João Dionisio Amoêdo e a fundação do Partido Novo
João Dionisio Amoêdo começou sua carreira como estagiário do Citibank, em 1988, chegando ao posto de banqueiro, como sócio do BBA, membro do conselho do Unibanco e, agora, conselheiro do Itaú-BBA. Há cerca de um ano, tomou uma decisão inusitada. Com alguns amigos do mercado, resolveu criar um partido para defender os princípios da gestão e de um Estado menor, assim nasceu o NOVO. Ele diz ter recebido incentivo de alguns dos mais conhecidos nomes do setor, como os banqueiros Pedro Moreira Salles e Fernão Bracher, além do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga. Entusiasmado, chamou o escritório Pinheiro Neto, um dos mais tradicionais do país, para a confecção do estatuto. O vice-presidente do partido será Marcelo Lessa Brandão, ex-executivo do grupo BFFC, que controla marcas como Bob’s, KFC e Pizza Hut. “Temos hoje um ciclo vicioso no cenário político nacional. As pessoas se sentem mal representadas e têm uma péssima avaliação sobre as práticas atuais. O resultado é o afastamento e a pouca participação. Logo, a maioria dos que se envolvem na política o fazem para defender interesses próprios. A não resistência e a ausência de cobrança gera a repetição e, o pior, a perpetuidade deste ciclo. (…) A iniciativa privada não gosta, necessariamente, de enxugar o número de pessoas. O que ela busca é otimizar os custos para oferecer um produto de melhor qualidade”, afirma o presidente do NOVO.
Muita gente diz que o Partido NOVO chega para ser diferente. Como ser diferente numa política onde o jogo do toma lá dá cá é a tona?
Temos hoje um ciclo vicioso no cenário político nacional. As pessoas se sentem mal representadas e têm uma péssima avaliação sobre as práticas atuais. O resultado é o afastamento e a pouca participação. Logo, a maioria dos que se envolvem na política o fazem para defender interesses próprios. A não resistência e a ausência de cobrança gera a repetição e, o pior, a perpetuidade deste ciclo. Ficamos sujeitos a poucos grupos que dividem o poder e negociam favores entre si conforme os seus interesses. Reverter este quadro é um processo necessário. O que o NOVO pretende fazer é criar um partido baseado em valores e conceitos, sem defender os interesses de um grupo específico, e conscientizar os cidadãos que somente com a sua participação ativa, os políticos se transformarão em verdadeiros representantes dos eleitores, o que seria o esperado numa sociedade democrática. O político deve representar e prestar contas ao eleitor, e não aos grupos de pressão. Um conceito fundamental para o NOVO: o indivíduo deve ser o agente de mudanças e é o único criador de riquezas.
Por que a ideia de num primeiro momento não ter membros no partido vindos da vida pública?
Por três motivos: incentivar o preenchimento das posições por novos políticos; minimizar os vícios e as práticas da atual política; e evitar a caracterização do partido como de uma agremiação pertencente a uma única liderança ou a um grupo específico. Isso não significa dizer que não poderemos ter políticos no NOVO. Eles serão bem-vindos desde que compartilhem dos mesmos valores e objetivos e coloquem projetos pessoais em segundo plano.
A bandeira principal do partido é atuar na melhoria da gestão pública. Sabemos que geralmente, a iniciativa privada gosta de enxugar o número de pessoas para conseguir esse objetivo, mas como fazer isso em uma máquina que está totalmente engessada e cheia de pessoas?
A iniciativa privada não gosta, necessariamente, de enxugar o número de pessoas. O que ela busca é otimizar os custos para oferecer um produto de melhor qualidade e preço competitivo ao seu cliente. É somente com esta lógica que ela consegue enfrentar a concorrência e sobreviver. Esta, infelizmente, não é a mesma dinâmica presente no serviço público. O NOVO trabalha com dois objetivos principais. No curto prazo queremos melhorar a qualidade da gestão. Para isso, é fundamental a implantação de regras que privilegiem a meritocracia e a cobrança de resultados. Acreditamos que dentro deste ambiente a depuração acontecerá normalmente. Já temos o exemplo deste roteiro em algumas administrações públicas atuais. Numa visão de longo prazo, o principal desafio do NOVO é reduzir o escopo de atuação do Estado para diminuírmos o desperdício, a corrupção e construírmos uma sociedade mais próspera.
O NOVO quer ser um partido de ideias e não um partido de pessoas. Muitas vezes ou quase sempre, os líderes dos partidos se tornam mais importantes e até maiores que as legendas. Como o NOVO fará para tentar não entrar nesse vício tão comum na política do nosso país?
Lideranças são bem vindas e importantes dentro de qualquer organização, e o seu exemplo de atuação é que irá nortear o grupo. O problema é quando estas lideranças passam a defender projetos pessoais. Este é o caminho que queremos evitar no NOVO. Acreditamos que algumas ações possam minimizar este risco. São elas: basear o partido em valores e objetivos e não em líderes carismáticos; e promover a constante renovação dos seus quadros.
Os membros do partido em sua grande maioria, são pessoas que de alguma forma são vindas do setor privado como executivos, profissionais liberais e empresários. Qual a estratégia do partido para falar com as pessoas das classes menos favorecidas, já que muitos estudiosos dizem que é nesse público que as eleições são ganhas verdadeiramente?
Acreditamos que as pessoas, independente da classe social, têm bom senso e raciocínio lógico. O NOVO dirá o que julga correto e não necessariamente o que as pessoas gostariam de ouvir. O que procuraremos mostrar de forma transparente e didática é que o indivíduo é o melhor gestor dos seus recursos; que a iniciativa privada – refém da concorrência e do consumidor – provê os melhores serviços a custos mais baixos e que nada do que recebemos do Governo é gratuito.
Em uma entrevista, você afirmou que o NOVO poderia ser um partido de centro-direita. Como sabemos em muitos casos, quem diz que é de direita, sempre é tachado como reacionário para ficar na palavra mais leve. Não tem medo que isso possa acontecer com a legenda?
Não gostamos desta classificação, não por termos medo de nos posicionarmos, mas simplesmente porque ela não reflete, adequadamente, os princípios e objetivos do NOVO. Defendemos uma sociedade que seja baseada nos seguintes valores: visão de longo prazo, aplicação rigorosa das leis, meritocracia, livre mercado e liberdades individuais preservadas. O único temor que temos com a formação do NOVO é de que ele cresça sem transmitir a mensagem que desejamos. O insucesso por adotarmos o caminho que julgamos correto não nos assusta.
O que enxerga de bom e de ruim no Governo da presidente Dilma Rousseff?
O bom são as intenções, o ruim os resultados. Infelizmente por uma questão ideológica, a presidente acredita em um planejamento central do Governo e em um Estado intervencionista. As decisões tomadas acabam por contrariar a lógica do livre mercado e pioram os problemas existentes ou geram soluções de curto prazo com altos custos no longo prazo.
Uma das propostas do NOVO é que o Estado deve ter uma atuação menor na sociedade. Acreditamos então que vocês são contra os planos de assistência governamental, como o Bolsa Família por exemplo…
De fato acreditamos que a redução do Estado é um caminho a ser seguido. Queremos diminuir os impostos e devolver o dinheiro e consequentemente o poder ao cidadão. Esta proposta não é defendida por nenhum dos partidos existentes. A disputa é sempre por quem irá administrar os quase 40% do PIB resultante da enorme carga tributária. No cenário defendido pelo NOVO teríamos menos corrupção, menos burocracia, menor custo de campanhas eleitorais, menos ineficiência, maior incentivo a um espírito empreendedor e maior criação de riqueza. Somos favoráveis a um plano que retire as pessoas da marginalidade e as incorpore ao mercado. Gostamos, portanto, da ideia de um plano de combate a miséria, mas discordamos da forma como o Bolsa Família trata o problema, pois este mantém as pessoas dependentes do Estado de forma permanente. No nosso conceito o indivíduo que deixa de ser miserável é aquele que, com alguma qualificação, consegue trabalhar, receber uma remuneração e sobreviver sem depender de nenhuma outra ajuda externa. Dentro desta lógica o plano contra miséria deveria: melhorar a educação básica, simplificar a legislação trabalhista, incentivar o empreendedorismo e combater a inflação. O Bolsa Família deveria ser apenas um componente deste plano, utilizado para situações emergenciais. O indicador de sucesso desta política deveria ser uma relação inversa da quantidade de pessoas que recebem o benefício e não uma relação direta, como acontece hoje.
O partido sempre diz que a política não é profissão. Quais os planos do NOVO para que um membro não fique tanto tempo em um cargo público?
Este é um dos nossos desafios: buscar pessoas que já exerçam uma atividade ou profissão e que portanto não dependam da permanência na política para sobreviver. Não nos parece razoável que a participação política seja uma forma para que alguém mude o seu patamar de renda ou consumo. Isto deve ser proporcional a sua qualificação profissional. O estatuto do NOVO veda mais de uma reeleição para o mesmo cargo.
Em um vídeo, vocês afirmaram que o eleitor deve ser um cliente e o Governo uma empresa. Como fazer para que esse cliente [eleitor] não leve essa empresa [Governo] sempre para o “Procon”, já que o seu serviço na maioria das vezes não é nada satisfatório?
Esta é a grande diferença entre o funcionamento do Governo e o da iniciativa privada. Na iniciativa privada as trocas são voluntárias, ou seja, só pagamos por algo quando estamos satisfeitos pelos serviços que recebemos. No Governo não temos esta opção. Pagamos os impostos que nos são cobrados independente da qualidade dos serviços e da sua utilização. A forma de minimizarmos este problema é reduzirmos a atuação do Estado. Com uma presença menor do Estado, cobraremos menos impostos, devolveremos o dinheiro aos cidadãos e os deixaremos, efetivamente, na posição de clientes para fazerem as escolhas que desejarem. Infelizmente o caminho que vem sendo adotado no Brasil é o contrário. Temos cada vez mais um Estado intervencionista, inchado, burocrático e cobrando altos tributos. O resultado são serviços públicos ruins pois não há concorrência, e o ambiente é mais propício para a corrupção.
Você é a favor do financiamento público de campanhas?
Não. Sou contra. Não me agrada a ideia de retirarmos mais dinheiro dos cidadãos, via impostos, transferindo-o para o Poder Público que estaria encarregado de estabelecer as regras para distribuição desta verba. Este conceito vai na direção oposta ao que defendemos, ou seja, os recursos ficando o máximo possível nas mãos do cidadão, que fará as melhores escolhas. O argumento de que na prática já existe financiamento público na medida em que as doações privadas são apenas “empréstimos” que serão repagos de alguma forma com recursos públicos não me parece aceitável. Não vamos corrigir um erro com a adoção de outro.
Hoje ser político para grande parte da população é ser um ladrão. Como mudar isso?
Primeiro através do cumprimento rigoroso da leis, um dos nossos principais valores. Segundo, conscientizando as pessoas que a vida em sociedade pressupõe a existência da política e dos políticos, e que a responsabilidade é nossa, como eleitores e formadores de opinião, se pessoas desonestas ou sem qualificação estão sendo eleitas. Este provavelmente é um dos principais desafios do NOVO neste estágio.
Conselheiro do Itaú-BBA, da João Fortes Engenharia e sócio da Casa das Garças, ou seja, você é um homem bem-sucedido. Não fica receoso em deixar essa suposta “tranquilidade” para se expor em um território tão perigoso e muitas vezes cruel como é a política?
Esta tranquilidade no meu entender é relativa. Acredito que atitudes erradas têm consequências ruins, ainda que levem algum tempo. Temos exemplos disto em casa, no nosso trabalho e no nosso país. O que muda em cada um destes ambientes é o intervalo de tempo entre as ações e os resultados. Não acredito que uma participação política tão reduzida e um modelo que concentre o poder nas mãos do Estado traga bons resultados no futuro. Ao constatar esta realidade, e acreditando na responsabilidade que temos com as futuras gerações é inevitável não tomar uma atitude. A frustração do insucesso irá me incomodar bem menos do que a frustração de não tentar.
Última atualização da matéria foi há 2 anos
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