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A visão empreendedora da visionária Chieko Aoki

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A empresária nipo-brasileira Chieko Aoki é fundadora e presidente da rede Blue Tree Hotels. Em dez anos, a empresária transformou a rede em uma das maiores cadeias hoteleiras do país e benchmark em excelência de serviços no setor. Em 2013, foi classificada pela revista norte-americana Forbes como “a segunda mulher de negócios mais poderosa do Brasil” e escolhida pelo jornal Valor Econômico dentre as melhores executivas brasileiras. Chieko participa de diversas organizações de âmbito privado e governamental, como o Conselho de Empresários da América Latina (CEAL), Grupo de Líderes Empresariais (LIDE), grupo Brasil-Japão da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), Academia Brasileira de Eventos, Associação do Centenário da Imigração Japonesa e de várias entidades ligadas ao turismo. Em 2006 foi eleita presidente do LIDEM – Grupo de Mulheres Líderes Empresariais e passou a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Marketing, entidade criada para integrar os melhores profissionais brasileiros. “Acredito que cultura é como a personalidade, se comparada com pessoas. A não ser que esteja desempenhando um papel, protagonizando personagem em cinema ou teatro, devemos ter personalidade própria no qual acreditamos e que queremos continuar a desenvolver e melhorar. (…) A técnica é meio para gerar, criar ou produzir algum tipo de satisfação e de bem-estar para as pessoas.”

Como a senhora ainda mantém a voracidade no mundo dos negócios, mesmo depois de ter chegando ao topo em sua carreira?

A primeira premissa é que não cheguei ao topo da carreira e tenho certeza de que nunca chegarei, porque na vida não existe limite. Isto significa também que não existe topo da carreira, ela é tão elástica como o mercado, o potencial da concorrência e a nossa própria capacidade de mudar e de transformar. Quanto à voracidade, é verdade. Sou agitada e já acordo achando que perdi tempo dormindo. E, quanto mais o trabalho se torna mais apaixonante, mais esquecemos do tempo. Por isso, a voracidade não é da gente, mas de como o negócio nos faz encontrar valor e razão de viver.

O que é mais importante para um negócio que queira se tornar bem-sucedido: habilidade técnica ou comportamental?

Ambos são importantes. A técnica é meio para gerar, criar ou produzir algum tipo de satisfação e de bem-estar para as pessoas. Na primeira fase, acredito que a atração é para a técnica, porque temos muitos anos de aprendizado nas escolas, que nos preparam para gostar desta habilidade. Desta primeira fase, começa outro tipo de aprendizado – como um todo comportamental – importante para nós e para o relacionamento com os nossos stakeholders (parte interessada).

Em 1992, a senhora fundou a empresa Caesar Towers que se tornou, em 1997, Blue Tree Hotels. Qual pilar manteve no Blue Tree Hotels que já se tinha no Caesar Towers?

Na mudança, todos os pilares foram mantidos. É como casar e mudar de nome. Nada muda, mas amplia a responsabilidade, sensibilidade e a renovação para novos horizontes. Por isso, digo que é igual casamento, sob perspectiva de mulher que cresce e faz o companheiro crescer. Também porque, quando há relacionamento humano, um mais um não é dois, mas sim 11 ou muito mais. Foi assim de Caesar Towers para Blue Tree. Cultura da “família Caesar Towers” ganhando ainda mais valores com a cultura “Blue Tree”, que nasceu dos mesmos pais.

O setor hoteleiro está sentindo o momento econômico desfavorável do nosso país em quais sentidos?

Hotelaria está intimamente ligada com a economia do país e, consequentemente, com a situação financeira das empresas e das famílias porque dependemos delas para a ocupação dos hotéis. O momento não é favorável, sob perspectiva de receita, mas muito propício para o aprendizado, melhorias, transformações e para mudança radical da forma de operar o negócio. Trata-se de uma fase importante, interessante e vibrante.

Em várias entrevistas que já concedeu, você sempre fala da forte cultura da Blue Tree. Gostaria que falasse um pouco mais sobre essa cultura que sempre reitera.

Acredito que cultura é como a personalidade, se comparada com pessoas. A não ser que esteja desempenhando um papel, protagonizando personagem em cinema ou teatro, devemos ter personalidade própria no qual acreditamos e que queremos continuar a desenvolver e melhorar. É o pilar da empresa, por isso compartilho, falo e reforço todo o tempo com nossos colaboradores. Se a equipe é a empresa, ela precisa sentir e adotar, de forma verdadeira e firme os valores e cultura. No caso da Blue Tree, a essência é o pensamento da Madre Teresa de Calcutá que diz “não deixe jamais, que alguém que se achegou de ti vá embora, sem sentir-se melhor ou mais feliz”. É assim que recebemos e interagimos com todas as pessoas com quem nos relacionamos. Apreciamos a simplicidade com excelência e alto padrão de qualidade. Inovação e melhoria contínua. Queremos que as pessoas e o mundo sejam felizes, efetivamente.

Existiu um momento que sentiu que tinha alcançado a excelência no seu setor?

Ainda não tive esta chance, porque meu nível de exigência é flutuante, aumenta a cada dia ou a cada experiência positiva. É como atleta, cuja maior satisfação não é ser melhor que o outro e sim superar o seu melhor. Não comparo meu negócio com nosso setor e sim com todos os negócios do mercado, uma vez que mercado é meu campo de atuação.

A senhora diz que sua trajetória como empreendedora se deu de uma forma natural. Qual a sua visão sobre o empreendedorismo brasileiro?

O brasileiro é muito empreendedor, pois, passamos por muitas crises e dificuldades que nos dão energia interna para buscar soluções para vida melhor. Uma delas é o empreendedorismo que, além de possibilitar a mais variada opção de “o que e como fazer”, ainda alimenta o prazer humano de liberdade. O empreendedor brasileiro é incrível, tem enorme capacidade de absorver as dificuldades com flexibilidade e alegria, o que proporciona grande diferença para o sucesso da empresa: o de ser positivo e ter energia para fazer.

Diria que o grande trunfo da Blue Tree é proporcionar experiências?

Sim, acredito que devemos superar as expectativas dos clientes, as transformando em experiências inéditas, diferentes e sempre encantadoras. Adoro inovar, transformar e dar nova roupagem e experiência às coisas comuns. Enxergar o antigo com olhar novo, mantendo a riqueza do antigo e trazendo a beleza atualizada do novo. Gosto do potencial de encantar as pessoas, independentemente se são clientes, parceiros e colaboradores. Uma das alegrias da vida é experiência, conhecer coisas novas e sentir continuamente que a vida pode ser diferente.

Como a Blue Tree tem tratado a inovação em seus negócios?

É muito difícil inovar o tempo todo. Fazemos melhoria contínua e, de repente, temos a felicidade daquele “click” para inovação. Na Blue Tree, nós fazemos isso: queremos melhorias o tempo todo e que façam acontecer a inovação, porque isso é positivo e um legado importante para o mercado.

Quais são as dificuldades em coordenar duas dezenas de hotéis e conseguir a excelência em todos eles?

A primeira coisa que a gente aprende com o crescimento da empresa é a difícil mudança do fazer para o delegar. Para mim, nunca foi fácil e continua não sendo. Vejo o mesmo com meus amigos, mas a fila precisa andar e formar pessoas é fundamental. É como a agulha e a linha: agulha faz, mas – depois ela deve sair – deixar a linha para garantir a continuidade. É o grupo da continuidade que garante a excelência e a agulha de criar caminho certo para modelo definido.

Gostaria que nos falasse quais serão as próximas tendências no setor em que atua e como a Blue Tree está se preparando para elas.

É muito difícil falar em tendência diferenciada porque vivemos um tempo em que surgem produtos ou serviços inéditos a todo o tempo. A única realidade é que tudo muda, o tempo todo e muito rápido. Teremos hotéis diferentes para diferentes segmentos de mercado, formas inéditas de hospedagem, de utilizar o tempo no hotel, etc. Ao mesmo tempo, mesmo que existam os maiores avanços na tecnologia dos mais inimagináveis hoje, acredito que enquanto clientes forem pessoas, o fator ou a tendência mais valiosa será sempre a qualidade do sentimento pela experiência que entregamos, servindo, valorizando, dando significado ou facilitando suas vidas.


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