O portal Panorama Mercantil teve a oportunidade exclusiva de conversar com Fernanda Godoy, especialista em Design de Experiências de Aprendizagem e CEO da Prando Godoy. Com sua vasta experiência, Fernanda compartilhou insights valiosos sobre a influência da Inteligência Artificial (IA) nas empresas que adotaram essa tecnologia em seus processos educacionais. Fernanda ressalta que embora ainda não haja um número expressivo de empresas utilizando IA em experiências formais de aprendizagem, observa-se uma crescente adoção informal. Colaboradores já estão utilizando ferramentas como ChatGPT e Dall-e para criar conteúdos, evidenciando uma aprendizagem prática e contextualizada. A discussão se estende à importância da educação corporativa na preparação para a revolução digital, especialmente diante da integração da IA. Fernanda destaca que a transição exigirá não apenas adaptação, mas uma redefinição de funções, com ênfase em habilidades analíticas, críticas e criativas. “É de fundamental importância e, ao mesmo tempo, este preparo vem acontecendo de forma quase orgânica à medida que as empresas evoluem em sua digitalização e seus colaboradores vão se adaptando às novas ferramentas digitais. Por outro lado, o que a Inteligência Artificial nos propõe parece ser um salto maior, que exigirá um pouco mais de velocidade para a adequação de processos e redesenho de papéis dos colaboradores”, afirma.
Fernanda, que impacto a Inteligência Artificial já teve nas empresas que adotaram essa tecnologia em seus processos, conforme a sua experiência como especialista em Design de Experiências de Aprendizagem?
Ainda não temos um número expressivo de empresas que já adotam a IA como ferramenta para as experiências formais de aprendizagem, mas podemos afirmar que, como a aprendizagem não ocorre apenas com instrumentos formais, tais como treinamentos ou cursos, já notamos que as pessoas aprenderam a utilizar ferramentas como ChatGPT e Dall-e para produzir seus conteúdos, sejam para públicos externos ou internos. Isso significa que já utilizam para aprender algo em suas rotinas. Posso dizer é que a evolução das pesquisas como já conhecíamos e que já utilizávamos para buscar, por exemplo, tutoriais dos mais diversos temas.
Qual a importância da educação corporativa na preparação dos colaboradores para a revolução digital, especialmente considerando a adoção da Inteligência Artificial nas empresas?
É de fundamental importância e, ao mesmo tempo, este preparo vem acontecendo de forma quase orgânica à medida que as empresas evoluem em sua digitalização e seus colaboradores vão se adaptando às novas ferramentas digitais. Por outro lado, o que a Inteligência Artificial nos propõe parece ser um salto maior, que exigirá um pouco mais de velocidade para a adequação de processos e redesenho de papéis dos colaboradores. Isso porque boa parte das funções que hoje são realizadas por muitos colaboradores que estão no nível de analistas passarão a serem feitas com o auxílio da IA de forma mais rápida e precisa, o que significa que estes profissionais deverão desempenhar novos papéis. E que papéis são estes? Ainda não há uma resposta para isso, pois, tem muita coisa a ser definida com o tempo, mas com toda certeza, são papéis que exigirão maior poder de análise, crítica e criatividade.
Como a IA pode ser integrada de maneira benéfica nos processos, softwares, logística e outros aspectos fundamentais das empresas, segundo suas análises no campo de Design de Experiências de Aprendizagem?
O uso de IA já é uma realidade há algum tempo nas áreas de logística, desenvolvimento de Softwares e consequentemente isso impacta em muitos processos dentro das empresas e isso nos leva a perceber que a entrada da IA acaba acontecendo de forma simples e empurrando os profissionais a se adaptarem. Isso é sim uma experiência de aprendizagem on the job. O que não estamos vislumbrando, em termos de Aprendizagem é o “algo mais”, ou seja, estimular o uso da Inteligência Artificial de forma mais ampla na solução dos problemas do dia a dia, mas sim aprendemos a nos adaptar a ela quando já está instalada.
Quais são os benefícios tangíveis que as empresas obtêm ao oferecer treinamentos e capacitações que estimulem o uso da IA, contribuindo para a formação de um mercado mais inovador?
A inovação vem de nossa capacidade de olhar para as coisas ao nosso entorno de forma diferente, estimular o pensamento mais amplo, fora da caixa, certo? Pois bem, a maior parte dos treinamentos recentes acabam por formar pessoas para realizarem tarefas que são processuais, repetitivas e não estimulam o pensamento crítico. Nossa educação, de forma geral, tem sido assim. A combinação de IA e pouco pensamento crítico não é interessante, pois, desta forma ela realmente pode substituir pessoas, então qual o caminho para inovar? Investir no pensamento! Investir em ações educacionais que estimulem o pensar criativo, a busca por soluções inovadoras e deixar as tarefas de busca de dados, relatórios, e identificação de padrões para a IA.
Por que é crucial explorar cuidadosamente como a IA pode impactar a educação corporativa antes de implementá-la, conforme mencionado em suas declarações?
Já existem algumas ferramentas que prometem utilizar a IA para desenvolver cursos e treinamentos, e isso não é ruim, pois, existe uma parte processual grande para a elaboração de cursos e treinamentos. Entretanto, fazer um bom apanhado de conteúdo e escrevê-lo de forma organizada passa muito longe de desenvolver uma experiência de aprendizagem, pois, esta deve conter elementos que facilitem a aprendizagem de habilidades e estímulos à adoção de determinadas atitudes, e não apenas gerar o consumo de informações na intenção de produzir conhecimento. Especialmente para adultos, a aprendizagem passa pela experiência de “fazer”, ou seja, temos que relacionar vários sentidos para estimular a produção de conhecimento, não basta apenas ler ou responder um questionário de forma correta para garantir que a pessoa tenha aprendido algo. É possível aprender a nadar apenas lendo um livro com todas as técnicas e com muitos exemplos de como é nadar? Não. O mesmo acontece para outras áreas de conhecimento. Então precisamos utilizar todos os saberes sobre andragogia, design de aprendizagem e design instrucional para saber exatamente o que pedir para a IA e também para poder analisar o produto oferecido pela IA e assim ter melhores objetos para gerar aprendizagem.
Quais são os desafios específicos ao utilizar a IA na educação corporativa, e como esses desafios podem ser superados para garantir resultados positivos?
Os principais desafios não vêm em função da IA, e sim vem da cultura corporativa. É preciso saber exatamente qual o objetivo de cada ação de aprendizagem, e um objetivo deve responder a 5 perguntas, ao final desta ação:
Quem?
Deverá passar a fazer o quê?
Utilizando qual ferramenta, conhecimento, técnica?
Obtendo qual tipo de performance?
Em quanto tempo isso deve acontecer?
Este é um desafio nos dias atuais, pois, em geral, não temos, de forma assim tão clara, quais são os objetivos de cada ação de aprendizagem, e por isso é tão difícil medir eficácia. E estas são exatamente as informações fundamentais de onde deve partir a construção de qualquer ação, e com a IA não será diferente, afinal, quanto mais preciso for o seu “prompt”, ou seja , pedido, melhor será a resposta que você obterá.
Por que o pensamento estratégico, proveniente de visão analítica e criatividade, é essencial ao implementar a IA na educação corporativa, conforme destacado em suas observações?
Porque estas são as funções humanas, competências socioemocionais que não são cobertas pela IA. Todo o resto ela é capaz de simular, ou seja, sem nossas competências socioemocionais perderemos nossas funções e custaremos mais caro. Então, a visão analítica e criatividade são origem e produto ao mesmo tempo, isso quer dizer que quem é responsável pela educação corporativa, a origem, deve utilizar estas habilidades para identificar necessidades e criar as experiências de aprendizagem adequadas, produto, para o público que por sua vez, terá o desafio de desenvolver continuamente estas competências. É quase um paradoxo, mas podemos dizer que para aproveitarmos ao máximo o que a Inteligência Artificial tem a nos oferecer, precisamos desenvolver continuamente nossas habilidades mais humanas.
Quais são as considerações importantes que as empresas devem fazer ao escolher implementar a Inteligência Artificial na educação corporativa, levando em conta os aspectos críticos mencionados?
As empresas devem considerar que quantidade não é, necessariamente, qualidade e podemos cair na tentação de, por ter uma ou várias ferramentas que produzam muito rapidamente cursos, ou que recomendem a trilha ideal para cada função, passem a ter grandes repertórios de conteúdos que nunca serão visitados por todos ou geram sobrecarga e reduzem o valor a aprendizagem. Ao mesmo tempo que os algoritmos nem sempre acessam todos os contextos de necessidades de desenvolvimento dos colaboradores, e, portanto, podem fazer recomendações inadequadas. A IA precisa de supervisão, precisa que tenha constante validação de suas respostas e criações para que ela continue aprendendo e fique cada vez mais precisa. Lembre: é fácil delegar algumas tarefas para a IA, como, por exemplo, avaliar o que seu colaborador deveria aprender, mas se o líder não observa e dá feedbacks para o desenvolvimento de seu colaborador porque a IA já está cuidando disso, para quê precisamos de um líder de time?
Por que os colaboradores não precisam temer serem substituídos pela tecnologia, e como a educação corporativa pode ser um impulso para a qualidade nas entregas dependentes das tecnologias?
Humanos não precisam temer a substituição se eles lembrarem de serem humanos. A IA ainda precisa da supervisão humana, para corrigir e aprender continuamente. São os humanos que parecem ter a maior capacidade de adaptação a novos cenários e este é só mais um cenário novo. Mas precisamos, sim, lembrar que ao menos nos últimos três séculos, o modelo educacional foi formando a maior parte das pessoas para fazerem de forma muito precisa, tarefas que se repetem, que são processuais, então temos que nos re-conectarmos com nossa essência mais humana, a nossa capacidade de pensar, de questionar, de criar para termos novas funções e contribuirmos para melhorar este mundo em que vivemos, é mandatório pensarmos em ética e responsabilidade no uso da IA.
Quais são os recursos específicos, como criatividade, análise, crítica e humor, que as máquinas não podem substituir, e como a educação corporativa pode desenvolver essas habilidades nos colaboradores?
Neste ponto temos algo muito interessante, pois, o consumo de informações não gera, necessariamente, aprendizagem e quando falamos destas capacidades socioemocionais, como análise, crítica, criatividade, humor, inteligência emocional e social fica ainda mais evidente que é necessário algo além de bons textos ou excelentes oradores. É preciso aprender com o corpo, é preciso experimentar exercícios, práticas, interações, e muitas, muitas variações de visão e experiências. A educação corporativa deve olhar para isso na hora de compor seu repertório de experiências de aprendizagem. Afinal estas serão as principais necessidades de desenvolvimento dos colaboradores. É preciso criar espaço para obter respostas diferentes do habitual, promover discussões, no bom sentido, ouvir ideias diferentes e considerá-las na formação do pensamento crítico. Isso pode, sim, diferenciar pessoas e empresas em um cenário onde a tecnologia não é mais um fator diferencial. À medida que todos acessam a mesma tecnologia, todos ficam iguais. A diferença pode estar nas pessoas.
Por que a inovação deve ser liderada por profissionais preparados, e qual o papel da educação corporativa em acostumar as equipes com tecnologia cognitiva no dia a dia, considerando a transformação profunda que o mercado está passando?
Sem dúvida alguma, o acesso mais amplo à Inteligência Artificial deve trazer mudanças significativas para a sociedade como um todo. E quando falamos de mercado, do mundo das empresas, isso não é diferente. Teremos um salto veloz rumo respostas mais rápidas aos problemas de cada negócio. E as ferramentas que utilizam IA estão sendo utilizadas de forma bastante ampla, poderia até dizer que quase de forma democrática, sendo acessível a pequenas, médias e grandes empresas e o que isso significa? Significa que quando as empresas acessam as mesmas tecnologias, elas se igualam, ou seja, ser diferente no mercado passa a ser mais difícil. E o que poderá trazer o tal diferencial competitivo? Cabeças pensantes! Sim, serão as pessoas melhores preparadas que podem ter as grandes ideias, que podem trazer a inovação ou liderar processos inovativos. É quando poderemos ver o quanto realmente vale cada colaborador para manter seu negócio funcionando com sucesso.
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