O impacto do design emocional
No universo cada vez mais saturado de estímulos visuais, o “design emocional” ganhou protagonismo nas últimas décadas como um conceito que promete ir além da estética e da funcionalidade para alcançar um terceiro e poderoso pilar: a emoção. Acuado pela frieza do design utilitário e pela saturação do minimalismo repetitivo, o mercado — em especial as marcas — encontrou no design emocional uma forma de se reconectar com o público em um nível mais profundo, buscando gerar vínculos, encantamento e, inevitavelmente, fidelização.
Mas o que é exatamente o design emocional? Em essência, trata-se de um enfoque do design que procura provocar sentimentos nos usuários a partir da interação com produtos, interfaces, ambientes ou identidades visuais. A ideia é fazer com que o design conte histórias, evoque memórias e seja capaz de criar empatia. O conceito foi popularizado por Donald Norman, em seu livro Design Emocional, publicado em 2003, onde ele argumenta que os objetos bem-sucedidos são aqueles que vão além da funcionalidade, despertando respostas afetivas.
“A tentativa de “emocionar” o usuário pode se resumir a uma paleta de cores “fofa”, mascotes simpáticos e frases motivacionais, desprovidas de contexto ou função real.”
Do ponto de vista comercial, a ascensão do design emocional é compreensível. Em um mercado globalizado e digitalizado, onde a diferenciação entre produtos e serviços muitas vezes é mínima, conquistar o consumidor pelo coração — ou pela memória afetiva — torna-se uma estratégia legítima e eficaz. A sensação de nostalgia ao abrir uma embalagem, o sorriso espontâneo diante de uma animação bem-humorada ou a sensação de confiança ao usar um aplicativo intuitivo são exemplos de como o design emocional opera de maneira silenciosa, porém, eficaz.
Contudo, a popularidade do design emocional também levanta questionamentos éticos e estéticos relevantes. Até que ponto projetar produtos com base em gatilhos emocionais não resvala em manipulação? Em que momento a evocação de sentimentos se transforma em exploração de vulnerabilidades? O design emocional, quando utilizado com honestidade e propósito, pode de fato enriquecer a experiência do usuário. Mas há uma tênue linha entre construir conexão e instrumentalizar emoções para objetivos puramente comerciais.
Entre a emoção e a manipulação
Tomemos como exemplo o design de aplicativos e redes sociais. O uso de animações suaves, feedbacks positivos e microinterações são todos elementos que contribuem para uma experiência mais prazerosa. Mas esses mesmos elementos, se utilizados de forma obsessiva e calculada, podem fomentar comportamentos compulsivos, vício em notificações e uma dependência emocional da tecnologia — um fenômeno bem documentado em pesquisas recentes sobre saúde mental e uso de smartphones.
Além disso, há uma tendência de superficialidade que ronda algumas implementações do design emocional. A tentativa de “emocionar” o usuário pode se resumir a uma paleta de cores “fofa”, mascotes simpáticos e frases motivacionais, desprovidas de contexto ou função real. O risco é cair em um esteticismo sentimental vazio, onde o “emocional” se torna apenas um verniz para disfarçar deficiências de usabilidade ou fragilidade de produto.
É necessário também problematizar o acesso desigual a esse tipo de design. Em um cenário onde empresas com grandes orçamentos podem contratar equipes multidisciplinares de psicólogos, designers e engenheiros de UX para modelar a experiência emocional ideal, as marcas menores muitas vezes ficam à margem dessa “economia da emoção”. Assim, o design emocional corre o risco de ser mais uma camada de exclusão — acessível apenas a quem pode pagar pela sensibilidade estética e afetiva.
Por outro lado, há projetos que utilizam o design emocional de forma autêntica e transformadora. Iniciativas de design voltadas para o bem-estar, como aplicativos para saúde mental, educação inclusiva ou comunicação aumentativa, mostram como a dimensão emocional pode ser incorporada para atender necessidades humanas reais, indo além da lógica de mercado. Nessas situações, o design emocional deixa de ser um truque de marketing e se torna ferramenta de empatia, cuidado e inclusão.
É nesse contexto que o design emocional, continua sendo uma faca de dois gumes. Se por um lado ele representa um avanço importante na compreensão do papel subjetivo que os objetos e interfaces exercem sobre nós, por outro, sua banalização pode transformá-lo em um modismo estéril ou, pior, em um instrumento de persuasão sutil e questionável.

O desafio, portanto, está na intenção e na transparência. O design emocional só se sustenta enquanto campo legítimo se estiver comprometido com a experiência do usuário em sua totalidade — incluindo seus limites, suas vulnerabilidades e suas contradições. Provocar emoção é um poder grande demais para ser tratado apenas como uma ferramenta de conversão.
Emocionar não pode ser um fim em si mesmo. Deve ser meio para algo mais significativo: compreensão, conexão, transformação. O bom design, afinal, é aquele que nos toca — mas também aquele que nos respeita.
Por que as empresas apostam no storytelling?
maio 17, 2025Millennials redefinem o que é luxo
maio 10, 2025Cursos online: um negócio de picaretas?
maio 3, 2025Nova corrida do ouro: objetos colecionáveis
abril 26, 2025Marcas que se posicionam em risco?
abril 19, 2025A influência da cultura pop nas escolhas
abril 12, 2025Leitura mantém o cérebro jovem e ativo
abril 5, 2025Publicidade programática versus privacidade
abril 4, 2025A guerra do streaming: quem vencerá?
março 28, 2025Turismo esportivo: um mercado bilionário
março 22, 2025O celular sumirá primeiro que o PC
março 21, 2025Você precisa mesmo de uma resolução 8K?
março 15, 2025
Eder Fonseca é o publisher do Panorama Mercantil. Além de seu conteúdo original, o Panorama Mercantil oferece uma variedade de seções e recursos adicionais para enriquecer a experiência de seus leitores. Desde análises aprofundadas até cobertura de eventos e notícias agregadas de outros veículos em tempo real, o portal continua a fornecer uma visão abrangente e informada do mundo ao redor. Convidamos você a se juntar a nós nesta emocionante jornada informativa.
Facebook Comments