O carioca Hélio Jaguaribe Gomes de Mattos é um dos principais sociólogos do país. Filho do general Francisco Jaguaribe de Mattos, cartógrafo e geógrafo, e de Francelina Santos Jaguaribe de Mattos, oriunda de uma família portuguesa, conhecida pela produção e comercialização de vinhos do Porto. Sua família possuía a Companhia Ferro e Aço de Vitória. Jaguaribe foi o responsável pela direção da empresa até o ano de 1964. Ao longo de sua gestão, através de um projeto, desenvolveu consideravelmente o empreendimento, inaugurando uma nova usina de ferro e aço. Jaguaribe recebeu diversas homenagens importantes. No ano de 1996, recebeu a grã-cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico. Em 1999, foi o Ministério da Cultura que lhe entregou a Ordem do Mérito Cultural. Ainda recebeu a bem-quista condecoração Ordem do Rio Branco. “As diferenças entre os Governos Lula e FHC não são de caráter substancial. Ambos procuraram dar o encaminhamento que pareceu melhor ao atendimento das grandes demandas brasileiras. (…) As reformas políticas e tributarias se defrontam com a resistência do fato de que aquilo que visam a reformar, constitui a própria atividade das lideranças políticas. Tais reformas, assim, têm a difícil característica de uma auto-reforma. (…) O esquerdismo é um impulso motivador de progresso social embora frequentemente se revista de caráter utópico”, afirma o sociólogo.
A sua família foi dona da Companhia Ferro e Aço de Vitória. Sabendo bem como funciona a engrenagem empresarial do país, poderia nos dizer se mudou alguma coisa no que se diz respeito a burocracia daquela época para os dias atuais, ou empreender ainda é uma grande aventura no Brasil?
Desempenhei por alguns anos, a função de presidente da Companhia Ferro e Aço de Vitória promovendo, com a cooperação da Ferrostasl AG, da Alemanha, um amplo programa de expansão e desenvolvimento. Nessa oportunidade, pude constatar que a direção de uma grande empresa exigia uma atividade intelectual não inferior a de um ensaísta. A burocracia brasileira adota uma posição favorável e estimuladora relativamente a projetos de desenvolvimento econômico. Como todas as burocracias, tem seus meandros. Mas a atitude básica da nossa burocracia, é francamente favorável e estimuladora ao desenvolvimento econômico.
O senhor foi professor das universidades de Harvard, Stanford e MIT nos EUA. Qual a experiência mais marcante da educação norte-americana, que poderia ser trazida para o nosso país?
Minha experiência como professor visitante nas universidades de Harvard, Stanford e MIT, foi a de recolher profundos ensinamentos a respeito das estruturas e funcionamento das universidades americanas. Pude constatar que a universidade é nitidamente a melhor instituição existente nos Estados Unidos. Ela se caracteriza pela configuração de um grande valor intelectual e de uma severa exigência de competência, com uma ampla abertura às ideias e ao mundo destituída de qualquer preconceito.
Você foi coordenador do Projeto Brasil 2000 durante o Governo José Sarney em 1985. Passados dez anos desde o começo dessa década, enxerga que o país chegou aos resultados que planejava?
A Marcha do Brasil, a partir do ano 2000, foi extremamente positiva marcada pelo alargamento e consolidação da democracia, e por uma crescente qualificação de seus estabelecimentos de ciência, pesquisa e ensino.
Existe alguma diferença entre os Governos Lula e FHC?
As diferenças entre os Governos Lula e FHC não são de caráter substancial. Ambos procuraram dar o encaminhamento que pareceu melhor ao atendimento das grandes demandas brasileiras. A diferença que se observa é sobretudo no nível da preparação intelectual dos presidentes. Lula se revelou extremamente inteligente na administração do país. FHC demonstrou a mesma capacidade administrativa, iluminada, entretanto, por um superior entendimento intelectual das coisas.
O Estado realiza bem o seu papel na economia?
O Estado brasileiro vem, desde Vargas e Kubitschek, dando grande ênfase ao esforço do desenvolvimento nacional. Lula vem dando continuidade a esse esforço. A contribuição de FHC foi mais ampla, no sentido de abranger também um desenvolvimento cultural do país.
Poderia nos dizer algo palpável que fez a distância entre ricos e pobres diminuir em nossa sociedade?
O processo de desenvolvimento brasileiro, embora predominantemente de caráter técnico e econômico, teve entretanto, impacto no desenvolvimento social. A democracia brasileira vem se aprimorando desde a era Vargas, adquirindo um positivo sentido social-democrático.
Devemos ter grandes mudanças estruturais no Governo Dilma Rousseff que se inicia em 2011?
O Governo Dilma Rousseff deverá se constituir, sem prejuízos em suas particularidades, como uma continuação dos Governos pré-existentes. Esse sentido de continuidade acompanhado de empenhos inovadores, caracteriza a trajetória dos países desenvolvidos.
Por que a reforma política e tributária não saiu do papel?
As reformas políticas e tributarias se defrontam com a resistência do fato de que aquilo que visam a reformar, constitui a própria atividade das lideranças políticas. Tais reformas, assim, têm a difícil característica de uma auto-reforma.
O senhor foi um dos fundadores do PSDB. Como está vendo a legenda neste momento?
O PSDB, no meu entender, continua sendo a melhor proposta social-política para o Brasil. Social democracia constitui o melhor legado histórico do processo de democratização.
Os governos de esquerda da América Latina estão de alguma forma fazendo o papel que cabe a esse lado político?
O esquerdismo é um impulso motivador de progresso social embora frequentemente se revista de caráter utópico. De qualquer forma, é um importante estímulo para o progresso social democrático.
O que mais ameaça o império norte-americano: o terrorismo fundamentalista, o dragão chinês, ou a eterna briga entre os republicanos conservadores e os democratas liberais?
O que mais ameaça o império americano é seu particularismo auto-cêntrico, o que o impede de ostentar características mais abrangentes, fator esse que consistiu na principal razão da expansão e continuidade do Império Romano.
Se o imortal Hélio Jaguaribe fosse chamado pelo Governo para dar um parecer sobre um programa para que as pessoas pudessem de alguma forma ler um pouco mais, o que ele diria?
O interesse pela leitura de livros é definitivamente condicionado pelo estágio cultural em que se encontra um país. Daí o fato de que o desenvolvimento econômico e social, constituem um pressuposto para o desenvolvimento do interesse pela leitura.
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