Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Salões de Beleza (ABSB), divulgada no início do mês de junho de 2022, aponta que 44% dos gestores de salões de beleza entrevistados não têm encontrado profissionais capacitados para repor as suas equipes neste momento de reconstrução após o período mais crítico da pandemia de Covid-19. O estudo contemplou gestores de salões de diversos estados do país. “Buscamos divulgar as profissões voltadas para a área da beleza, pois, somos o terceiro maior mercado consumidor de produtos para cabelos, o que requer uma procura grande. Este fomento está sendo feito junto às escolas e cursos profissionalizantes para que haja uma maior valorização da profissão, além de melhor capacitação dos profissionais da beleza”, afirmou o presidente da ABSB, José Augusto Nascimento. A pesquisa também apontou uma queda no faturamento dos salões. De acordo com o levantamento, 12% dos pesquisados faturaram, em março passado, 30% menos que em igual período em 2019. Já em relação ao mês de abril deste ano, 11% dos pesquisados faturaram 20% menos do que no mês de abril de 2019, e 31% faturaram mais do que em abril de 2019. “O setor de beleza é o maior de serviços no Brasil, com mais de cinco milhões de profissionais em todo o país e mais de dois milhões de famílias dependem do setor diretamente. Demonstramos uma habilidade em lidar com as adversidades”, afirma Nascimento.
Quais os maiores desafios do setor de beleza nos últimos anos?
O setor da beleza foi duramente penalizado durante a pandemia. Segundo estimativas das pesquisas que realizamos durante o ano de 2020, mais de 357 mil CNPJ`s da beleza fecharam no país no período. Mesmo assim, o setor vem em uma retomada crescente com relação à 2019 com uma recuperação de 5% ao mês.
Foi preciso se reinventar. Portanto, muitos empreendedores conseguiram se manter graças à criação de promoções e à ampliação de oferta de serviços. Outro fator que também ajudou foi a constitucionalização da Lei do Salão Parceiro, decidida pelo STF, que trouxe tranquilidade para o setor da beleza e bem-estar permitindo que os empresários pudessem seguir pelo menos com segurança jurídica nas suas atividades com as contratações pelo regime do MEI.
O que temos observado muito, é que a reposição de mão de obra vem sendo um dos problemas nesta retomada. Os salões buscam esse caminho da experiência do cliente, sempre buscou, e estamos enfrentando uma escassez de mão de obra qualificada, mas estamos trabalhando no fomento a na formação de novos profissionais. Precisamos formar mais mão de obra, e uma mão de obra bem remunerada, que goza de liberdade, criativa, afinal, são profissionais que amam o que fazem. Mas, temos uma carência grande de qualificação e é um mercado muito importante para o desenvolvimento do Brasil, e estamos buscando divulgar as profissões voltadas para a área da beleza, pois, somos o terceiro maior mercado consumidor de produtos para os cabelos, o que requer uma procura grande. Este fomento está sendo feito junto às escolas, academias, cursos profissionalizantes para que haja uma maior valorização da profissão e melhor capacitação dos profissionais da beleza.
Como o setor passou pelo momento mais crítico da pandemia?
Importante falar também sobre o apoio dos grandes grupos de beleza como, por exemplo, da brasileira da L’Oréal, maior companhia global da indústria da beleza que foi pioneira em auxiliar os salões de beleza no início da pandemia em todo o Brasil. Através da iniciativa Beleza Amiga, plano criado logo no começo da pandemia para minimizar os impactos econômicos e reforçar a higiene e a segurança nos estabelecimentos de beleza. Para isso, algumas medidas foram tomadas, como: congelamento do pagamento de todos os salões de beleza independentes e cabeleireiros desde o dia 26 de março de 2020; treinamento online para cabeleireiros através da L’Oréal Access, a maior plataforma de educação à distância para profissionais que, desde o início do confinamento, teve um aumento de 42 mil para 122 mil usuários; Movimento Beleza Amiga, formado pela L’Oréal Produtos Profissionais, Trinks e Stone, se uniram para criação da plataforma de apoio Beleza Amiga, que impulsionou a compra de vouchers de R$ 50 que foram abatidos no valor final dos serviços prestados pelos salões de beleza cadastrados na reabertura.
Quais os grandes pilares da indústria da beleza em nosso país?
Acredito que o advento da transformação digital em relação ao segmento é um dos pilares, pois, com a pandemia tornou-se urgente a necessidade dos salões de beleza saberem como se posicionar nas redes sociais para conquistar novos clientes. As redes sociais oferecem inúmeras oportunidades. Investir em campanhas digitais, usar as novas tecnologias como realidade aumentada para dinamizar a conversa entre profissional e consumidor.
Outro pilar é a sustentabilidade, este será incondicional, uma vez que os benefícios dos produtos de beleza sustentáveis vão além das tendências, uma vez que, ingredientes mais naturais e ecológicos promovem saúde e consciência sustentável. A diversidade e a inclusão é um pilar que o setor da beleza é precursor: pensar como os salões podem contribuir para uma sociedade mais justa e melhor e trazendo essa consciência para os consumidores. Escolher marcas e empresas que têm esses valores é o futuro do consumo consciente.
Por que esses pilares são fundamentais para o bom andamento do setor?
Estamos falando em tecnologia, sustentabilidade, saúde, diversidade e inclusão. Além dos impactos positivos que esses pilares trazem para o marketing de uma empresa, essas iniciativas trazem um impacto real na vida e saúde das pessoas e nas economias globais. Ao assumir a responsabilidade, as empresas ganham autoridade e respeito entre os consumidores e fornecedores.
Você enxerga algum risco que envolve o crescimento do setor?
O setor de beleza é o maior de serviços no Brasil, com mais de cinco milhões de profissionais em todo o país e mais de dois milhões de famílias dependem do setor diretamente. Demonstramos uma habilidade em lidar com as adversidades. Fomos o primeiro setor a criar, na época da pandemia, um protocolo específico de atendimento, criado por médicos, biomédicos, pelo Sebrae Nacional e Associação Brasileira de Salões de Beleza, um protocolo de segurança para garantir naquele momento o atendimento de forma adequada.
O setor foi o primeiro a criar um manual de procedimentos para garantir a segurança de seus clientes. Claro que ainda enfrentamos dificuldades devido à questão econômica. Muitos empreendedores ainda não conseguiram pagar o empréstimo do Pronampe junto ao Governo ou mesmo empréstimos mais caros ainda, que ainda estão pagando, aluguéis, fornecedores, etc. Mas tenho a certeza, que com a união de todo o nosso setor e com muito trabalho conseguiremos retomar o crescimento com a reabertura econômica e com aumento da interação social.
A transformação digital tem afetado esse ramo em quais aspectos?
O Grupo L’Oréal é um ótimo exemplo de como a transformação digital chega para revolucionar todo o segmento de beleza: treinamentos passaram a ser desenvolvidos de forma online, como foi o caso da L’Oréal Access, a maior plataforma de educação à distância para profissionais que, durante o período do confinamento, teve um aumento de 80% no número de usuários.
Uma de suas mais recentes inovações em tecnologia em prol da beleza é o Colorsonic, um dispositivo portátil e leve de coloração capilar, que usa um inovador processo para misturar e aplicar coloração uniformemente nos cabelos, oferecendo resultados consistentes para os consumidores caseiros. Já o Coloright é o sistema de coloração de cabelo para cabeleireiros profissionais que, conectado à Inteligência Artificial (IA), usa o “Virtual Try-on” (testador virtual) para projetar os tons desejados e um algoritmo que combina colorações sob demanda, com mais de 1.500 possibilidades de tonalidades personalizadas.
Qual é o maior impacto e o que você considera como o mais inesperado dessa transformação?
No quesito atendimento ao cliente, acredito que a consequência disso está em oferecer experiências de beleza personalizadas excepcionais, baseadas na sustentabilidade. Além disso, o seguimento traz inovação para os profissionais de salão com o uso da Inteligência Artificial.
Quais as tendências desse setor para os próximos anos?
A sustentabilidade é um fator decisivo para reduzir o impacto dos salões no meio ambiente e a redução de plásticos nas embalagens. Salões de beleza como o Care Body&Soul, no Rio de Janeiro, e o Celio Faria Instituto, em Belo Horizonte, já possuem adaptações pensando nessas questões. O nosso setor foi o primeiro a criar um rigoroso protocolo de segurança com as principais orientações para que os negócios da beleza pudessem enfrentar a crise. Elas foram implementadas por salões de beleza, barbearias e clínicas de estética para proporcionar a retomada segura das atividades e devem ser seguidas à risca por todos os profissionais mesmo com a vacinação.
Os treinamentos dos profissionais para cada protocolo capilar e a certificação dos produtos utilizados também será de suma importância, incluindo a transparência em relação aos componentes das fórmulas. A L’Oréal lançou o “Por dentro dos nossos produtos”, plataforma digital em que o consumidor pode saber mais informações sobre substâncias utilizadas, como os produtos são feitos, além de vídeos explicativos sobre componentes comumente presentes na formulação de cosméticos, em geral. O mercado da beleza profissional também abraça a diversidade, em termos símbolos de representatividade para inspirar aqueles que querem seguir o mesmo caminho. Salões de beleza, assim como marcas, têm papel fundamental na contribuição para uma sociedade mais justa, diversa e inclusiva e isso é uma demanda cada vez mais frequente dos consumidores e clientes.
Como a ABSB está alocada nesse ecossistema?
Estamos alinhados às novidades do mercado, sempre trabalhando para revigorar, e melhorar o setor, promovendo o aumento das vagas de emprego e melhores condições de trabalho. Ano passado, por exemplo, trabalhamos intensamente para tornarconstitucional, a Lei do Salão Parceiro, que torna possível a criação de contrato de prestação de serviços entre o salão de beleza e os cabeleireiros, barbeiros, esteticistas, manicures, pedicures, depiladores e maquiadores, para criar uma segurança jurídica sem criar um vínculo empregatício, podendo optar também pelo vínculo empregatício, se assim desejarem.
O que norteia a atuação da entidade como representante das empresas do setor?
O que norteia são as dificuldades e oportunidades que temos no nosso setor para que os salões consigam se destacar, se diferenciar e avançar mesmo em momentos difíceis com a retomada da economia. Hoje, estamos focados na questão de um ambiente fiscal melhor, principalmente com relação ao MEI, onde pleiteamos um aumento nos valores do MEI de R$82 mil reais para R$137 mil reais por ano. Isso é um ganho extremamente significativo para o setor da beleza. Também estamos, junto ao STF, como “amicus curiae”, para que as empresas do Simples Nacional não paguem a substituição tributária, uma vez que há um entendimento de que já se paga na tabela do Simples, o ICM, Imposto sobre circulação de Mercadorias. Então, as empresas de beleza que estão no Simples Nacional não deveriam pagar a ST. Por isso, somos “amicus curiae” de uma ação, aberta pelo Sebrae Nacional e pela OAB, cuja prerrogativa é o não pagamento da substituição tributária pelas empresas do Simples Nacional de beleza.
Uma outra demanda importante é um pleito, pela derrubada do veto da Lei da Praça, Projeto de Lei (PL) 2.110/2019, que define o termo “praça” para efeito de tributação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). De acordo com o projeto, “praça” é o município onde está situado o estabelecimento do remetente do produto. A derrubada deste veto é de suma importância para os salões de beleza. Pois, se esse veto for mantido, o Fisco Federal vai começar uma nova cobrança de imposto, que deve encarecer em 20% os produtos que são usados nos salões, o que afeta diretamente os salões de beleza, portanto, estamos ajudando as indústrias nessa jornada para que paguem o imposto devido.
Quais os principais movimentos da ABSB para os próximos meses?
Estamos à frente dessas ações e também nos dedicando na promoção de cursos e workshops para profissionais da área da beleza, contando sempre com importantes parceiros, sempre com o objetivo de capacitar os profissionais da beleza. Os três pilares dessa alavancagem são: educação, tecnologia e humanização. Esperamos formalizar o setor, elevando a qualidade técnica e gerando inclusão física e digital para o atual mercado de trabalho. Afinal, o Brasil está entre os cinco maiores mercados de beleza do mundo. A educação e a capacitação são os pilares para a retomada econômica.
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