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Bráulio Borges fala das incertezas políticas

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Bráulio Lima Borges é graduado em Economia pela FEA-USP e mestre em Teoria Econômica pela mesma universidade. É economista-chefe da área de Macroeconomia de uma das principais consultorias econômicas do país, a LCA Consultores. Entre os clientes da LCA estão empresas líderes de bens de consumo e de produção, players de destaque nos serviços e no varejo, os principais escritórios de advocacia, bancos, instituições financeiras e grandes investidores em infraestrutura. Atualmente é professor de Macroeconomia na Pós-Graduação da GVLaw. Recebeu o Prêmio Tesouro Nacional pela sua dissertação de mestrado em Finanças Públicas. Trabalhou no departamento econômico da Telefônica, além de colaborar com regularidade para veículos como Valor Econômico e Folha de S.Paulo. “A governabilidade mínima, aparentemente restaurada com o novo Governo, precisa ser mantida nos próximos meses e trimestres para que, gradativamente, a confiança dos agentes continue se recuperando. Isso porque, enquanto a incerteza política se mantiver muito elevada, o cenário prospectivo continuará bastante turvo. (…) O mais crucial é uma redução das incertezas políticas. A governabilidade mínima, aparentemente restaurada com o novo Governo, precisa ser mantida nos próximos meses e trimestres para que, gradativamente, a confiança dos agentes continue se recuperando”, afirma o economista.

Bráulio, 2016 pode ser considerado um ano perdido para a economia nacional?

O atual ciclo recessivo brasileiro, iniciado em meados de 2014, já é semelhante em duração e intensidade às recessões observadas no começo dos anos 1980 e no começo dos anos 1990. Trata-se, ainda, de uma recessão tão profunda como aquela enfrentada pelos EUA em 2008-2009 e por alguns países da periferia da Europa (Espanha, Portugal e Itália) entre 2011 e 2013. Para 2016, as expectativas chegaram a apontar uma retração de cerca de 4% do PIB, depois de um recuo de 3,8% em 2015 (o mais expressivo desde 1990). Mas, nas últimas semanas, esses números estão sendo revistos para melhor. Não me surpreenderia se encerrássemos 2016 com uma queda de cerca de 2,5% – ainda um recuo relevante, mas bem menos intenso do que se esperava até uns dois ou três meses atrás.

Neste momento turbulento, o que você considera ser fundamental para a volta da confiança dos investidores no Brasil?

O mais crucial é uma redução das incertezas políticas. A governabilidade mínima, aparentemente restaurada com o novo Governo, precisa ser mantida nos próximos meses e trimestres para que, gradativamente, a confiança dos agentes continue se recuperando. Isso porque, enquanto a incerteza política se mantiver muito elevada, o cenário prospectivo continuará bastante turvo, inibindo decisões de consumo, produção e investimento dos agentes no momento atual e gerando uma espécie de círculo vicioso.

Qual foi o principal motivo que fez a economia brasileira que tinha uma retomada forte com investimentos, voltar para uma recessão no terceiro trimestre de 2013?

São vários os motivos. Os mais críticos do Governo Dilma jogam toda a culpa em decisões de política econômica tomadas entre 2011 e 2013. Mas essa é certamente uma visão bastante parcial e exagerada, carregada de viés político. O mundo, em especial o comércio global, teve, em 2015, o pior desempenho desde 2009 (embora bastante longe de repetir a forte recessão de 2009). E, para as economias exportadoras líquidas de commodities – como é o caso de boa parte da América Latina, incluindo aí o Brasil -, as coisas estão ainda piores, dada a forte queda dos preços desses produtos desde 2012. Relatório recente do Banco Mundial apontou, por exemplo, que as economias exportadoras de commodities, que cresciam cerca de 4% a.a. em 2011-2013, chegaram perto de um crescimento nulo em 2015 e 2016, enquanto as economias importadoras líquidas de commodities mantiveram um crescimento mais ou menos estável nesse período, em torno de 6% a.a. O Brasil está ainda pior, seja por conta dos excessos cometidos pelo Governo e pelos agentes privados no período de boom (2007 a 2011), seja porque a Operação Lava Jato tem gerado uma grande instabilidade política desde 2014 – ainda que seus efeitos de médio e longo prazos sejam claramente desejáveis e favoráveis, no sentido de reduzir os níveis de corrupção.

Em setembro de 2015, o senhor afirmou que o pagamento da dívida do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) junto ao Tesouro Nacional, deveria ser acelerada. Acredita que com o comando de Maria Silvia Bastos, isso deverá ocorrer agora?

Essa decisão já foi tomada. Os cerca de R$ 500 bilhões devidos pelo BNDES ao Tesouro Nacional, cuja amortização estava prevista para ocorrer entre 2020 e 2060, foi acelerada com a decisão na nova equipe econômica de antecipar cerca de R$ 100 bilhões nos próximos anos (aproveitando-se de um momento no qual o BNDES está com bastante folga de caixa). Ademais, estuda-se reduzir os repasses do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT (40% do total) para o BNDES, focando isso no equacionamento do déficit previdenciário. Isso obrigará o BNDES a reduzir seu tamanho, passando de uma capacidade de desembolsos anuais de cerca de R$ 200 bi/ano no auge, em 2013/14, para cerca de R$ 100 bi/ano daqui em diante. Isso, por sua vez, demandará a definição de uma nova estratégia operacional, priorizando os segmentos que fazem jus a esses recursos de longo prazo (como infraestrutura e inovação).

A inflação é o principal problema econômico do Brasil no momento?

Não. O principal problema é a incerteza política. O custo de não fazer nada, em termos de decisões políticas (reformas, etc.) é altíssimo. E durante quase um ano e meio (entre o começo de 2015 e março/abril), nada foi feito. Muito pelo contrário, oposição e situação só pioraram as coisas, seja apostando no “quanto pior, melhor” (oposição), seja desautorizando medidas corretas encaminhadas pelo Executivo (situação). A inflação, embora tenha sido muito elevada em 2015, foi em grande medida corretiva (reajuste de energia, tarifas públicas, alguns tributos) e já dá sinais de arrefecimento. Mas sem uma mínima estabilidade política, fica difícil avançar mais no processo de desinflação.

O enfraquecimento da indústria e do comércio exterior atrapalha os prestadores de serviços para essas empresas em quais pontos fundamentais?

Como já foi dito, o comércio exterior teve, em 2015, o pior desempenho desde 2009. E há vários países sinalizando políticas ainda mais protecionistas, como é o caso dos EUA, ao menos na retórica do candidato republicano Donald Trump. Com efeito, para voltar a ganhar espaço no mercado global, temos que deslocar outros concorrentes. O câmbio mais competitivo está ajudando, mas não vai durar para sempre. Temos que buscar tirar nossa diferença em termos de outros componentes do chamado Custo-Brasil, como a infraestrutura logística, a produtividade, dentre outros.

Quais serviços têm sofrido mais neste momento com a atual conjuntura?

Os setores que mais têm sofrido – e isso é bastante semelhante nas várias recessões – são aqueles mais dependentes das condições de crédito e de confiança – tais como bens de consumo duráveis e bens de capital. A construção também está sofrendo bastante, por conta da paralisia gerada pela Lava Jato, pelo ajuste fiscal (que pesa muito mais sobre os investimentos, dadas as rigidezes para cortar outros gastos públicos) e pelo fim do boom de construção residencial que durou de 2005 a 2013. Os setores que sofrem menos são aqueles que estão sendo beneficiados pelo câmbio mais competitivo e aqueles cujo consumo é mais necessário, como alimentos. Os setores mais inovadores – como, por exemplo, aqueles, mas ligados a tecnologias de informação – também sofrem menos.

Alguns economistas consideram que o debate sobre os cenários da economia brasileira, está raso, raivoso e ideológico. Qual sua visão sobre este assunto?

Pelo que já disse na pergunta de número três, julgo que o debate está sim carregado de vieses políticos. Vide, por exemplo, o comportamento da oposição em 2015, apostando tudo no “quanto pior, melhor” para inviabilizar o antigo Governo. Veja também, por exemplo, as medidas recentes de reforma fiscal apresentadas pela nova equipe econômica. Não são muito diferentes daquelas defendidas pelo antigo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa. Mas, agora, foram muito bem-recebidas, enquanto antes foram quase ignoradas. São dois grandes exemplos da máxima “dois pesos, duas medidas”. E qualquer análise mais precisa sobre a economia brasileira deveria tentar ser o mais imparcial possível.

Em março último, o Partido dos Trabalhadores tinha uma proposta de usar as reservas cambiais em um fundo de investimento em infraestrutura. Se isso fosse realizado, seria uma boa saída ou acarretaria ainda mais problemas para o país?

Essa ideia faria bastante sentido se o Brasil não estivesse com outros problemas – como a inflação muito acima do centro da meta ou um desequilíbrio fiscal estrutural muito elevado. O FMI (Fundo Monetário Internacional) tem defendido esse tipo de política, mas principalmente nas economias centrais – onde hoje a inflação é muito baixa (até deflação em muitos casos) e as taxas de juros estão próximas de zero. Agora, essa proposta teve o lado positivo de ao menos colocar em discussão o altíssimo custo fiscal gerado pelo carregamento de reservas internacionais muito elevada, acima do que o Brasil precisaria para enfrentar os ventos desfavoráveis vindos do exterior.

A LCA também trabalha com o recuo do PIB para 3,71% para este ano?

Nossa projeção mais recente – que tem se mantido desde o começo do ano – é de uma retração de 3,2% em 2016 e de uma alta de 1,5% em 2017.


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