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Mariana Cavanellas fala do álbum “Tudo Vibra”

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“Por que o cuidado com a casa e os filhos continua sendo um dever determinado por gênero?”. Junto a indagações sobre a dominação masculina, esse é o questionamento que a cantora e compositora mineira Mariana Cavanellas, ex-integrante do grupo Rosa Neon, busca traduzir em “Lá Fora”. A canção é parte do EP duplo “Tudo Vibra” – trabalho de estreia da sua carreira-solo – e ganha agora um videoclipe que tem como proposta servir de conteúdo reflexivo e anti-patriarcal. A produção chegou no período natalino e trouxe reflexões sobre vidas mercantilizadas. Mariana Cavanellas assina o roteiro e a direção (ao lado de Rodrigo Noronha) do registro audiovisual. Seguindo o arranjo da família que vive sob um fundamento machista e opressor, o vídeo apresenta a história de uma mulher solitária que cuida do lar e do marido e está sempre em busca do olhar do homem com quem vive – alguém impaciente e distante. A crítica se estende para as funções socialmente determinadas pelo gênero e ainda trata da sobrecarga feminina do cuidado com os familiares neste momento de pandemia. “Lá fora” nasce com a proposta de levantar o tapete para mostrar o mal-estar do silenciamento feminino, uma obra para o tempo e de referência para gerações futuras. Isto, aliás, é o mote de toda a produção do EP duplo “Tudo Vibra”, que também faz um apelo por uma vida mais consciente. “Quero propor uma reflexão sobre consumismo e a lógica patriarcal”, diz Mariana.

Mariana, em que momento a música lhe salvou?

A música me salva diariamente. Através da música consigo colocar minha voz pra fora. Ela me dá a possibilidade de aprender a comunicar, de sonorizar emoções e sentimentos que precisam de vazão: seja no sussurro ou no grito. Acredito que a fala, o canto, é um processo intenso de autocura, auto-apreciação e autoconhecimento.

Como as reflexões internas estão sendo fundamentais para a sua carreira?

As reflexões não são só internas, também são externas. A reflexão em sua máxima é uma aliada enorme para trilhar os meus caminhos, para sentir onde tô pisando, entender os meus desejos e também as minhas contradições. Dentro dessas reflexões, percebo que minha construção artística precisa de sensibilidade e envolvimento de quem se envolve. Me interessa muito todos esses processos internos antes de apresentar um trabalho, seja ele autoral ou não.

E as observações externas?

Aprofundando no externo, faço o exercício de compreender melhor situações e como isso reflete nas minhas emoções. Me parece um lugar eterno de escolher pelo que lutar.

Como essas observações e reflexões foram cruciais na criação do EP “Tudo Vibra?”.

Durante o período inicial do meu puerpério, senti profundamente as mazelas do mundo. Obviamente desejo um mundo melhor não só pra minha filha, mas para essa geração que tá vindo aí com muito para nos ensinar. Me propus a dissecar vários valores ou convicções para poder ter uma compreensão melhor sobre a nossa vinda neste planeta. Durante o processo do “Tudo Vibra” tudo foi muito natural, uma busca por outras respostas, não só as que sempre chegaram até mim. Me aproximei dos livros e da escrita. Me reaproximei de estudos que há um tempo eu não me permitia conhecer.

Quais as principais peculiaridades desse EP?

É uma obra para o tempo. Não sei quais são as principais peculiaridades, sei que precisava soltar esse trabalho durante o processo pelo qual eu estava acessando no puerpério. Muitas emoções circulam dentro de nós quando estamos vulneráveis. Senti de compartilhar.

“Lá Fora” é uma música certa para a atual conjuntura?

Não sei o que você definiria como certo, mas considero que “Lá Fora” traz provocações para além da atual conjuntura. É sobre as coisas nem sempre serem como parecem ser, chamando atenção para o poder patriarcal e suas rachaduras.

Em que pontos da sociedade vemos o silenciamento feminino de uma forma escancarada?

Quantas mulheres temos nas cadeiras de poder do nosso país? Quantos homens?

E em que camadas dessa mesma sociedade as amarras desse silenciamento já foram retiradas?

É um trabalho que exige atenção e rompimento de padrões sistêmicos, que são passados de geração em geração e nunca dissecados. Acredito que tem muito trabalho pela frente. Pra mim desilenciar é sobre mulheres ocupando cargos de poder e fazendo parte, de forma ativa, da Legislação do país.

Então, podemos supor que para você a arte deve ter sempre um papel social, certo?

A arte é um papel social, seja ela leve ou pesada. Um trabalho artístico sempre deixa marcas comportamentais pra sociedade, seja isso explícito ou implícito.

O que falta para que sua carreira solo alcance todo potencial que você espera alcançar?

Estou construindo e os processos me são muito valiosos. Com experiência, envergadura emocional e organização o voo vai se tornando sólido, não momentâneo…

Você se cobra muito para que isso venha ocorrer?

Me cobro muito em várias questões da vida. O movimento sempre foi um grande aliado e, agora com essa desaceleração de 2020, pude rever meus caminhos… Estou em obra…


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