A pintura “Witwe” ou “Viúva”, de Lasar Segall, emergiu das sombras do passado após oito décadas de desaparecimento. Originalmente exibida na infame exposição “Arte Degenerada” em Munique, organizada pelo regime nazista de Adolf Hitler, a obra foi redescoberta na Europa pelo marchand Paulo Kuczynski. Este ressurgimento de “Witwe” será o destaque da exposição no Museu Lasar Segall, em São Paulo, inaugurando no dia 19 de maio e se estendendo até 18 de agosto. A exposição ocorrerá durante a 22ª Semana Nacional de Museus, uma iniciativa do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram/MinC) em celebração ao Dia Internacional dos Museus.
Considerada perdida há cerca de 80 anos, a pintura “Witwe” foi descoberta na França há dois anos. Paulo Kuczynski descreveu a emoção da descoberta como um momento inesquecível, ressaltando a intrigante possibilidade de que a obra tenha sido salva por alguém fascinado por ela, possivelmente um oficial nazista, que contrariou ordens para escondê-la e preservá-la. Após negociações, Kuczynski conseguiu trazer a obra para o Brasil, onde foi autenticada por especialistas do Museu Lasar Segall, incluindo Marcelo Monzani, o então diretor do museu, e sua equipe técnica.
Ao ser apresentada ao Museu Lasar Segall, “Witwe” foi meticulosamente analisada e autenticada. Ex-diretores do museu, como Marcelo Araújo, Jorge Schwartz e Giancarlo Hannud, tiveram a oportunidade de ver a pintura pessoalmente, um momento emocionante considerando que até então só a conheciam por meio de fotos em preto e branco. A museóloga Pierina Camargo, com mais de 40 anos de pesquisa no museu, ressaltou a importância histórica da obra e a emoção de vê-la novamente em solo brasileiro, onde finalmente terá a chance de ser admirada pelo público.
“Witwe” foi pintada em 1920, em Dresden, durante um período significativo da produção expressionista de Lasar Segall. No mesmo ano, Segall realizou sua primeira grande exposição individual na Europa, no Folkwang Museum, em Essen. A mostra incluía, além de “Witwe”, 30 desenhos, 35 gravuras e quinze pinturas. A crítica de arte alemã, representada por Will Grohmann, elogiou a inovação de Segall, comparando-o a outros grandes artistas como Wassily Kandinsky e Marc Chagall. Grohmann destacou “Witwe” como uma obra de majestade nobre, protetora, que simbolizava uma premonição de um futuro artístico grandioso.
Em 1937, o governo nazista lançou uma campanha contra o que considerava “arte degenerada”. Obras de vanguardas modernas, incluindo cubismo, expressionismo e fauvismo, foram rotuladas como tal, por não se alinharem aos ideais clássicos de beleza e naturalismo promovidos pelo regime. Aproximadamente 16 mil obras foram confiscadas, incluindo cerca de cinquenta de Lasar Segall. Dentre essas, “Witwe” foi apresentada na exposição “Entartete Kunst” em Munique, que apesar da desaprovação oficial, atraiu mais de 2 milhões de visitantes. Após a mostra, muitas dessas obras foram destruídas, embora algumas, como “Witwe”, tenham sido vendidas no mercado internacional, escapando da destruição.
A redescoberta de “Witwe” e sua exibição no Museu Lasar Segall oferece ao público uma rara oportunidade de ver uma obra que sobreviveu a um período de extrema adversidade. O museu, fundado em 1967, dez anos após a morte do artista, está localizado na casa onde Segall viveu com sua família, na Vila Mariana, em São Paulo. A exposição incluirá, além de “Witwe”, gravuras produzidas por Segall na mesma época, parte do acervo de mais de 3 mil itens que o museu conserva e divulga.
A trajetória de “Witwe” desde sua criação até seu reencontro é um testemunho da resiliência da arte e da história que ela carrega. A obra, que sobreviveu ao regime nazista, agora retorna para ser celebrada e estudada. A exposição no Museu Lasar Segall não só homenageia o legado do artista, mas também destaca a importância de preservar e redescobrir o patrimônio cultural. A pintura “Witwe” não é apenas uma peça de arte, mas uma testemunha silenciosa de um passado turbulento, uma sobrevivente que agora pode ser apreciada e refletida por novas gerações.
A redescoberta de “Witwe” e sua exibição no Museu Lasar Segall são mais do que um evento artístico; são uma reconexão com a história e uma celebração da sobrevivência da arte através dos tempos. Esta exposição promete ser um marco na apreciação da obra de Lasar Segall e na compreensão do impacto cultural e histórico que uma única pintura pode ter.
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