Alex Agostini faz uma análise dos cenários
Alex Agostini é economista com formação pela Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas de Osasco e extensão pela Universidade de São Paulo (USP), MBA em Gestão Estratégia e Econômica de Negócios pela FGV-SP. Têm mais de 20 anos de experiência no mercado financeiro atuando como consultor em importantes instituições. Há treze anos é economista-chefe na Austin Rating responsável pela área de Projetos e Estudos Especiais, Análise Setorial e Macroeconômica, além de coordenar a área de Rating de Entes públicos e professor universitário. A Austin Rating foi a primeira empresa nacional a conceder ratings no Brasil. Além do pioneirismo na classificação de risco de crédito, a empresa se caracteriza pelo desenvolvimento de metodologia própria, a qual adapta padrões internacionais ao mercado financeiro nacional e suas particularidades. A credibilidade da Austin Rating junto ao mercado foi construída ao longo dos seus 32 anos de atuação no Brasil. Nesse período, a agência teve a oportunidade de acompanhar os momentos decisivos da economia nacional e internacional e de suas implicações sobre empresas nacionais e, principalmente, instituições financeiras, destacando-se pela segurança e pela independência de suas opiniões. Hoje, a Austin é a empresa mais solicitada pela mídia quando o assunto é relacionado aos bancos e ao mercado financeiro.
Alex, o que o mercado espera do novo mandatário da nação?
A principal demanda é que seja um presidente que consiga reduzir o tamanho do Estado na economia. Ou seja, que consiga realizar o máximo possível de concessões e privatizações. Isso porque há a necessidade de se atingir o equilíbrio fiscal para que o país possa voltar a crescer de forma consistente e não dependa apenas da reforma da previdência, ainda que este seja o principal desafio. Em tempo, sabemos que não será uma tarefa fácil atingir o equilíbrio fiscal visto que o Orçamento Federal está praticamente engessado, pois 95% das despesas são obrigatórias (por força de lei), bem como há um inchaço da máquina pública e crescimento muito baixo das receitas recorrentes.
O impacto da crise política deve afetar a economia ainda por muito tempo?
Tudo depende da forma que o novo presidente conduzirá as negociações com o Congresso para aprovar as reformas estruturantes. Pois, caso nada seja feito, em particular a reforma da previdência, o efeito negativo sobre as expectativas dos agentes econômicos prevalecerá ainda por algum tempo e, com isso, o ciclo vicioso será alimentado: baixo crescimento com alta do endividamento.
A questão fiscal será o principal problema a ser combatido pelo novo Governo?
Não há dúvidas que a recuperação do equilíbrio fiscal é tarefa primordial ao novo presidente, pois, caso haja resistência em realizá-la, poderemos ver o mercado de trabalho em situação ainda mais difícil no país.
Bolsonaro e Haddad estão cientes disso em sua visão?
Sim. No caso de Bolsonaro, primeiro porque ele é parlamentar há pelo menos duas décadas e meia, então, vivenciou de perto as angústias políticas e econômicas. Essa visão de necessidade também é reforçada pela própria indicação do futuro Ministro da Fazenda, Paulo Guedes, que é originário do mercado financeiro e um liberal declarado. Já no caso de Haddad a situação é ainda mais sensível, pois, foi justamente na gestão do PT que o país vivenciou sua pior crise econômica desde a década de 1930.
Heterodoxia econômica seria um risco para 2019?
Com certeza sim. Pois, a política econômica do Brasil está tão ajustada, principalmente nas questões relacionadas à política monetária, que qualquer adoção de medida heterodoxa pode ser um retrocesso econômico ainda maior. O país não pode ser um laboratório de testes, pois, caso algo dê errado sabe-se que a sociedade pagará um preço muito alto com desemprego e queda na renda.
Que reformas são vitais para o país e que o novo Governo terá que fazer o mais rápido possível?
Primeiro a questão da reforma da previdência. Pois isso terá impacto direto sobre a recuperação da confiança de empresários e investidores. Mas também há necessidade de se fazer de forma mais profunda e inteligente, a reforma tributária e a reforma política, além de ampliar a reforma trabalhista com foco no desenvolvimento da produtividade.
Qual será o peso da equipe econômica que será escolhida pelo novo presidente para trazer a confiança necessária aos investidores?
A escolha da equipe econômica é praticamente determinante na recuperação da confiança. Pois, os agentes econômicos terão suas bases de expectativas sobre aqueles que vão determinar a política econômica do país. Portanto, não há espaço para aventureiros, ou o preço que o país pagará será muito alto. Nesse caso, vale lembrar que o Brasil perdeu o grau de investimento em 2015, logo, se não acertar na equipe econômica logo de início, dificilmente conseguirá reverter o quadro de estagnação econômica.
O que é fundamental numa equipe econômica para trazer essa confiança?
O fundamental é que a equipe econômica tenha, no mínimo, autonomia operacional para realizar as medidas necessárias para recolocar o Brasil nos trilhos do crescimento. Caso o próximo presidente tenha postura intervencionista, inclusive com alterações na equipe, isso terá efeito inverso ao desejado. Ou seja, seria como querer consertar uma peça com a ferramenta errada.
A greve dos caminhoneiros deverá afetar o PIB deste ano ou outras questões terão um impacto ainda maior?
A questão dos caminhoneiros foi conjuntural. Ou seja, afetou a dinâmica macroeconômica no mês de maio, bem como a Copa do Mundo afetou o mês de junho, porém, vimos o rápido restabelecimento nos indicadores de agosto. Mas, se analisarmos as estimativas do PIB no início deste ano, que estavam ao redor de 2,95%, e atualmente ao redor de 1,1%, vamos perceber que há adicionais problemas que se sobrepõem a paralisação dos caminhoneiros e podemos, por exemplo, citar as diversas deflagrações de corrupção, que afeta a confiança de investidores em realizar negócios com os entes públicos, em particular nas concessões, bem como a questão da estabilidade fiscal que deixa em stand-by o risco de um elevado endividamento no médio prazo que, por consequência, elevaria a taxa de juros básica e afetaria a dinâmica do consumo e produção.
Por que houve tanto descaso com a meta de inflação no Governo Dilma?
É difícil de explicar se considerarmos que o presidente do BACEN (Banco Central) na época era um gestor com grande capacidade técnica. Mas, parte da explicação vem justamente do aumento do endividamento público e dos desarranjos e intervenções do Governo Federal nas métricas de reajustes dos preços das tarifas públicas.
Esse fator e a chamada “política expansionista” do segundo mandato do Governo Lula, foram os fatores que nos trouxeram para este cenário nada confortável que vivemos atualmente?
Sim. Claro que jamais podemos reclamar dos efeitos benéficos do crescimento econômico. Porém, este tem que estar apoiado numa base de investimento e não no consumo. Ou seja, erraram a mão com a chamada nova matriz econômica. É importante reforçar que países emergentes, como o Brasil, têm restrições de fatores de produção e isso se transforma rapidamente em problemas ao país quando o crescimento não é estruturado. Ou seja, o crescimento econômico no último mandato do Governo Lula, que foi de 4,6% na média ao ano, elevou o processo de reajuste dos custos de produção (ex: salários) que, por sua vez, aumentou em demasia os preços dos serviços prestados às famílias, que só arrefeceram após 5 anos com a recessão econômica de 2015 e 2016.
Última atualização da matéria foi há 1 ano
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