Alexandre Espirito Santo é economista da Órama Investimentos, com Mestrado e MBA em Finanças. É professor de Finanças e Macroeconomia no IBMEC-RJ. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Mercados Financeiros, onde atua desde 1987. Foi articulista do jornal Valor Econômico entre 2005 e 2011, do jornal Brasil Econômico entre 2012 e 2015. É colaborador do Você Investe do jornal O Globo e consultor da ABADI (Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis), membro da Academia Nacional de Economia (cátedra 64) e comendador (título reconhecido pelo governo do estado de SP). É colunista no site Valor Investe. “Em 2019, o principal assunto na economia foi a Reforma da Previdência. Tivemos outros temas importantes, como a MP da liberdade econômica, mas que não demos a devida relevância. Para 2020, penso que a agenda reformista deva continuar. Nesse sentido, vejo as reformas tributária e administrativa como indispensáveis. O problema é que neste ano temos eleições municipais, e o calendário político espreme o tempo de discussão dessas pautas no Congresso. Pari passu, creio que seja imperativo deslancharmos, finalmente, o programa de privatizações, além de tornarmos o Banco Central independente. Se for para pedir o melhor cenário, incluo, também, o Pacto Federativo na lista”, afirma o experiente e influente economista da notória organização de investimentos.
Alexandre, para onde nossa economia deve caminhar em 2020?
O ano começou bem agitado. Nos primeiros dias, tivemos o ataque americano no Iraque, que tirou a vida de um dos homens fortes do Irã, o general Soleimani. Era o fantasma de uma eventual guerra, numa região complicada como o Oriente Médio. Poucos dias depois, surge o coronavírus chinês, que desperta o receio de uma pandemia de gripe, podendo afetar fortemente o crescimento global. Como nossa economia está inserida nesse mundo globalizado, precisamos avaliar os efeitos, principalmente do vírus. Todavia, estou otimista. Se não for um “cisne negro”, onde o imponderável prepondera, penso que teremos um ano positivo. Meu cenário de referência, que passamos para os clientes da Órama, é de um crescimento entre 2,3% e 2,5% no PIB brasileiro, muito melhor do que o de 2019, que deve ter apresentado crescimento em torno de 1%.
Quais os principais assuntos que devem movimentar o cenário econômico doméstico no ano corrente?
Em 2019, o principal assunto na economia foi a Reforma da Previdência. Tivemos outros temas importantes, como a MP da liberdade econômica, mas que não demos a devida relevância. Para 2020, penso que a agenda reformista deva continuar. Nesse sentido, vejo as reformas tributária e administrativa como indispensáveis. O problema é que neste ano temos eleições municipais, e o calendário político espreme o tempo de discussão dessas pautas no Congresso. Pari passu, creio que seja imperativo deslancharmos, finalmente, o programa de privatizações, além de tornarmos o Banco Central independente. Se for para pedir o melhor cenário, incluo, também, o Pacto Federativo na lista.
Como avalia o primeiro ano do Governo Bolsonaro no que se refere à política econômica?
De forma positiva. A despeito dos ruídos políticos, a equipe econômica conseguiu se blindar e teve o mérito de fazer um diagnóstico adequado dos nossos dois principais problemas: diminuir o tamanho do Estado e promover um ajuste fiscal para valer.
A equipe econômica liderada por Paulo Guedes tem realizado um bom trabalho em sua visão?
A equipe, capitaneada pelo ministro Paulo Guedes, é qualificada. Nesse sentido, com a Reforma da Previdência e outras medidas que foram na direção de resgatar a credibilidade fiscal, o Banco Central conseguiu reduzir, sem malabarismos, a taxa SELIC para patamares inimaginavelmente baixos. Com a taxa atual na casa dos 4% ao ano, a menor de nossa história, economizaremos, nos próximos quatro ou cinco anos, quase R$ 400 bilhões em pagamento de juros. O bom é que esses recursos poderão ser usados pela sociedade em infraestrutura, saúde e educação, por exemplo.
As reformas farão o Brasil crescer de forma sustentável?
Sim! Tenho poucas dúvidas em relação a isso. Caso continuemos com essas diretrizes de responsabilidade fiscal, a relação dívida/PIB, que é muito alta, vai refluir no médio prazo, e os investimentos retornarão com força. Assim, se o mundo não atrapalhar, voltaremos a apresentar crescimentos entre 3,0% e 3,5% no PIB, sem gerar inflação, o que é importante.
Com as reformas e com os juros mais baixos, podemos obter novamente crédito das agências de risco?
Acredito que sim. O risco do Brasil, medido pelo Credit Default Swap (CDS), está em 100 pontos, em linha com outros países, que são grau de investimento. Nós, infelizmente, perdemos essa condição faz alguns anos, por conta das escolhas feitas no passado não muito distante e que nos levaram a uma enorme recessão. Minha expectativa é de que voltaremos a ter esse selo a partir do ano que vem, dando tudo certo. Mas, em 2020, já deveremos ter uma melhora de rating.
Qual foi o real impacto da liberação do FGTS na recuperação da economia nacional?
O FGTS liberado teve um impacto, nas minhas contas, em torno de 0,3% no PIB de 2019. Isso contrabalançou parte das perdas que tivemos com a tragédia de Brumadinho e com a debacle argentina. Ambos “roubaram” crescimento de PIB no ano passado.
O número de novos empreendimentos cresceu 25,5% em novembro de 2019. Sente que os empresários estão mais otimistas com a atual conjuntura?
Sinto, sim, mas só isso não é suficiente. Otimismo desaparece de uma forma muito rápida. Cada vez mais estou convencido de que um dos principais motores da economia é a melhora da governança, e, para tal, precisamos de políticas econômicas críveis e bem executadas. Tudo isso gera otimismo e investimentos produtivos, criando-se um ciclo virtuoso, de aumento de emprego, renda e consumo. O que quero dizer é: se prosseguirmos focados na agenda reformista, com o ajuste fiscal em curso, o investimento produtivo pode mudar de patamar e voltar para a casa dos 5% anuais. O crescimento, então, deixa de depender do Estado e fica vinculado ao setor privado.
Que fatos seriam desastrosos para a economia nacional?
Existem alguns. A reversão da agenda reformista seria muito ruim. Um eventual problema político que desestabilize o Governo, com impactos negativos na relação com o Congresso, abalaria a confiança dos agentes econômicos. Estresses entre poderes, questões institucionais, acirramento do “Fla x Flu político” por conta das eleições para prefeitos, tudo isso seria péssimo. Mas, sinceramente, meu maior receio mesmo vem lá de fora.
No que devemos ficar de olho no mercado externo?
Nessa questão do vírus chinês. Se for uma pandemia, com elevado índice de letalidade, teremos uma perda de um ponto percentual no crescimento global em 2020, pois, a China vai desacelerar pelo menos meio ponto. Este ano também teremos eleições presidenciais nos EUA, e o cenário pode ser conturbado, até porque o presidente Trump está enfrentando um processo de impedimento (em 5 de fevereiro o senado dos Estados Unidos absolveu o presidente Donald Trump das acusações de abuso de poder e obstrução do Congresso). Esses fatores, em conjunto, têm como afetar negativamente as bolsas internacionais e os mercados financeiros. Outro ponto diz respeito à guerra comercial sino americana, que pode empacar na fase 2. Enfim, mundo globalizado é sempre desafiador.
Você disse em 2016, que uma vitória de Trump chacoalharia Wall Street. Uma reeleição do bilionário presidente, poderá chacoalhar Wall Street desta vez?
Pois é, Trump chacoalhou tudo. Fez uma reforma tributária, reduzindo impostos, que ajudou bastante na valorização das ações em bolsas. Brigou com o presidente do FED, criou estresse com os chineses (a tal guerra comercial), com aliados tradicionais e se envolveu em diversas polêmicas, que geraram, inclusive, o processo de impeachment. O ponto, contudo, é que a economia americana está muito forte, e isso é bom para ele. Ou seja, respondendo objetivamente sua pergunta: sim! Mas, em minha opinião, não será uma reeleição tão tranquila quanto a maioria acredita.
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