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Um papo com o tech influencer João Gabriel

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Natural de Uibaí, no sertão da Bahia, João Gabriel se mudou para São Paulo com a família quando ainda era adolescente. Na capital paulista, trabalhou primeiramente num lava-rápido, ganhando R$ 70 quinzenalmente, e depois foi ajudar o pai a vender churrasco na rua. Após o falecimento do pai, começou a trabalhar como prensador de sucata em uma empresa, onde chegava a passar 14 horas por dia, para garantir o sustento da família. Aos 23 anos, numa conversa informal, recebeu um conselho que selaria o seu destino, lembra. “Um amigo trabalhava na época com tecnologia e me incentivou a entrar nessa área. Fui pesquisar sobre, entender melhor e decidi cursar Sistemas da Informação. Depois de anos de árduo trabalho, o “Matuto Programador” garantiu seu lugar na lista de nomes mais influentes do LinkedIn. Desde 2015, a rede social elege anualmente 25 perfis como LinkedIn Top Voices, e o de João foi um dos escolhidos em 2020. “Recebi com muita alegria e com muita surpresa, jamais imaginaria que seria escolhido como um influenciador de tecnologia dentro de uma comunidade imensa. Isso mostra que meu conteúdo estava sendo visto e é relevante para ser considerado um tech influencer. Quando recebi o contato do LinkedIn, não acreditei e isso me deu bastante destaque, além de responsabilidade no que vou postar”, afirma o talentoso profissional de tecnologia.

João, quando começa o seu interesse pelo mundo da tecnologia?

Nunca fui uma pessoa muito apegada à tecnologia, no começo da minha carreira eu não tinha muito conhecimento de tecnologia e não era uma área que eu pensava em atuar. Após um amigo me contar, veio a curiosidade sobre o tema, além do curso e profissão que ele estava seguindo. Assim busquei mais informações sobre este campo e decidi entrar no curso de Sistemas da Informação, foi onde realmente comecei a ter contato com tecnologia. Antes disso, a tecnologia para mim era internet, computador, então eu tinha muito pouco contato com este mundo. Isso é algo que acontece muito com o pessoal que mora na periferia e da baixa renda que não tem tanto contato com a tecnologia como outras pessoas.

A partir daí, comecei a gostar da tecnologia, programar e entender a diferença entre a tecnologia que a gente consome e a tecnologia que a gente trabalha. Até hoje não sou apegado a aparelhos, de estar comprando e trocando todo ano celular, mas tenho muito olhar para onde o mercado está indo, para adicionar ao caminho que vou trilhar. Hoje olho bastante para esse lado da evolução tecnológica e não apenas dos aparelhos tecnológicos.

Qual a importância da palavra resiliência para o seu caminho profissional?

Acho que até hoje, a palavra resiliência é o que dá resumo para minha vida e para minha carreira, pois, mesmo passando por diversos problemas e situações, que estão na realidade de 90% dos brasileiros… mas muitos não chegam onde cheguei, justamente pela desistência. Acho que a palavra resiliência é o que norteia minha vida e que me fez chegar até onde estou, pois, se não houvesse muita vontade de estar nesta posição que estou hoje e mudar de vida, provavelmente não estaria aqui.

O que essa resiliência em buscar de algo em que se acredita foi capaz de fazer?

Tudo. Sair de onde eu saí, de uma situação completamente desfavorável, financeiramente, questão de moradia, acreditei e apostei todas as fichas no estudo e na educação, e isso me trouxe uma resiliência enorme de aguentar e passar por situações em que eu acreditava que mesmo estando nelas, eu iria passar por aquilo e que minha vida iria melhorar. Acreditei profundamente na educação, que este seria o caminho que mudaria minha vida, por meio de estudos convencionais e não convencionais, como graduação, cursos e livros. Enfiei a cabeça nisso, acreditando que se houvesse alguma oportunidade para que eu mudasse a minha vida, ela seria por esse caminho e por acreditar nisso, passava por cima de todos os problemas.

Em que momento surge o ponto de virada em sua trajetória em sua visão?

O ponto de virada foi logo no começo da minha carreira, entre o segundo e terceiro ano de profissão e estudos, foi quando consegui ganhar o meu primeiro salário CLT como programador. Passei a ganhar na época, 12 anos atrás, mais de R$ 2 mil reais. Em pouco tempo, cerca de seis meses depois, já estava ganhando um salário de R$ 5 mil reais. Isso mudou a minha vida, da minha família e o patamar da situação que eu vivia. Foi neste momento que caiu a ficha que a minha aposta tinha dado certo, que se continuasse focado no objetivo, as coisas iriam melhorar cada vez mais.

Quando conseguiu o primeiro trabalho na área em que havia estudado?

Após seis meses que entrei na faculdade, consegui um estágio na área e fiz estágio durante um ano e meio em três empresas diferentes, e entre o 2° e 3° ano consegui a oportunidade como CLT. Então esses estágios, me deram experiência e bagagem para conseguir oportunidades de trabalhar em projetos de tecnologia.

O que tira de lições dessa primeira experiência?

Foi a partir desta primeira experiência que tive o contato profissional com o mundo tecnológico, onde consegui ter visão do que iria acontecer na vida real, saindo do mundo acadêmico. Esta primeira experiência me deu lições de resiliência, entender a importância do estudo e a importância de melhorar como profissional para o mercado de trabalho. A principal lição, no entanto, foi que a tecnologia iria mudar minha vida.

Você já passou por órgãos do Governo e por multinacionais. Como foi a experiência em ambas situações?

Trabalhei em grandes empresas de tecnologia e para o Governo. São experiências e ritmos diferentes, as exigências e níveis de cobrança também são diferentes. Mas estar nessas duas diferentes esferas me deram muita experiência e bagagem, além de vivência profissional.

Como avalia a área de TI em nosso país depois de estar nos dois lados?

A área de Tecnologia no Brasil ainda é uma área muito carente de profissionais e é uma área que antigamente as pessoas pensavam que só gente super inteligente poderia trabalhar. É um mercado que as pessoas não tinham muito interesse, achavam que era para “nerd”, com essa estereotipação, de que teria de ser gente que gosta de computador, isolado do mundo, ou aquele super gênio e não é bem assim. Talvez por causa desta visão turva da profissão, hoje estamos passando por uma situação difícil e delicada, que é a falta de mão de obra. Em um país que tem mais de 11 milhões de desempregados, você tem uma área que é extremamente carente de profissionais qualificados, então tem bastante gente buscando melhorar isso, com cursos rápidos de seis meses, um ano, na tentativa de formar os profissionais para esse mercado, que é um mercado escasso, que paga muito bem, tem muita demanda, mas que impossibilita empresas de crescerem pela falta de capacitação das pessoas em trabalhar no mercado de TI. Não se formam profissionais no mesmo ritmo que se abrem oportunidades e as empresas acabam tomando funcionários umas das outras.

Quais as capacitações para ser um profissional bem-sucedido desse setor?

Você deve possuir os hard skills e soft skills. Os profissionais devem ter conhecimento generalista hoje em dia, tendo facilidade em comunicação, trabalhar em grupo e lidar com pessoas. Hoje, quem quer trabalhar com tecnologia, tem que se especializar na área de escolha, como programação ou nuvem e estar atento ao que o mercado está demandando. Para ser bem-sucedido, você tem que ter profissionalismo, resiliência, foco na sua carreira e entender para si mesmo o que é ser bem-sucedido.

Existe um grande campo no setor de TI para o empreendedorismo?

Com certeza, uma das maiores áreas que existem hoje para empreender é a tecnologia. Você pode prestar consultoria para empresas, criar aplicativos, jogos e sites para vender. Além de desenvolver cursos e mentorias, criar startups e produtos. Hoje o campo de tecnologia é muito amplo para quem quer empreender, por isso cada vez mais vemos o movimento de prestar esses trabalhos para consultorias e empresas, sem ser CLT em focos específicos e nichados de diversas áreas. Além disso, os profissionais hoje podem participar de diversos tipos de criação de conteúdo.

Como recebeu a novidade do tech influencer no LinkedIn?

Recebi com muita alegria e com muita surpresa, jamais imaginaria que seria escolhido como um influenciador de tecnologia dentro de uma comunidade imensa. Isso mostra que meu conteúdo estava sendo visto e é relevante para ser considerado um tech influencer. Quando recebi o contato do LinkedIn, não acreditei e isso me deu bastante destaque, além de responsabilidade no que vou postar. O que falo hoje influencia outras pessoas e traz discussões para as comunidades, então penso muito antes de falar ou postar alguma coisa. Mas estou bastante feliz com a trajetória que minha carreira tem tomado a partir disto.


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