonita, depois ela vai fazendo duas, três, várias plásticas e quando aparece ninguém a reconhece mais. Assim é a nossa arte, todo cuidado é pouco…

O que é fundamental na vida de um profissional da dança?

O principal atributo e desafio de um profissional de dança é não se acomodar, estar sempre atento a contemporaneidade. A valorização requer dedicação, profissionalismo, ética, ousadia e coragem. Dançar é muito além do movimento, transcende passos e coreografias, é preciso estudo, foco e ética.

Você fala muito em ter disciplina da profissão. Como aliar disciplina e espontaneidade em seu ofício?

Disciplina e espontaneidade são fundamentais em qualquer profissão. Vou falar do profissional de dança de salão brasileiro, ele se diferencia pela emoção, paixão pelo que faz, sentimento, somos latinos, sul-americanos, passionais, isto conta muitos pontos a nosso favor, pois, esta “latinidade” muitas vezes supera a técnica emocionando plateias e jurados tão rigorosos em grandes competições internacionais.

Quais os principais pilares do seu trabalho?

Intuição, dedicação, parceria e ousadia. Quando estou envolvido em algum trabalho, coreografia de comissão de frente, por exemplo, a inspiração pode vir em sonhos. Muitas vezes acordo na madrugada e escrevo. Posso me inspirar com cenas e fatos do cotidiano da cidade, a leitura da sinopse do enredo, o bate-papo com a equipe são grandes laboratórios coreográficos, algum filme, vivência, enfim… circunstâncias totalmente fora do mundo da dança. Parto então para a execução contando com forte dose de ousadia e com os meus parceiros no trabalho.

Em que momento a dança ganha um tom poético em sua visão?

Para mim a dança é movimento, arte, comunicação, energia e sedução. Ela ganha um tom poético quando emociona, agrega, traz encantamento e celebra a vida!

Você acredita que no artista o corpo espiritual se manifesta de uma maneira mais efetiva?

Sim! Tenho fé, acredito no amor ao próximo, na solidariedade, na família, nos amigos, no trabalho, este somatório me dá suporte na minha caminhada.

Qual o grau de complexidade em coreografar a comissão frente de uma escola de samba?

O trabalho é de muita pesquisa, parceria, dedicação e ensaios incansáveis. Afinal estamos produzindo uma coreografia que transmitirá muita emoção na passarela do samba. A complexidade está no encanto dos movimentos da história que está sendo contada. O enredo é às vezes muito longo, mas em alguns momentos, mágicos, você terá que apresentá-lo no show de abertura do desfile.

Em que momentos a dança lhe salvou?

Em 2011 perdi meu filho tragicamente, e posso dizer que a dança me salvou. Através dela pude extravasar minha dor e homenageá-lo. A dor é permanente, a gente aprende a lidar com ela, tenho certeza que meu filho está bem onde estiver e nos encontraremos novamente um dia.


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