“Tive uma ótima carreira na Odontologia por 15 anos, mas sempre soube que não trabalharia nesta área para sempre. Sabia que algum dia mudaria, só nunca imaginei que seria para esta carreira de autora/editora, essas mudanças foram acontecendo gradual e naturalmente. Em 2010, enquanto ainda era dentista, o mundo editorial se abriu para mim, pois, fui convidada a trabalhar em uma editora de revistas odontológicas e me apaixonei pela área de editoração.” A escritora e ilustradora da obra, Carla Sartorelli vive um momento de transição de carreira. Formada em Ortodontia, passou por uma editora especializada em Odontologia e, agora, decidiu mergulhar no mundo da escrita e das ilustrações. Personagens reais deram vida ao livro “Os Bês da Bia”, obra regida pela letra B, que traz a representatividade da infância por meio de um objeto querido por crianças de todas as idades: a bola. É ela quem guia o leitor pelas “bagunças” de Bia dentro de sua casa. Bia, a protagonista, é inspirada na filha de uma amiga da autora, chamada Bianca, tutora da cachorrinha Benta. Foi desta aliteração que a escritora partiu para uma escrita lúdica e poética. “Os Bês da Bia” é o terceiro livro da autora, que atualmente divide sua vida entre o Brasil e a Itália. Os detalhes inéditos dessa escolha incomum e as inspirações para construir a narrativa de “Os Bês da Bia”, Carla revelou no bate-papo a seguir!
Carla, “Os Bês de Bia” é inspirado em personagens reais. Como isso aconteceu?
A história do livro “Os Bês da Bia” é inspirada em uma grande amiga minha, Bianca, que tem uma filha chamada Bia e uma cachorrinha chamada Benta. Na época, Bianca, grávida de seu segundo filho, me contava que iriam viajar: ela, Bia, Benta e a Bisa; e eu brinquei: e o bebê também! Esta aliteração ficou na minha cabeça por um tempo e um dia comecei a escrever o texto e a brincar com as diversas palavras e objetos com B que temos em casa, no cotidiano.
A bola é um objeto querido das crianças de todas as idades. Você diria que ela é a protagonista do lançamento?
Sim, a bola de certa forma é a protagonista, pois, representa o eu interno da Bia. Em geral, representa a vontade todas as crianças em se movimentarem, jogarem, representa também o ato de brincar. Qualquer criança pode se identificar com a brincadeira de bola, pois, é um objeto universal que qualquer criança em qualquer cultura entende.
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De outro modo, a bola permite à criança brincar sozinha, assim como, brincar com outras crianças. Na história a Bia brinca sozinha batendo a bola em vários objetos, e no fim, fica contente, pois, descobre que o bebê já sabe brincar também. É o primeiro momento de brincadeira com o irmãozinho, pois, ela pode brincar sozinha e se divertir, mas agora tem um irmão para brincar com ela também, e é a bola que une os dois neste momento.
Você é formada em Odontologia. Como migrou para a carreira de escritora?
Tive uma ótima carreira na Odontologia por 15 anos, mas sempre soube que não trabalharia nesta área para sempre. Sabia que algum dia mudaria, só nunca imaginei que seria para esta carreira de autora/editora, essas mudanças foram acontecendo gradual e naturalmente. Em 2010, enquanto ainda era dentista, o mundo editorial se abriu para mim, pois, fui convidada a trabalhar em uma editora de revistas odontológicas e me apaixonei pela área de editoração. Voltei a estudar, fiz diversos cursos de editoração, de revisão, de português, e passei a escrever pequenos contos e algumas histórias, mas sem ambição ser publicada. Nesta época, ainda não sabia nem ilustrar.
Uma conhecida me mostrou a ilustração de uma personagem, e eu sugeri um projeto em que eu seria a autora e ela a ilustradora. Nesta época, me empolguei e escrevi 5 histórias infantis, entre elas, meu primeiro livro “de cor em cor” e logo em seguida, os “Os Bês da Bia”. Mas o projeto não foi adiante, e eu tinha minhas histórias, mas não tinha quem as ilustrasse. Então redirecionei meus estudos para artes plásticas (cursos livres de arte e Escola Panamericana de Artes), narrativa e livros ilustrados (com o famoso escritor Fernando Vilela), ilustração científica (para aprimorar a aquarela e meu estilo de ilustração) e comecei a desenvolver meus livros. Tudo isso enquanto ainda era dentista, investi todo meu tempo livre e recursos em aprender a fazer livros. Em 2017 encerrei minha carreira na Odontologia e em 2019 formei minha própria editora. Por escolha consciente, preferi me lançar no mercado brasileiro, porque acredito que devemos investir no nosso país, que tem língua e cultura lindas e ricas, e não existe melhor investimento do que educação. E livros são fundamentais para isso.
Quais outras coisas a odontologia lhe trouxe?
A odontologia me trouxe muitas coisas belas, me ensinou a entender as pessoas, suas dores físicas, mas muitas vezes emocionais também, escutei tantas histórias sob pontos de vista diversos do meu; me ensinou também a pesquisar, a ter método, e como ser empreendedora; além da possibilidade de autofinanciar todos estes estudos. Juntando esta experiência aos estudos que fiz, sinto que sem querer querendo, fui cada vez mais me envolvendo e preparando até chegar aqui neste ponto de ser escritora, ilustradora e editora.
Atualmente você mora na Itália. Como a cultura local tem influenciado no seu processo criativo?
Apesar do pouco tempo em que estou imersa na cultura italiana, pude entender que o mundo todo é uma cidadezinha (tutto mondo é paese, como diz minha octagenária sogra), no sentido de conseguir enxergar o que são diferenças culturais verdadeiras e o que são sentimentos e atitudes inerentes aos seres humanos. Como minhas histórias, em geral, são íntimas, são inspiradas em situações vividas ou pessoas reais, e isso me fez entender um pouco mais o que podem ser características locais e o que podem ser caraterísticas universais das pessoas. E também, como autora, refinei minha consciência de que alguns temas, palavras, ou livros que podem fazer sentido na cultura brasileira, podem não fazer o menor sentido em outras culturas.
E em termos artísticos?
Em termos artísticos, pude vivenciar de perto as referências artísticas milenares, com os clássicos da Roma antiga, do renascimento, da idade média, que eu conhecia somente pelos livros. A influência literária também é importante, pois, pude conhecer autores como Italo Calvino e Dario Fo que me divertem tanto no estilo fantástico-surrealista quanto na brincadeira com a linguagem. Enquanto aprendo cada dia mais a língua italiana, me divirto em achar cognatos, falso cognatos e a etimologia das palavras que viajaram da Roma antiga passando por Portugal e chegando ao Brasil. Outro aspecto da cultura europeia, em geral, é a valorização da originalidade artística, sem muitos padrões comerciais pré-definidos.
Qual a importância de ver um outro mundo de perto?
Ver um outro mundo de perto, com suas qualidades e defeitos, me fez decidir ainda mais em divulgar meus livros no Brasil, pois, acredito que evoluímos individual e coletivamente por meio do conhecimento e da educação, e livros são parte fundamental deste universo.
Há outras obras em vista para serem publicadas?
Sim, até o final do ano prevejo ao menos outros três lançamentos. O próximo livro, previsto para o fim de julho, já está em fase de arte final da ilustração. O livro será na mesma linha de aliteração do “Os Bês da Bia”, mas desta vez João será o personagem que brinca com tantos “ão”.
O que os seus leitores podem esperar para os próximos meses?
Após este, tenho outros dois livros que serão sobre avós, baseados também em pessoas reais. Creio que avós são importantes na estrutura familiar, são mulheres que cuidam, educam, ajudam, dão amor, para várias gerações da família.
*Com participação da jornalista Gabriela Kugelmeier.
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