Arthur Igreja é dos principais especialistas em Tecnologia e Inovação do país. É professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e TEDx Speaker. Masters em International Business pela Georgetown University (EUA), Masters of Business Administration pela ESADE (Espanha) e Mestrado Executivo em Gestão Empresarial pela FGV. Pós-MBA e MBA pela FGV. Assessor-econômico da FACIAP. Membro do Conselho da Fundação Grupo O Boticário de Proteção à Natureza. Possui certificações executivas em Harvard e Cambridge. Atua profissionalmente em mais de 25 países, além de ser mentor e investidor anjo. Arthur é um dos A’s da plataforma AAA com Ricardo Amorim do Manhattan Connection e Allan Costa. É palestrante em mais de 120 eventos por ano como Rock in Rio Academy e TEDx no Brasil, EUA, Europa e América do Sul. Para o Panorama Mercantil, o renomado profissional afirma: “O Brasil segue muito atrás quando falamos de inovação. Temos alguns casos de excelência, mas na média geral somos bem fracos. Com um grau de escolaridade e educação sofrível, patinamos nesses rankings, ocupamos praticamente a mesma posição nos rankings de educação e inovação, por exemplo. Soma-se a isso um país pobre, com baixa capacidade de investimento, se recuperando de uma crise, com tudo isso fica muito difícil de proliferar a tecnologia, que é a grande base estruturante para ter mais inovação”.
Arthur, quais profissões correm maior risco de desaparecer na próxima década?
As profissões que estarão ameaçadas são todas aquelas que têm alto grau de repetição e baixa complexidade. Quando uma profissão desaparece, na verdade, ela está transmutando. Ela só desaparecerá quando for integralmente substituída pela tecnologia, o que não é uma coisa tão comum como as pessoas imaginam. Entre as profissões ameaçadas podemos citar:
Cartorário: os registros agora estão sendo feitos por blockchain e o Brasil já começou a ter jurisprudência a esse respeito. Então, a tendência natural é que essa profissão desapareça não mais no longo prazo, mas no médio prazo.
Copiloto de avião: hoje, temos atuando piloto e copiloto, sendo um redundante em relação ao outro. E a tendência é caminhar para se ter apenas um profissional. O ato de pilotar também está se tornando automático, e o profissional só será indispensável por alguns minutos durante a decolagem e aterrisagem.
Engenheiro calculista (civil, elétrico, mecânico, etc): toda essa tarefa de cálculo, sejam estruturais ou de sistemas elétricos, é algo que está deixando de fazer sentido em razão do uso cada vez maior de softwares específicos que conseguem prever uma série de variáveis. É fascinante ver o quanto isso está avançando e o quanto é seguro, e como é dispensável o papel do engenheiro calculista que passa horas validando premissas de cálculos por fatores de segurança e compra de materiais.
Profissionais que trabalham com estoques/inventários: os estoques estão se tornando robotizados e automatizados, muitos na linha do que a Amazon está fazendo. Tem uma fabricante chinesa que neste ano está vendendo 100 mil robôs para atuar em estoques e armazéns. E na semana passada, teve uma demonstração no Vale do Silício de um robô estoquista que acompanha todo o inventário.
Gestor de compras: anteriormente, tínhamos esse profissional que fazia inúmeras cotações e o que estamos vendo agora é a integração entre empresas, ou seja, quem tem a demanda e a oferta conectadas digitalmente. E esse processo de decisão de qual é o melhor fornecedor também sendo feito de forma cada vez mais digital através de software. Sendo assim, esse profissional de compras que passava o dia fazendo inúmeras cotações também está desaparecendo.
E quais serão as profissões que estarão em alta pelos próximos 10 anos?
De forma inequívoca, as relacionadas com tecnologia, que estão em franca expansão. Estarão em alta também todas aquelas que dizem respeito aos desdobramentos da tecnologia. Vão surgindo novas profissões e demandas o tempo todo. Os destaques ficariam para:
Compliance de algoritmos de IA: a Inteligência Artificial está a cada dia tomando mais decisões pelas pessoas e vai chegar um momento onde ocorrerão falhas e danos. E alguém precisa olhar do ponto de vista jurídico qual foi o racional por trás dessa decisão, ou seja, os aspectos éticos, morais e legais.
Personal trainer/nutricionistas de dados pessoais: assim como as pessoas convivem com os excessos em termos de ingestão calórica, também estamos vivendo os excessos do compartilhamento de dados. Com isso, surgirão profissionais que farão o papel de coaching em determinar que tipo de mídia, software, aplicativos e redes sociais se deve direcionar maior ou menor atenção.
Psicólogo/psiquiatra especialista em transtornos digitais: as pessoas estão cada vez mais viciadas em tecnologia e hiper estimuladas por notificações e pushes, ficando com a capacidade de concentração nula. Isso fará que os profissionais da área de psicologia e medicina se inovem para poder auxiliar como especialistas nesse tipo de transtorno.
Direito digital: os aspectos que envolvem direito digital tendem a crescer cada vez mais. Disputas de transações feitas de forma digital, plataformas de investimento e relacionamento, segurança dos dados, em um mundo onde tudo se torna digital, é natural que no direito também tenha que intervir mediando e julgando as relações entre pessoas e empresas.
Engenheiro de holograma/realidade mista: No ano passado, vimos a primeira universidade inglesa propondo aula através de holograma. E para este ano, tem uma série de shows agendados prevendo o uso dessa tecnologia. Então, é natural que tenha uma demanda por quem consiga projetar e desenvolver sistemas e apresentações destinadas a essa tecnologia, que está em pleno crescimento e, consequentemente, a procura por profissionais também será crescente, seguindo o exemplo que ocorreu com os cientistas de dados.
Profissões ligadas a IA estão em alta. Como enxerga a utilização da IA no mercado de trabalho?
A IA está sendo usada primeiro para aprender comportamentos, justamente os repetitivos, para criar mecanismos que os replicam, com ênfase para a automação de tarefas, para exponenciar determinados trabalhos. Uma empresa que cresce ao invés de ter mais dez pessoas, vai ter dez licenças de software que fazem aquela tarefa.
Quais os maiores riscos (se é que existem) da utilização da IA pelas empresas?
O maior risco é que a empresa não entenda mais qual é a black box que está tomando decisões. O motor de IA vai se adaptando ao longo do tempo e o maior perigo para uma companhia é imputar perguntas, tirar as respostas e perder o controle de como é que esse processo está sendo decidido. É importante e fundamental também questionar os caminhos sugeridos pela IA.
Shenzhen na China, é uma das cidades mais futuristas do mundo. Acredita que aquele modelo de cidade, onde o trabalho está ligado às novas possibilidades que a tecnologia oferece, é um espelho para o que virá em breve em todo mundo?
Sim, Shenzhen é um bom exemplo de cidade futurista, mas não resolve tudo. Não sou muito adepto de extremismos. É um modelo, mas não se aplica nem a toda China. De toda maneira, é uma cidade que tenta ser muito inteligente e conectada e teremos uma proliferação desse exemplo mundo afora.
Como enxerga o trabalho home office?
O trabalho home office funciona bem para quem sabe trabalhar nesse modelo. É uma possibilidade interessante, mas que não serve para todo momento e nem para toda pessoa. Existem análises que indicam que se as pessoas estivessem próximas, assuntos poderiam ser resolvidos em cinco minutos e não através de cinco longos e-mails. Tem vantagens e desvantagens, porém, mais e mais o home office é um respeito ao tempo dos profissionais já que poupa deslocamento e trânsito. Para isso, é uma excelente alternativa.
Qual a sua análise sobre as empresas home based?
É bem parecido com as vantagens e desvantagens do home office. O home based é fruto do nosso tempo, uma resposta aos problemas urbanos e aos anseios das pessoas, principalmente, das mudanças de hábitos, já que rompemos com uma série de barreiras até então existentes.
Sempre se fala em inovação, mas parece que o Brasil está ininterruptamente patinando nesse quesito. Por que essa sensação se torna recorrente em sua visão?
Porque é o que realmente ocorre. O Brasil segue muito atrás quando falamos de inovação. Temos alguns casos de excelência, mas na média geral somos bem fracos. Com um grau de escolaridade e educação sofrível, patinamos nesses rankings, ocupamos praticamente a mesma posição nos rankings de educação e inovação, por exemplo. Soma-se a isso um país pobre, com baixa capacidade de investimento, se recuperando de uma crise, com tudo isso fica muito difícil de proliferar a tecnologia, que é a grande base estruturante para ter mais inovação.
Como a inovação impactará o mercado de trabalho em grande escala em nosso país?
Conceituando a inovação como um jeito melhor e diferente de fazer alguma coisa, está muito relacionada à produtividade, que é o grande problema da economia brasileira. Precisamos de quatro brasileiros para ter o mesmo resultado com um americano em termos de geração de valor per capita. Se inovamos pouco, encontramos também poucos novos caminhos de alavancar isso e acabamos usando métodos do passado, o que nos coloca em rankings de produtividade cada vez mais afastados dos países que são referências.
O que mais lhe preocupa nesse processo?
O que mais preocupa é que temos que desarmar essa bomba e sair da espiral menos dinheiro, menos investimento, menos inovação e também produtividade mínima. É fundamental encontrar uma maneira de romper esse ciclo.
Como inserir aqueles que estão à margem deste “novo mundo?”.
É um grande desafio em agregar competências novas, seja através de cursos profissionalizantes ou online. Mas é fundamental agregar ingredientes digitais nessas pessoas que passaram, muitas vezes, por uma educação formal. É um tremendo desafio de oxigenação para trazer o novo. São novas ferramentas e metodologias, então temos que resgatar essa massa de trabalho para que se tornem produtivas e relevantes. Esses profissionais precisam de uma atualização do software.
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