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Armando Castelar analisa subida atual do dólar

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Armando Castelar Pinheiro é formado em matemática pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em economia pela Universidade de Berkeley e engenharia eletrônica no Instituto Tecnológico de Aeronáutica. É professor da UFRJ, membro da Comissão de Economia da Federação Brasileira de Bancos, analista da firma de private equity Gávea Investimentos e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e coordenador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas. Castelar lecionou na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e foi o chefe do Departamento Econômico do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Foi pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, mas saiu da instituição em 2009. Castelar é um especialista em instituições financeiras e em economia do Judiciário, e é articulista dos jornais Correio Braziliense e Valor Econômico. “O baixíssimo nível de investimento em infraestrutura, estacionado há décadas entre 2,0% e 2,5% do PIB (Produto Interno Bruto), é insuficiente para repor o que é depreciado e ainda expandir a capacidade de oferta. Menos discutida, mas tão ou mais importante, é a baixa eficiência do investimento em infraestrutura; isto é, o quanto de aumento de capacidade de oferta se extrai de cada real investido no setor”, afirma o economista.

O que o Brasil deve fazer para ter um foco maior na produção e menos no consumo?

Para melhorar as condições de produção, um ponto nevrálgico é a melhoria da infraestrutura do país. É muito difícil um empresário fazer planos de expansão da produção em um contexto em que há risco de racionamento de água e energia. A crise hídrica teve seu papel, mas, especialmente no que diz respeito ao setor elétrico, era possível fazer melhor. Há também outras áreas em que os gargalos são enormes, como os transportes, mas que estão em menor evidência diante da situação nesses dois setores que são tão fundamentais para o funcionamento da economia. A péssima infraestrutura de transportes no país pressiona os custos ao longo das cadeias produtivas e encarece os produtos (sejam eles primários ou manufaturados), reduzindo a competitividade nacional.

Na época da crise global de 2008, alguns economistas diziam que “respingos” da mesma poderiam alcançar o Brasil num futuro próximo. Esses respingos realmente alcançaram o nosso país neste momento complicado, ou são coisas completamente diferentes?

Uma crise nos países desenvolvidos sempre têm consequências para os demais. Algumas delas foram positivas para o Brasil, inclusive. As medidas de política monetária adotadas na Europa e, principalmente, nos EUA, como o Quantitative Easing [conhecido também como flexibilização quantitativa. É a criação de quantidades significantes de dinheiro novo (geralmente eletronicamente) por um banco central. É um jargão para uma ação de política monetária do Banco Central], reduziram as taxas de juros de longo prazo e elevaram a liquidez da economia internacional, melhorando as condições de financiamento externo para o Brasil. Por outro lado, a crise nas economias centrais teve efeito negativo sobre as exportações brasileiras, embora a China tenha, em parte, sustentado a demanda. Na realidade, no momento atual o que está nos prejudicando é justamente a recuperação parcial da economia dos países desenvolvidos (em especial dos EUA). Há uma tendência de abandono das políticas monetárias que nos beneficiaram, mas, como o crescimento nesses países ainda não deslanchou, a demanda pelas nossas exportações ainda não retomou os patamares pré-crise – o que é reforçado pela desaceleração da China.

No Governo do presidente Lula, o país teve uma forte expansão do crédito. Naquela época o Governo agiu corretamente, ou deveria ter tido um pouco mais de cautela?

Certamente deveria ter tido mais cautela. Agora que, finalmente, o baixo crescimento econômico começou a impactar o mercado de trabalho, haverá fortes reflexos sobre as finanças dos bancos públicos, pois, com famílias e empresas mais endividadas, aumentará a inadimplência. Consequentemente, é muito provável que os bancos públicos precisem de novos aportes do Tesouro, o que elevará a dívida pública bruta.

Economistas e empresários são unânimes quando dizem que para o Brasil crescer novamente, é necessário que se invista em infraestrutura. As ações de certo modo já estão sendo realizadas, ou o senhor acredita que ela está muito aquém do ideal?

Muito aquém do ideal. O baixíssimo nível de investimento em infraestrutura, estacionado há décadas entre 2,0% e 2,5% do PIB (Produto Interno Bruto), é insuficiente para repor o que é depreciado e ainda expandir a capacidade de oferta. Menos discutida, mas tão ou mais importante, é a baixa eficiência do investimento em infraestrutura; isto é, o quanto de aumento de capacidade de oferta se extrai de cada real investido no setor. Precisamos melhorar muito a qualidade dos projetos feitos na área, o que está na base dos atrasos e redimensionamento de orçamentos. Um maior envolvimento do setor privado é imprescindível. Já foi feito algo nessa direção, como as concessões de rodovias e aeroportos no ano passado, mas esse Governo carece de expertise nesse sentido. Um bom exemplo foi a insistência em forçar taxas de retorno abaixo das que os empresários estão dispostos a aceitar, o que acabou resultando em rodadas em que não apareceram interessados. Embora tenham começado a se concretizar, as PPPs (Parceria público-privada) na área ainda são incipientes.

O dólar vem subindo e o risco país também não é dos melhores. A luz amarela já foi acesa de fato?

A subida do dólar era algo inevitável e necessário. Reflete, em grande parte, um movimento da economia norte-americana, que vem se fortalecendo desde meados de 2014. Não é apenas o real que se desvalorizou sensivelmente frente ao dólar; as principais moedas internacionais também estão passando por um processo semelhante, embora em menor magnitude. Com relação à possibilidade de perdermos o grau de investimento, a luz amarela começou a se acender quando os resultados fiscais começaram a mostrar forte deterioração das contas públicas, no segundo semestre de 2012.

A popularidade do Governo Dilma caiu, e muito disso se dá evidentemente pela situação econômica e pelos altos níveis de corrupção na maior empresa do Brasil, a Petrobras. Na prática, como o senhor acredita que o Governo deveria agir para que a confiança volte entre os investidores e a população de modo geral?

Para os investidores é importante mostrar que o ministro Levy tem respaldo no Governo para implantar suas medidas econômicas. Além disso, uma coisa que reduziria os riscos percebidos seriam uma agenda positiva de investimento, como marcos regulatórios melhores e mais estáveis em diversos setores. Obviamente, a população só tem a ganhar com um ajuste mais rápido e eficaz.

Quais medidas impopulares o senhor considera necessárias neste momento de turbulência?

Considero que as alterações propostas pela presidente na legislação trabalhista são benéficas não apenas para o quadro fiscal, como também para a produtividade. O aumento salarial observado nos últimos anos ficou muito acima do incremento na produtividade – que ficou praticamente estagnada –, o que é insustentável. Infelizmente, no curto prazo é preciso deixar que o desemprego aumente e os salários se desvalorizem em termos reais, como ocorreu no início do Governo Lula. Só assim deixará de haver pressão sobre a inflação de serviços, que tem sido o principal componente da inflação nos últimos anos – exceto nesse início de ano, com o reajuste (necessário) de preços administrados como energia e gasolina. No médio prazo temos de aumentar a produtividade, para que a renda do trabalhador suba de forma sustentada, em vez de ficar nessa gangorra em que a colocou a Nova Matriz Econômica do primeiro Governo Dilma.

Como avalia a atuação do ministro da Fazenda Joaquim Levy até o momento?

As medidas anunciadas por ele foram na direção correta, mas é difícil avaliá-lo porque ainda não houve tempo de colocá-las em prática. Algumas delas, inclusive, ainda precisam ser aprovadas pelo Congresso, como as mudanças nas regras do seguro-desemprego, que começaram a valer no final de fevereiro por medida provisória, mas passarão por apreciação da Câmara e do Senado para terem sua vigência assegurada.

De qualquer maneira, ele é um dos economistas mais bem preparados do país e é uma sorte o termos lá.

Acredita que reformas importantes como a tributária e a política, sairão do discurso para a ação num futuro próximo?

As alterações feitas no sistema tributário brasileiro nas últimas duas décadas foram pontuais e o contexto político atual não parece favorecer a formação de consensos em torno de mudanças estruturais, como uma reforma.

A reforma política que está sendo proposta pela situação vai de encontro ao interesse dos parlamentares, o que torna sua aprovação muito improvável.

Podemos se tornar uma nação “bolivariana” como críticos do Governo salientam em suas análises?

Acho difícil, pouco provável. Pode até ocorrer de, conforme a situação do Governo se deteriore, ele opte por um discurso anti-EUA e anti-imprensa, como forma de criar uma narrativa para convencer a população de que as dificuldades econômicas enfrentadas pelo país são uma decorrência de causas externas, ao invés da inépcia do Governo. Mas esse é um cenário muito extremo e improvável. Não vale à pena pensarmos nisso agora; a situação já está complicada o suficiente sem isso.

Pelo cenário econômico nada animador, já podemos torcer para que 2015 passe rápido, ou enxerga alguma luz no fim do túnel?

2015 é apenas o primeiro de alguns anos de ajuste pelos quais passaremos. Além disso, as condições internacionais mudaram. Em primeiro lugar, o Brasil não contará com um novo boom de commodities como o promovido pela China. Além disso, a melhoria da economia norte-americana, atestada pelos sucessivos resultados positivos em termos de crescimento e no mercado de trabalho, levará, mais cedo ou mais tarde, ao aumento dos juros americanos, o que diminuirá fortemente a oferta de financiamento internacional para países como o Brasil.


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