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Roberto Luis Troster analisa economia do país

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Roberto Luis Troster é sócio da Troster & Associados, bacharel e doutor em economia pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e pós-graduado em banking pela Stonier School of Banking. Foi economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e da USP e consultor de empresas, governos e instituições financeiras no Brasil e no exterior, incluindo o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI). O economista adverte: “Para citar três, a reforma do crédito, como colocado acima, uma agenda de modernização institucional – as leis para trabalhar, executar contratos, conceder crédito, enfim, produzir, são obsoletas. A terceira seria fazer uma readequação de direitos à capacidade de proteger esses direitos – um exemplo é a aposentadoria, que enquanto alguns se aposentam precocemente recebendo dezenas de milhares de reais mensais, outros muitos por idade, recebendo menos de mil reais. (…) A crise está fazendo um efeito de arrefecimento dos preços dos serviços e encolhendo margens de lucro. O realinhamento das tarifas com os demais preços tirou outra pressão e a valorização do real combinados permitem antecipar uma queda da inflação nos próximos meses. O principal problema é voltar a crescer”.

Roberto, alguns economistas dizem que 2016 é um ano perdido para economia brasileira. Neste cenário atual, com grandes nomes no comando da economia nacional, podemos ter uma perspectiva de dias melhores em um médio prazo?

Dependendo da definição de melhores. Vamos crescer um pouco em 2017 e mais em 2018, mas ainda aquém do potencial do país. Alguns dos nomes são o que há de melhor, como Parente [Pedro Parente presidente da Petrobras], Landau [Elena Landau, presidente da Eletrobras], Silvia [Maria Silvia Bastos, presidente do BNDES], Rabello [Paulo Rabello de Castro, presidente do IBGE] e Mansueto [Mansueto Almeida, secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda]. Temos recursos naturais e humanos para crescer, mas há um déficit de ambição no país, enquanto alguns vizinhos como o Paraguai, o Peru e a Colômbia vão crescer na faixa dos 5% ao ano após 2020, o Brasil vai ter a metade dessa velocidade. É pouco, e torço para que esse quadro seja mudado.

Em uma entrevista, o senhor afirmou que o Brasil é muito importante para ser deixado nas mãos dos políticos. Como tirar o controle do país das mãos de políticos, principalmente em áreas onde é crucial ter uma visão mais técnica?

Sim, mas a maior responsabilidade é do setor privado que, com algumas exceções, não apresenta projetos do que poderia ser feito para melhorar seu desempenho. A primeira coisa a fazer é desenvolver planos técnicos do que tem a ser feito e repassar a políticos sua execução. Urge acabar com Brasília voltada para seus próprios interesses do que para os do país.

A inflação é o principal problema do país hoje?

É um problema sim, mas não é o principal e está em vias de ser solucionado. A crise está fazendo um efeito de arrefecimento dos preços dos serviços e encolhendo margens de lucro. O realinhamento das tarifas com os demais preços tirou outra pressão e a valorização do real combinados permitem antecipar uma queda da inflação nos próximos meses. O principal problema é voltar a crescer.

No começo de 2014, o senhor afirmou que um dos grandes problemas do Brasil, era que o BC (Banco Central) e a Fazenda não estavam indo para nenhum caminho. De alguma maneira, este caminho foi ou pode ser encontrado com a nova equipe econômica?

Sim, pode ser encontrado. Houve uma melhoria, mas falta. Há algumas mentes boas para isso na equipe. Alguns esboços do que pode ser o caminho está no documento, “Uma Ponte Para o Futuro” do PMDB, mas é pouco. Faltam detalhamentos e decisões importantes na condução da economia.

O senhor afirmou que o mercado de crédito precisa se reinventar. Como se daria esta reinvenção?

Sim, é urgente que o faça. Temos uma intermediação boa para épocas inflacionárias, mas não para um país com ambição de crescer. O custo do crédito privado é maior para a sociedade do que o de rolar a dívida pública. Essa reinvenção se chama “Crédito responsável”, é complexa, mas já foi feita com sucesso em outros países. O caso mais notório é dos Estados Unidos após a crise de 2008. Consiste em mudanças na tributação, gestão de liquidez, relacionamento e transparência com clientes, uma renegociação institucionalizada, processo de precificação de operações e papel dos bancos estatais, para citar as mais importantes.

Pela sua análise, perdemos o grau de investimento por incompetência na gestão macroeconômica, ou pela turbulência política que gera instabilidade institucional?

Foi incompetência na gestão macroeconômica. Nesse sentido, a classe dos economistas está em dívida com o país, por não ter alertado com contundência a gravidade do que estava por acontecer.

Temos uma “mania” no Brasil, de sempre olhar o nome que comandará o Ministério da Fazenda, ao invés de observar como será tratada a política econômica. Pela sua experiência, este modo de pensar que uma pessoa terá poderes mágicos para mudar uma situação, é um fenômeno brasileiro ou se faz presente nos demais países da região?

Há de tudo um pouco. De maneira geral, os países latinos estão à espera de um “Salvador da Pátria”, e olham mais para a pessoa do que para as políticas. Na Argentina, Cristina Kirchner tinha “El modelo”, sem nunca detalhar no que consistia, aqui a “Nova Matriz Macroeconômica” é algo que não foi levado a sério, nem poderia. Por outro lado, em outros países, os números do orçamento e planos de governo são debatidos por parte da população. O que é bom, pois, dessa forma, a população cobra consistência dos governantes.

Além da redução da burocracia, da simplificação tributária e de investimentos em infraestrutura, quais seriam os outros fatores que o senhor elencaria para que o país volte a crescer de uma forma organizada?

Para citar três, a reforma do crédito, como colocado acima, uma agenda de modernização institucional – as leis para trabalhar, executar contratos, conceder crédito, enfim, produzir, são obsoletas. A terceira seria fazer uma readequação de direitos à capacidade de proteger esses direitos – um exemplo é a aposentadoria, que enquanto alguns se aposentam precocemente recebendo dezenas de milhares de reais mensais, outros muitos por idade, recebendo menos de mil reais.

O aumento de impostos se faz necessário neste momento?

A questão é quem vai pagar os impostos. Poderia cobrar-se mais de quem paga proporcionalmente menos, como quem recebe juros, que foi o que aumentou com a crise. A crise é regressiva, afeta mais os mais fracos e quanto mais demorada for, pior. Nesse sentido, uma calibração dos impostos traria justiça social e abreviaria a crise.

Um debate acalorado se tornou presente nos últimos tempos, sobre a recriação da CPMF. A CPMF era um imposto justo?

Não. Aparenta ser uma solução fácil, porque é simples de implantar, sem custo de arrecadação para o Governo e difícil de sonegar. Entretanto, o efeito total sobre as contas públicas é ruim. Pelo impacto que tem nas taxas de juros, o Governo acaba gastando mais com o carregamento da dívida pública, do que recolhe com o tributo, além de encolher o produto potencial da economia brasileira. A CPMF também é concentradora da renda, os mais pobres pagariam proporcionalmente mais, aumenta a cunha bancária (que já é a mais alta do mundo), tira competitividade das empresas nacionais e estimula a informalidade.

Existe algo no horizonte que pode prejudicar a economia mundial sistematicamente?

Não há nada no horizonte que tenha potencial para prejudicar a economia mundial, todavia, a realidade muitas vezes supera a imaginação nos dois sentidos, para baixa, piorando as perspectivas e para cima, melhorando. A questão é torcer para que tenhamos muitas surpresas positivas.


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