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O balanço anual de José Márcio Camargo

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O economista José Márcio Camargo é doutor em Economia pela Massachusetts Institute of Technology (MIT), professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e economista da Opus Gestão de Recursos. É um dos principais pesquisadores brasileiros de economia do trabalho, pobreza e desigualdade. Ele lançou, no início dos anos 1990, em artigos e em reuniões no PT, a ideia de criar um programa de transferência de renda condicionado à manutenção das crianças na escola. A proposta foi implantada inicialmente no governo petista do Distrito Federal e na prefeitura tucana de Campinas, em São Paulo. Depois, foi adotada pelos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, já com o nome de Bolsa Família. Ele acredita que a economia estará preparada para crescer de forma mais forte em 2018, e que só a partir de 2022 o Brasil deverá retornar ao nível de bem-estar social registrado na década passada e que, entre os diversos males econômicos atuais, o pior sem dúvida seria a volta da hiperinflação. “Acho que tem um reflexo negativo importante. A maior empresa do país, a Petrobras, está no centro da operação. Isto paralisou a empresa e, com ela, todo o setor de óleo e gás. Além disso, a operação colocou no banco dos réus, todas as grandes empreiteiras do país, o que levou a uma queda importante dos investimentos em infraestrutura, que irá persistir ainda por alguns anos.”

No começo do ano passado, o senhor disse que a falta de credibilidade do Governo Dilma iria aprofundar a recessão. Vê algo de melhor no horizonte, sendo agora Michel Temer o mandatário do nosso país?

Sem dúvida. Após o final do processo de impeachment houve uma clara melhora nas expectativas dos agentes econômicos. Em parte, isto se deve ao fato de que a nova equipe dirigente tem falado uma linguagem que as pessoas entendem, enquanto a equipe antiga usava uma linguagem que ninguém conseguia entender. Como resultado, a incerteza reinava, o que paralisou a economia. Hoje, apesar de todos os problemas que o país está enfrentando, pelo menos se sabe em que direção estamos caminhando.

Em sua análise, teremos recuperação só em 2018. 2017 será um ano perdido para a economia nacional?

Não acho que 2017 será um “ano perdido”. Será um ano de reformas importantes (principalmente Previdência Social e talvez Legislação Trabalhista) e de rearranjo da economia. Nossa estimativa é que em 2017 o PIB (Produto Interno Bruto) deverá ter um pequeno crescimento, próximo a 1% ao ano, mas, se as reformas forem implementadas, a economia estará preparada para crescer de forma mais forte em 2018.

As políticas adotadas pelo Governo Dilma, criaram certos desequilíbrios. Quais deveriam ser as medidas para que tenhamos equilíbrio novamente?

A reforma fiscal, com a criação de um limite para o aumento dos gastos públicos, é fundamental. Hoje, todo aumento dos gastos do Governo é financiado ou por aumento da carga tributária, ou por aumento do déficit público e do endividamento, ou por aceleração da taxa de inflação. Estas fontes de financiamento se esgotaram. Por isto a PEC 241 cria um limite para o crescimento do gasto.

O segundo ponto importante é que com a aprovação da PEC, a Previdência Social do país se torna inviável. Se não for reformada, em 20 anos todo o orçamento do Governo Federal será destinado a pagar aposentadorias e pensões. Isto é claramente impossível. Portanto, uma reforma da Previdência terá de ser implementada, com criação de idade mínima para aposentadoria (65 anos), regras de transição, etc.

Estas duas reformas são fundamentais para evitar o desastre econômico: a volta da hiperinflação ou o calote da dívida.

Quais medidas impopulares o senhor considera serem necessárias neste momento?

Em princípio, parece que todas as medidas são impopulares, porque afetam as corporações mais fortes politicamente e que fazem um grande ruído contra as medidas. Mas, no final, se as medidas derem certo, no sentido de fazerem a economia retomar o crescimento e a redução do desemprego, elas vão deixar de ser impopulares.

Em especial, além da reforma fiscal (PEC 241), a reforma da previdência, será importante mudar a regra de reajuste do salário mínimo, retirando o adicional de crescimento do PIB.

Fazer uma reforma da legislação trabalhista que diminua os incentivos para que o trabalhador queira ser demitido, elimine o imposto sindical que financia os sindicatos de trabalhadores e as organizações empresariais, acabar com a renegociação dos contratos de trabalho na Justiça do Trabalho quando o vínculo empregatício acaba, entre outros fatores.

Fazer uma reforma tributária que simplifique a estrutura de tributos do país.

Fazer uma reforma educacional que reduza o número de matérias obrigatórias no segundo grau, introduza matérias optativas e inclua entre estas a opção para que os alunos façam cursos técnicos e profissionalizantes.

Fazer uma reforma regulatória que recupere a independência das agências reguladoras e redefinam o processo regulatório de investimentos em infraestrutura.

Reduzir o papel dos bancos públicos no mercado de crédito, com redução do volume de crédito subsidiado que hoje representa quase 50% do crédito total, o que pressiona as taxas de juros para cima.

Estas são, a meu ver, as mais importantes.

O ajuste fiscal, com o estado atual da economia, se tornou inviável?

Não, ao contrário, se tornou indispensável.

Encontrar soluções para que o país volte a crescer, é o principal problema do Brasil hoje?

Hoje, no curto prazo, o principal problema é evitar o desastre fiscal. Uma vez conseguido isto, com as reformas fiscal e da Previdência, voltar a crescer será o desafio principal. Daí a necessidade das reformas adicionais.

Existe algum risco de termos uma convulsão social com os graves problemas que temos enfrentado?

Não acredito. No Brasil, a rede de proteção social, tanto formal quanto informal, é bastante extensa e, em geral, tem conseguido dar conta de evitar este desenlace.

Por que houve tanto descaso com a meta de inflação no Governo anterior?

Boa pergunta. Difícil de responder. Minha avaliação é que houve pressão política para reduzir a taxa de juros, combinado a fraqueza política e incompetência da diretoria do Banco Central.

Se a economia continuar da forma como está, o que o senhor prevê para as classes C, D, E para os próximos anos?

Sem dúvida, 2015 e 2016 foram anos bastante ruins para estes grupos. Mas se as reformas passarem e a economia voltar a estabilizar e a crescer em 2017, acredito que teremos um começo de retomada que deverá aliviar um pouco. Mas somente a partir de 2018, se tudo correr bem, teremos um alívio importante.

Qual o peso e os reflexos da Operação Lava Jato na atual situação do emprego no Brasil?

Julgo que tem um reflexo negativo importante. A maior empresa do país, a Petrobras, está no centro da operação. Isto paralisou a empresa e, com ela, todo o setor de óleo e gás. Além disso, a operação colocou no banco dos réus, todas as grandes empreiteiras do país, o que levou a uma queda importante dos investimentos em infraestrutura, que irá persistir ainda por alguns anos. É difícil superestimar estes fatores. O efeito sobre o crescimento e o emprego foram devastadores.

O Governo Dilma, foi o pior dos últimos 20 anos, em se tratando de economia?

Sem dúvida. Provavelmente foi o pior Governo da história do país.


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