Formado em Direito, MBA em Gestão de Pessoas, Mestre e Doutorando em Administração pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Renato Almeida dos Santos foi executivo da área de Compliance e Prevenção a Fraudes Organizacionais na consultoria internacional de Gestão de Riscos ICTS Global por 12 anos. Ministrou diversos cursos e palestras no Brasil e no exterior. Docente de Pós-Graduação e Graduação na FECAP, FEI e SENAC, e coordenador de MBA em Gestão de Riscos e Compliance da Trevisan Escola de Negócios. Foi premiado pela CGU (Controladoria Geral da União) e pelo Instituto Ethos. É autor do livro “Compliance Mitigando Fraudes Corporativas”. Atualmente é sócio-fundador da S2 Consultoria, empresa especializada em prevenir e tratar atos de fraude (Apropriação indevida, Corrupção e Demonstrações fraudulentas) e assédio (Moral, Sexual e Corporativismo), levando em conta o comportamento humano e seus desdobramentos nas organizações. Possui mais de 15 anos de experiência em organizações privadas, públicas e do terceiro setor. “Apesar de a cultura chinesa possuir diferenças brutais, comparadas com a brasileira, o comportamento humano no tocante a risco é muito similar, o que difere são os motivos que levam as pessoas cometerem fraude ou assédio, bem como as consequências quando essas ações são identificadas pela organização”, afirma o consultor.
Renato, nos conte como foi o começo de sua carreira até chegar nos dias atuais.
Comecei minha carreira muito cedo, com apenas 14 anos, na área de RH em uma empresa de grande porte: Duratex. Nesse período me fascinei pela Gestão de Pessoas, buscando entender suas motivações, comportamentos e ações no dia a dia profissional. Quando na época do alistamento militar, fui voluntário para servir no Exército Brasileiro, onde fiquei mais fascinado ainda em entender a dinâmica humana em adversidades e privações mais básicas, como fome, sede, frio, etc… Nesse momento decidi seguir carreira e fiquei na caserna por 8 anos chegando ao posto oficial, como 1.º Tenente, sendo que mais da metade desse período liderei uma área de investigação de crimes militares, quando já havia me formado em Direito. A partir daí meu fascínio pelo comportamento humano se acentuou ao ver como o ser humano pode agir com má intenção e foi então que fiz meu MBA em Gestão de Pessoas, focando nesse lado sombrio da humanidade. Após ver e tratar tantos casos de crime, fraude e corrupção no setor público, ingressei em uma consultoria de origem israelense que tratava casos de fraudes no setor privado e, em pouco tempo, assumi a gestão da área que lidava com o fator humano das fraudes corporativas, onde permaneci por 12 anos, período esse que fiz meu mestrado e parte do doutorado tendo como objeto de estudo a mente do fraudador.
Quais foram os principais elementos para a criação da S2 Consultoria?
No final do ano de 2014 decidimos criar a S2 Consultoria com o objetivo de suprir a lacuna que existe no mercado quando se trata a fraude nas organizações: a sua Dimensão Humana. Há diversas auditorias, consultorias, escritórios de advocacia, empresas de investigação no mercado que tratam os sistemas, controles, processos, normas e procedimentos da fraude, mas nenhuma se especializou na compreensão da dinâmica do fraudador em si. E, sem ele (o fraudador) a fraude não existe.
De modo geral e com base em seus estudos, como anda a ética dos executivos brasileiros?
Há pouco tempo, publicamos um artigo na revista científica Einstein demonstrando estatisticamente que os executivos nas organizações privadas brasileiras possuem mais flexibilidade ética do que os seus liderados. O estudo aponta que o comportamento do líder é fortemente influenciado pelo contexto e pressões externas, pois, não é incomum que sistemas de remuneração por desempenho não colaborem para a observância da ética. Há uma dose de esquizofrenia em demarcar metas severas e punições inexoráveis e pretender que as condutas não reagirão fora do compliance.
Muitos dizem que a corrupção que ocorre tanto no setor público quanto no setor privado brasileiro se dá por termos uma sociedade culturalmente corrupta. Você concorda com essa afirmação?
A corrupção é um mal que assola toda a humanidade, isso não ocorre apenas aqui no Brasil, porém, a cultura do “jeitinho brasileiro” fomenta que essa corrupção não seja combatida como deveria, ou seja, com o devido peso e gravidade que o tema exige.
Como a S2 Consultoria realiza o tratamento contra fraudes e assédios no mundo corporativo?
A S2 Consultoria trata fraude e assédio na sua origem. Tratamos a causa dessas situações e não apenas os seus efeitos quando identificamos, desenvolvemos e restabelecemos a Integridade Organizacional. A raiz de toda ação fraudulenta, assediadora ou corrupta, e, por outro lado, de toda ação ética e compliance, é a Integridade Individual que é fortemente influenciada pela Integridade Organizacional, daí nosso foco é desenvolver produtos e serviços que a reforçam.
Você já ministrou diversos cursos e palestras tanto no Brasil como na China. Como notou a dimensão humana do risco no país asiático?
Apesar de a cultura chinesa possuir diferenças brutais comparada com a brasileira, o comportamento humano no tocante a risco é muito similar, o que difere são os motivos que levam as pessoas cometerem fraude ou assédio, bem como as consequências quando essas ações são identificadas pela organização.
Por que acredita que a mensuração da corrupção é complexa e controversa?
Vou exemplificar com um caso que tratamos: um comprador de uma empresa aceitou R$ 200 mil de um fornecedor como forma de “gratificação” por direcionar o processo concorrencial para que esse fornecedor ganhasse o projeto. Após ter confessado o suborno, perguntamos qual o impacto que esse direcionamento gerou à empresa e ele disse que nenhum, pois, o fornecedor era muito bom. Refizemos esse processo concorrencial e a economia foi de R$ 3 milhões, sendo que esse fornecedor já estava fornecendo à empresa em outros projetos há anos. Quanto devemos considerar na mensuração dessa corrupção? R$ 200 mil, R$ 3 milhões ou sabe-se lá quanto poderia ser economizado, caso esse fornecedor não estivesse fornecendo para a empresa? Isso falando apenas do impacto financeiro. E o impacto de imagem que essa corrupção gerou no mercado quando os rumores de que só se “entra na empresa X se pagar propina!” se reverbera?
Qual é o principal diferencial da S2 para outras empresas que atuam na mesma área?
Tratar a Dimensão Humana do Risco com rigor científico e assertividade. Buscar compreender, com evidências empíricas, a dinâmica dos profissionais da organização quanto ao assunto Integridade, tanto os profissionais que já estão no quadro, como aqueles que estão se candidatando a ingressar, bem como os fornecedores e prestadores de serviços que apoiam e representam a organização é nossa missão. Porém, metodologia, ciência e rigor procedimental de análise não são excludentes da assertividade, ou seja, de tratar de forma objetiva e clara esses temas.
Qual a importância do compliance nos âmbitos institucionais e corporativos?
No campo da gestão organizacional, o termo compliance designa o conjunto de ações para mitigar o risco e prevenir fraude e assédio. Os programas são compostos por sistemas de controles formais, códigos de ética, ações educativas, ouvidorias, canais de denúncia, para citar os mais recorrentes, que variam de acordo com o setor, a cultura institucional e a estratégia. Mas, o fato é que desde fevereiro de 2014 surgiu a chamada Lei Anticorrupção brasileira a qual prevê duras penas para as empresas que agirem como corruptora e, como forma de amenizar o impacto dessas multas, a organização precisa constituir e provar que possui Programa de Integridade (Compliance) efetivo, daí o tema tomou maior importância para as organizações no Brasil.
Como enxerga os acontecimentos oriundos da corrupção que ocorreu na Petrobras?
Enxergo positivamente a reação a esses acontecimentos, pois, não é só “mais um caso”, mas a atenção que foi e está sendo dada ao assunto pode gerar um impacto muito positivo à “dormência” do brasileiro a essas situações e, com o tempo, isso tende a mudar a cultura do “é assim mesmo”.
Como instruir gerações futuras para que a corrupção não se torne uma coisa banal?
Recentemente, fui comprar um jogo de vídeo game para meu filho Davi, 9 anos, e confesso que fiquei muito tentado em comprar 15 jogos “alternativos” (nome bonito para “pirataria”) pelo mesmo preço que compraria apenas 1 jogo. Porém, analisei se esses 14 jogos a mais valem a chance de ensinar ao meu filho que a corrupção, por menor e aceita que seja, é errada. Ele ganhou apenas 1 jogo, mas recebeu esse ensinamento.
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