Suzana Singer é formada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, e também cursou Ciências Sociais na USP. A jornalista é a décima profissional a ocupar o cargo de ombudsman na Folha de S.Paulo. Trabalha no jornal há 25 anos, desde 1987. Foi repórter e teve cargos de chefia nas editorias Educação, Ciência e Suplementos. Participou da criação do caderno Folhateen, do Guia da Folha e das seções Saúde e Folha Corrida. Em março de 2004 assumiu a função de Secretária de Redação da Folha de S.Paulo, onde ficou até janeiro de 2010, quando substituiu Carlos Eduardo Lins e Silva no cargo de ombudsman. Em 26 de abril de 2012, a Folha renovou por mais um ano a função de Suzana Singer como ombudsman do jornal. “O jornalismo colaborativo é um excelente instrumento de ajuda, mas não substitui o modelo tradicional. Veja o que aconteceu nos EUA, durante a cobertura dos atentados em Boston: Pessoas foram acusadas injustamente no afã de quem acharia o culpado antes. Não dá para fazer jornalismo com base apenas no voluntarismo. (…) Vivemos hoje um período de transição, em que muitas empresas precisam manter os dois modelos, impresso e internet, funcionando simultaneamente e sem elevar os custos. Ou seja, uma redação produz muito mais hoje do que no passado. Isso afeta a qualidade da informação”, afirma a jornalista do grupo de mídia paulista.
Existe alguma coisa que um ombudsman não pode criticar em seu jornal?
Não. Absolutamente nada.
Grandes veículos de comunicação estão indo cada vez mais rápido para o online. O que todos têm dito, é que os custos para se fazer um jornal impresso está ficando cada vez mais inviável. A senhora acredita que as publicações impressas irão sobreviver?
Sim. Talvez elas não tenham mais números de vendas tão grandes, mas continuarão atendendo uma elite consumidora de mídia.
A palavra ombudsman significa representante do cidadão. Com a internet esse cidadão criou voz e às vezes, ele usa essa “voz” de uma forma um tanto quanto agressiva, principalmente nos comentários das matérias. A senhora considera que esses comentários devem ser moderados em sites jornalísticos?
Devem ser moderados. Da mesma forma que o jornal escolhe as cartas a serem publicadas, deve se selecionar os comentários online.
Por que a mídia tem tanta dificuldade de discutir a própria mídia?
O jornalismo contém uma alta dose de crítica, em todas as áreas, de economia a esportes. Só que os jornalistas não estão acostumados a serem questionados e nem criticados.
Como a senhora está vendo a qualidade da informação na era digital?
Vivemos hoje um período de transição, em que muitas empresas precisam manter os dois modelos, impresso e internet, funcionando simultaneamente e sem elevar os custos. Ou seja, uma redação produz muito mais hoje do que no passado. Isso afeta a qualidade da informação.
Você se mostrou um pouco cética com o chamado jornalismo colaborativo praticado hoje sobretudo na internet. Poderia nos apontar os principais erros desse novo modo de transmitir informações?
O jornalismo colaborativo é um excelente instrumento de ajuda, mas não substitui o modelo tradicional. Veja o que aconteceu nos EUA, durante a cobertura dos atentados em Boston: Pessoas foram acusadas injustamente no afã de quem acharia o culpado antes. Não dá para fazer jornalismo com base apenas no voluntarismo.
Sabemos que o jornalismo de qualidade é caro. Como a senhora acredita que podemos ter a mesma qualidade na web, mas de uma forma que não afugente os leitores, já que sabemos que poucas pessoas gostam de pagar por uma informação no Brasil?
Não sei que modelo econômico vingará, mas no momento faz todo o sentido cobrar por informação diferenciada, por algo que o internauta não encontrará de graça em outros sites.
Alguns jornalistas de esquerda, acusam a Folha de S.Paulo de ser um veículo que luta contra o Brasil, pois vem atuando muitas vezes como um partido político na visão destes críticos. Muito provavelmente a senhora dever ler coisas a respeito. O que pensa sobre este assunto tão falado principalmente nos veículos da chamada imprensa “progressista?”.
A Folha é muito crítica ao Governo Dilma, sem dúvida. O que as pessoas esquecem é que o jornal tem uma tradição de tratar duramente os Governos. Foi assim com FHC, Sarney e Collor.
Dentro da própria Folha, alguém já reclamou sobre o que a senhora escreveu como ombudsman?
Apenas uma coluna minha, sobre crítica de teatro, foi respondida, em um outro artigo publicado no jornal. Não vejo problema nenhum nisso, é bom haver essa discussão.
“Se os jornais não forem capazes de oferecer mais qualidade aos seus leitores, apressarão o passo rumo a irrelevância.” A senhora disse isso exemplificando o estado atual do jornal “O Estado de S.Paulo” que diminuiu de tamanho. Acredita que só a qualidade segurará os leitores dos impressos em tempos de informação chegando até por e-mails e telefones celulares?
Se não for a qualidade, não imagino o que será, já que não dá para competir com a rapidez e o conforto do online. Faço apenas uma ressalva: O problema do tamanho do jornal não é só do “Estado”, mas de todos os jornais.
Alguns jornalistas que já trabalharam na chamada grande imprensa, dizem que não existe liberdade de imprensa no país, aliás existe, mas apenas para os donos dos veículos. Como vê essa afirmação?
Não vejo sentido nessa crítica. Um repórter não pode escrever qualquer coisa em um jornal ou em uma revista, ele faz parte de uma redação, é pautado, seu texto é editado etc. Isso não significa que não há liberdade de expressão.
É evidente que a mídia abusa do seu poder em muitos casos. A senhora acredita que a imprensa nacional deve ser autorregulada, ou os veículos têm a capacidade de se autorregularem sem que uma lei seja sancionada para isso acontecer?
Para começar, as empresas de comunicação deveriam ter princípios editorais escritos e divulgados. Deveriam criar cargos de ombudsman ou de representantes de leitores e aprender a praticar a transparência e a prestação de contas.
Quais as principais desvantagens e vantagens de olhar o jornal em que se trabalha de uma forma imparcial?
Não vejo desvantagens.Trata-se de um exercício diário.
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