Kristofer Paetau juntamente com Ondrej Brody, vem causando inquietação com a sua arte. Com “TransRatFashion – Custom-Made Fashion Accessories”, criaram cinco peças a partir de ratos como se fossem da Chanel: sutiã, calcinha, bolsa, lenço e par de sapatos de salto alto. Faz parte desse trabalho fotografias e vídeos de travestis posando com elas. Em “Wanted Works” (Trabalhos desejados), Brody e Paetau trataram do estrelismo da maioria dos curadores mundo afora. Já em “Ein Lebendiger Gartenzwerg in Bad Ems” (Um gnomo de jardim vivo em Bad Ems) ganhou o prêmio de arte pública “Kunstpreis Balmoral”, pela provocação na pequena cidade alemã repleta de jardins enfeitados, no qual o ator tcheco de estatura bem baixa Josef Zeman acompanhou os dois artistas posando como gnomo vivo nos jardins. Em “Pintar a China Agora” que fica em cartaz no MAM Rio de dezembro a fevereiro de 2014, a dupla tcheco-finlandesa fala das condições precárias de trabalho, além da tortura e perseguição de dissidentes no país asiático. “Mais do que simplesmente um preconceito com o meu trabalho, acho que é o medo das pessoas de se encarar a si mesmas e de encarar o mundo em todos os seus aspectos chocantes e repugnantes. Muitas vezes é preciso ter coragem para se encarar sem maquiagem ou de conseguir rir de si mesmo quando erramos. Por isso eu gosto de pensar no meu trabalho como “Crítica Homeopática”, afirma o artista.
Você se considera um provocador?
Me considero antes de tudo um artista (e um ser humano) com uma mente crítica, que tem a convicção que questionar o mundo, o Status quo através da arte é necessário. Isso faz bem tanto para a arte quanto para os espectadores – mesmo que este tipo de atitude na arte possa ser ignorada ou rejeitada pela maioria das pessoas.
Em uma entrevista, você disse que as pessoas não consideram o que você faz como arte. Como tem encarado essa afirmação?
Várias vezes as pessoas (também as que pertencem ao meio das artes) me dizem “isto não é arte!”. Acho mais interessante do que simplesmente ignorar o trabalho, porque quer dizer que essa pessoa entendeu que a minha produção pretende ser arte, mas não corresponde com o gosto ou a definição da arte que essa pessoa tem para si mesma. Posso sempre me consolar lembrando que muitas obras de arte antigas – que atualmente estão nos museus – encararam este tipo de rejeição na época delas também. Hoje em dia, pelo menos as pessoas do meio da arte deveriam saber que tudo e qualquer coisa pode ser arte, basta ser apresentado num contexto de arte. Isto gera uma situação difícil porque não se trata mais de saber se “é ou não é” arte, se trata muito mais de saber se: é ou não é “interessante” ou “relevante”. Mas a categoria do “interessante” ou do “relevante” é ainda mais difícil de definir. Infelizmente, quem acaba definindo isto é muitas vezes o mercado: o que se vende é sem dúvida uma arte “interessante” e “relevante”, pelo menos economicamente…
O seu trabalho é considerado chocante e repugnante pela crítica. Isso não é preconceito?
Mais do que simplesmente um preconceito com o meu trabalho, acho que é o medo das pessoas de se encarar a si mesmas e de encarar o mundo em todos os seus aspectos chocantes e repugnantes. Muitas vezes é preciso ter coragem para se encarar sem maquiagem ou de conseguir rir de si mesmo quando erramos. Por isso eu gosto de pensar no meu trabalho como “Crítica Homeopática”, no sentido que os semelhantes se curam pelos semelhantes. Gosto de considerar a minha arte como um tratamento homeopático, onde a arte injeta no mundo, numa dose mínima, os mesmos maus que já estamos sofrendo no mundo.
Por essa visão mais ácida, já teve problemas com algum curador do ego mais inflado?
Com certeza! Já fiz um trabalho chamado “Licking Curators’ Ass” com o meu amigo Ondrej Brody, que merece que o curador nos odiasse para o resto da sua vida… Nós pensamos que ele mereceu o que fizemos, mas pensamos também que não é um trabalho especialmente contra ele, é um gesto simbólico que criticamos e reproduz a expressão “puxa saco”: o artista como “puxa saco” dos curadores para conseguir participar em exposições etc.
Você acredita que conseguiu sua vingança simbólica sobre a moda com o seu TransRatFashion?
Pessoalmente penso que consegui sim, e espero que algumas outras pessoas pudessem compartilhar a minha visão e rir junto comigo, mas é claro que a moda e a marca Chanel continuam numa boa, sem se preocupar com este trabalho.
Qual a sua visão sobre o mundo das artes e da moda?
São mundos muitas vezes similares: elitistas, superficiais, egocêntricos e fechados à critica… Mas também são mundos de criatividade com alguns sonhadores que ousam ir além do que o mercado e a tradição pedem.
A falta de coragem dos artistas é algo que tem lhe incomodado muito. Nos fale mais sobre isso.
Sim, durante muito tempo achei que os artistas eram diferentes das outras pessoas: mais criativos, mais sensíveis, mais inovadores… Mas quando me tornei artista descobri que os artistas não são bem diferentes das outras pessoas: sempre tem somente alguns poucos com coragem, talento e a sorte de conseguir realizar algo inesperado e forte: algo que vai perdurar e inspirar outras gerações no futuro.
Por que um artista nunca deve fazer a coisa certa?
Gosto de pensar que eu não tenho que fazer a coisa certa, no sentido da coisa esperada, justamente porque arte deve ser invenção, inesperado, quase um milagre. Somente é preciso fazer a “coisa certa” quando ninguém outro tem a coragem de fazer isto…
Qual o peso de Ondrej Brody na sua vida pessoal e profissional?
Ele é meu melhor amigo e o meu único parceiro na arte. Infelizmente vivemos muito longe um do outro então nosso contato se faz pelo internet a maioria do tempo. Temos cada um uma família com esposa e duas crianças então não sobra muito tempo para brincar juntos de artistas.
Como classificaria o seu novo trabalho “Pintar a China Agora” que fica em cartaz no MAM Rio de 7 de dezembro a 16 de fevereiro de 2014?
Este trabalho foi realizado pela primeira vez em 2007 numa outra forma, e tem sido apresentado várias vezes depois, sempre de formas diferentes. Aqui no MAM queríamos integrar o texto do curador Luiz Camillo Osório no trabalho e de trabalhar com um equipe de designers para apresentar o texto e as pinturas juntos numa instalação, a fim de dificultar a separação tradicional entre “arte” e “comentário sobre arte”, e também a fim de juntar obra e discurso e manipular a “livre interpretação” da obra. É um trabalho que está ainda buscando novas formas para se apresentar, dependendo do contexto de apresentação e das nossas possibilidades econômicas.
Algum fato em especial que ocorreu em sua vida, o fez ser o artista crítico que é hoje?
O meu pai sempre provocou este meu lado crítico desde pequeno, e quando eu tinha 10 anos a minha professora de arte na escola pegou um desenho meu e mostrou na frente à todos meus colegas e falou rindo: “o Kristofer pode se tornar qualquer coisa no futuro – exceto artista”.
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