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Plínio Sampaio vê eleições com muito pessimismo

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Formado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo em 1954, o paulistano Plínio Soares de Arruda Sampaio, militou na Juventude Universitária Católica, da qual foi presidente, e na Ação Popular – grupo de esquerda surgido a partir dos movimentos leigos da Ação Católica Brasileira. Foi promotor público, deputado Federal constituinte e atualmente preside a Associação Brasileira de Reforma Agrária (ABRA), além de dirigir o semanário Correio da Cidadania. Foi um dos fundadores do PT. Atualmente é filiado ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). “Minha candidatura tem como um dos objetivos, desmontar essa farsa e apresentar soluções reais para as principais mazelas do Brasil: a segregação social e a brutal desigualdade. Por isso, a prioridade do meu programa, é a implementação da reforma agrária, que nunca foi feita no Brasil, com a limitação do tamanho da propriedade rural a mil hectares, a fim de assentar 6 milhões de famílias. O poder do latifúndio na estrutura de poder do Estado e, hoje, seu vínculo direto com empresas multinacionais. Além da covardia de todos os Governos que tivemos até hoje. Nenhum deles teve coragem de enfrentar o latifúndio. (…) Costumo dizer que o PT saiu de mim, não fui eu que saí do partido. Respeito muito os petistas, há muita gente séria lá. Mas a direção destruiu o projeto do partido e o transformou num partido da ordem”, afirma o socialista.

Como o senhor se sente entrando em uma disputa bipolarizada entre PT e PSDB? 

Considero antidemocrático com o Brasil, com os eleitores, tanto com os meus, como com o dos demais candidatos. Mas essa situação existe porque essa eleição está montada para não discutir nada, para não debater os problemas reais do país e as soluções para eles. Minha candidatura tem como um dos objetivos, desmontar essa farsa e apresentar soluções reais para as principais mazelas do Brasil: a segregação social e a brutal desigualdade. Por isso, a prioridade do meu programa, é a implementação da reforma agrária, que nunca foi feita no Brasil, com a limitação do tamanho da propriedade rural a mil hectares, a fim de assentar 6 milhões de famílias. Outra prioridade, é a garantia do cumprimento constitucional do Estado, de assegurar o direito da população à saúde e à educação pública. A educação e a saúde devem ser integralmente públicas, em todos os níveis, porque ninguém pode lucrar com a doença das pessoas ou com a formação da nossa juventude. Isso tudo pode ser viabilizado se invertermos as prioridades do Estado brasileiro hoje, que destina 36% do orçamento da União por ano para o pagamento de juros e serviços da dívida pública, para garantir os direitos do povo.

Se sente decepcionado ao ver Fernando Henrique Cardoso distante daquilo que acreditava quando fazia parte do MDB junto com o senhor, sendo atualmente um defensor das teses dos “Chicago Boys?”.

Uma lástima, mas o Fernando já passou para o outro lado da política faz tempo. Quando voltei do exílio, discutimos muito a fundação de um partido socialista no Brasil, essa é uma luta antiga minha. Mas quando o Fernando se elegeu senador pelo PMDB, desistiu da proposta e, desde então, apesar de termos uma relação pessoal respeitosa, só nos distanciamos na política. Depois de oito anos do Governo neoliberal que ele fez, dilapidando praticamente todo o patrimônio nacional, mais ainda.

Como o senhor enxerga o atual PT, já que foi um dos idealizadores e autor do estatuto do partido?

Costumo dizer que o PT saiu de mim, não fui eu que saí do partido. Respeito muito os petistas, há muita gente séria lá. Mas a direção destruiu o projeto do partido e o transformou num partido da ordem, que aceitou o Governo dar autonomia ao Banco Central, não fazer reforma agrária, substituir um programa de garantia de dignidade e emprego para o povo por bolsas… um desastre.

Quais foram os principais erros da gestão PT-PMDB no Planalto?

O primeiro erro do PT foi se aliar com o PMDB, o partido mais fisiológico da política brasileira. Os outros erros são parte dessa trajetória que se construiu para a chegada do PT ao Governo. A carta aos brasileiros de 2002 foi uma ruptura com a história do PT e um compromisso com os banqueiros e o grande empresariado. A partir dessa lógica se construiu o Governo, que incluiu 20 milhões de pessoas no mercado de consumo por meio das bolsas, mas não garante a elas emprego digno, saúde decente, educação pública de qualidade. E, assim, o Governo do PT, o primeiro partido de massas construído pelos trabalhadores, fora dos salões atapetados, perpetua a tragédia da segregação social brasileira, mantendo o abismo entre ricos e pobres.

O senhor diverge do programa democrático-popular da direção do PSOL, dizendo que poderia se repetir os erros que aconteceram como o PT. Poderia nos explicar melhor essa questão?

Minha diferença não é com a direção do PSOL. O debate sobre o programa democrático popular existe em todo o PSOL, o que é natural, levando em conta que a maioria de nós veio do PT, onde consolidamos esse programa. Mas hoje acredito que ele é insuficiente para superar as desigualdades que temos no Brasil e avançarmos para o socialismo. Mas esse é um debate interno, que não afeta em nada a unidade de atuação do partido.

Nomes como Chico Oliveira, Leandro Konder, Aziz Ab’Saber e François Chesnais já aderiram à candidatura do senhor. Por que mesmo com todos esses intelectuais que são grandes formadores de opinião, o PSOL ainda não têm um espaço maior na grande mídia nacional, assim como PT, PSDB e até mesmo o PV?

Porque essa eleição está montada para não discutir os problemas do país e as verdadeiras soluções para eles. E os três candidatos com mais tempo, são parte dessa montagem. Eu, que tenho opiniões realmente contrárias ao modelo que está aí, não tenho espaço. Apesar dos meus 60 anos de vida pública. Já fui secretário da Casa Civil do Governo Carvalho Pinto e coordenador do plano de ação daquela gestão, deputado Federal por três vezes, inclusive na constituinte de 1988. Relatei o projeto de reforma agrária do Governo João Goulart. Com o golpe militar, fiquei 12 anos no exílio, quando desenvolvi programas de reforma agrária em todos os países da América Latina e em vários países africanos. Também nesse período, fiz o mestrado em desenvolvimento econômico internacional na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. Na volta do exílio, fundei o PT e na constituinte relatei o capítulo do Judiciário. Coordenei o 2º Plano Nacional de Reforma Agrária, no início do primeiro Governo Lula, que foi engavetado. E esse foi um dos motivos da minha saída do PT. Então, tenho alguma experiência e conhecimento desse país para discutir as soluções reais para os problemas do nosso povo.

O senhor dirige o jornal Correio da Cidadania e faz parte do conselho editorial do Le Monde Diplomatique Brasil. Como vê a imprensa alternativa em nosso país?

Embora ela tenha pouca força, considero que é fundamental organizarmos instrumentos que permitam fazer o contraponto, divulgar as pautas dos movimentos sociais e debater os problemas do país, que não vemos na grande mídia.

O deputado Raul Marcelo diz que o neoliberalismo é um “metabolismo perverso”, e que deve ser substituído pelo socialismo. Não seria complicado num mundo dominado pelas multinacionais e pelo consumismo, implementar esse mecanismo para a sociedade atual?

A construção do socialismo é um processo, não uma imposição da vontade de setores sociais. Essa construção deve ser feita por meio do diálogo com os setores explorados e oprimidos para que conheçam seus direitos e lutem por eles, a partir da compreensão de que o capitalismo não vai lhes garantir uma vida digna. Esse é um dos objetivos da minha campanha, fazer avançar esse processo, despertar a consciência.

Num Governo em que o senhor fosse presidente, como seria a postura em relação aos banqueiros, aos grandes empresários, e aos investidores nacionais e internacionais o chamado “mercado?”.

Em primeiro lugar, como já disse antes, nossa proposta é inverter as prioridades orçamentárias do Estado para garantir as verbas necessárias para a saúde, educação, reforma agrária, infra-estrutura etc. O PSOL defende uma auditoria da dívida pública com a suspensão do pagamento dos juros e amortizações indevidos, controle do câmbio, do fluxo de lucros e das políticas de crédito, além da subordinação do Banco Central ao Estado.

O senhor foi um grande crítico da política externa de George W. Bush. Vê mudanças com Barack Obama?

Não muitas. Os perfis dos dois governos, obviamente, são diferentes. Mas o Obama está amarrado aos compromissos que tem com o Partido Democrata e com o establishment norte-americano. Por exemplo, o governo Obama mantém a base de Guantánamo; as tropas no Afeganistão e no Iraque; a Quarta Frota militar na costa sul-americana. Assim como vimos no episódio de Honduras que seguem atuando para manter um Status quo contra o povo.

Como tem observado os governos de esquerda da América Latina?

Acho que têm posturas importantes, como a luta contra a privatização da água e os direitos indígenas na Bolívia; a moratória da dívida pública no Equador; a luta do Paraguai para rever o tratado de Itaipu, no qual o Brasil tem uma política de submeter uma nação vizinha. A luta antiimperialista que o Chávez [Hugo Chávez presidente da Venezuela] desenvolve, em defesa de uma maior independência dos países da região. Todos têm seus problemas, mas eles são parte do desenvolvimento dos processos em curso. O mais importante, na minha opinião, é o que levou esses governos ao poder, que foi a mobilização da classe trabalhadora desses países. E esse processo eu defendo plenamente.

Qual é o ponto crucial que faz a reforma agrária emperrar no Brasil?

O poder do latifúndio na estrutura de poder do Estado e, hoje, seu vínculo direto com empresas multinacionais. Além da covardia de todos os Governos que tivemos até hoje. Nenhum deles teve coragem de enfrentar o latifúndio. Quando relatei o projeto de reforma agrária do Jango, em 1964, ele defendia que as propriedades rurais no Brasil fossem de, no máximo, 500 hectares. Os militares e a burguesia brasileira reagiram como vimos. Hoje a situação no país se deteriorou tanto que a CNBB entrou institucionalmente na campanha para limitar a propriedade rural a mil hectares. Porque ninguém precisa de mais do que isso para ser milionário.

Educação, saúde, desemprego, violência, desigualdade social e alienação política. Qual desses problemas o deixa mais revoltando em nossa nação?

Todos igualmente porque são partes de uma totalidade: a segregação social e a dependência externa que são heranças trágicas e históricas que temos no Brasil.

Qual seria a solução então?

Avançar na consciência de classe para permitir que avancemos em direção ao socialismo.

Última atualização da matéria foi há 9 meses


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