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Avi Avital fala da chave para a sua profissão

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A Série TUCCA Concertos Internacionais, após o grande sucesso na Sala São Paulo há quatro anos, traz novamente o famoso bandolinista Avi Avital e a orquestra L’Arte Del Mondo, residente permanente da Kultur Bayer, amanhã, às 21h, na Sala São Paulo. Avital começou a estudar bandolim aos 8 anos. Graduou-se na Jerusalém Music Academy e no Conservatório Cesare Pollini em Pádua, Itália, onde estudou repertório original para bandolim com Ugo Orlandi. Reconhecido pelo The New York Times pela sua “maneira singular de tocar” e “assombrosa agilidade”, Avi Avital é o primeiro bandolinista a ter recebido uma nomeação ao Grammy na categoria “Melhor Solista Instrumental”, em 2010, pelo seu CD “Avner Dorman’s Mandolin Concerto”. Ganhou inúmeros prêmios como o ECHO pela sua gravação com o David Orlowsky Trio (2008) e Concurso AVIV (2007), considerado o prêmio mais importante para artistas israelenses. Já se apresentou em salas como o Carnegie Hall, Lincoln Center, Berlin Philharmonie, KKL Luzern, Sala de Concertos da Cidade Proibida de Beijing e Wigmore Hall. Avital é um dos músicos mais empolgantes e inovadores do mundo. Está profundamente comprometido em construir um legado novo para o bandolim através de suas atuações virtuosísticas em uma ampla variedade de gêneros e também com peças contemporâneas para seu instrumento que manipula com singularidade.

Avi, o bandolim entrou em sua vida aos 8 anos. Quando você acredita que dominou e se deixou dominar por esse instrumento?

Foi um processo longo. Não acho que tenha me tornado um músico profissional até ter atingido os 20 anos – não conheci ninguém na minha infância que tivesse se tornado um bandolinista profissional, então não era uma opção muito proeminente. Mesmo assim, senti o amor de tocar de um modo extremo e eventualmente ficou claro que era o que eu tinha que fazer da vida.

Você é conhecido pela sua maneira singular de tocar. Em que momento você acredita que encontrou essa singularidade?

É difícil responder, já que nunca tive uma sensação de “cheguei lá”, quanto a tocar bandolim. Eu continuo aprendendo e desenvolvendo minha linguagem musical e acredito que não haja um fim para dominar essa arte.

Qual o preço que se paga até encontrar essa singularidade?

Se posso pensar em um “preço” que eu tenha pago no processo de me tornar um jovem bandolinista para um profissional é simplesmente o fato de que o bandolim não era realmente considerado um “instrumento para salas de concerto” quando eu comecei. Tive que convencer muitos promotores, orquestras, séries de concertos, etc, que o bandolim pode, de fato, ser um destaque em um concerto e não é menos capaz do que qualquer outro instrumento, enquanto para violinistas e pianistas esta parte é provavelmente mais simples. No fim das contas, isso é algo pelo que eu sou grato. Forçou-me a ser muito criativo nos concertos que ofereço e muito proativo em promover o bandolim como um instrumento de concerto.

Como você trata a inovação em seu trabalho?

Inovação é a chave da nossa profissão, ainda que a música clássica seja baseada na tradição e apesar de muitas peças do meu repertório terem mais de 300 anos, o público e o contexto é obviamente envolvente. Então ao invés de trazer essa preciosa música clássica para o público atual, o que é basicamente meu papel como solista, você tem de ser sensível, criativo e, é claro, constantemente inovador.

Qual foi a coisa mais empolgante oriunda dessa inovação?

A parte mais excitante de inovar é o processo criativo. Aqueles momentos quando você faz algo que não existia antes. Como um intérprete (diferentemente de como compositor), meu processo criativo tem relação com como entregar a música para o público, e é geralmente de uma maneira muito dinâmica e interativa.

Uma coisa dita sobre você é a palavra legado. Construir um legado para o bandolim é algo que lhe estimula?

Definitivamente sim. O bandolim sofreu com a imagem de um instrumento amador na história da música e já é hora dessa imagem mudar. Eu me inspiro em modelos como Andres Segovia, por exemplo, que trouxe o violão clássico do flamenco, um instrumento com repertório de alta qualidade extremamente limitado na tradição clássica, ao que é hoje – um instrumento amado por muitos músicos, com repertório monumental e está nas programações das salas de concerto do mundo todo. Realmente espero que, encomendando novas peças para o bandolim e inspirando os jovens a tocar este instrumento, muitos futuros instrumentistas e também o público poderá desfrutar deste instrumento mágico nas próximas décadas.

Quais fundamentos são necessários para a criação desse legado?

Eu acredito que a evolução da música clássica foi sempre estimulada por três elementos: o intérprete, o compositor e o luthier. O piano é um grande exemplo. Mesmo o melhor pianista da época de Mozart não seria capaz de tocar o Concerto N.3 para Piano de Rachmaninov, já que nenhum piano dessa época poderia ter suportado a obra. Compositores através da história sempre desafiaram as habilidades dos instrumentistas até o limite, fazendo com que gerações de músicos melhorassem sua técnica.

Por sua vez os instrumentistas sempre desafiaram os luthiers a melhorarem seus instrumentos para que pudessem desenvolver as músicas que tocavam. A evolução do bandolim ficou parada em algum momento do século XVIII, sem muitos compositores, portanto, sem uma grande evolução da técnica e do instrumento (nada comparado a outros instrumentos). Acredito que esse legado precisa desse motor para trabalhar novamente. Eu encomendei mais de 100 novas peças para o bandolim e espero que isso já esteja começando a mexer as rodas da história do instrumento.

Em que momento a música passa a ter um papel social em sua visão?

Toda forma de arte – música, dança, artes visuais, teatro, literatura, poesia, etc – estimula e desenvolve nossa imaginação. Uma pessoa aprecia uma pintura abstrata porque em sua cabeça consegue completar o que não está representado na tela. A mesma relação com poesia – enquanto se lê um poema, você está em uma posição ativa, sua imaginação está ativa, desenhando um cenário em sua cabeça ou compreendendo a complexidade de uma metáfora. Pessoas mais imaginativas são mais empáticas – elas podem facilmente se colocar no lugar de outro (seu amigo, filho, vizinho, inimigo). Eu acredito que se todos tivessem mais arte em suas vidas, nós viveríamos em uma sociedade melhor.

Como se deu a sua entrada na Deutsche Grammophon?

Eu gravo para Deutsche Grammophon desde 2011. Ter esse selo de credibilidade tão proeminente na música clássica foi obviamente um ponto importante em trazer o bandolim de volta para o circuito principal das salas de concerto. Trabalhar com eles todos esses anos (ainda é) absolutamente fantástico. É uma equipe que inclui alguns dos maiores visionários da indústria, criando juntos experiências artísticas que podem alcançar a todos em qualquer lugar do mundo.

O que é fundamental na hora de persuadir os ouvintes para o seu modo único de ver e fazer música?

Eu acho que as pessoas ficam curiosas sobre o bandolim. Eu sei que para a maioria das pessoas sentadas na salas de concertos, é a primeira vez ouvindo o instrumento ao vivo. No contexto da experiência tradicional da música clássica, acredito que as pessoas estejam procurando por algo que nunca vivenciaram antes.

Que palavra tem definido as apresentações que está fazendo com a Orquestra L’Arte Del Mondo?

O programa criará uma experiência panorâmica do bandolim – do Barroco, seu habitat natural, até o século XX, quando a música clássica foi inspirada por diferentes tradições folclóricas, um outro elemento no qual o bandolim brilha.


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