Clientelas priorizam reparo frente à compra
Nos últimos anos, o conserto de eletrônicos tem se consolidado como uma tendência crescente, motivada por fatores econômicos, sociais e ambientais. A rápida evolução tecnológica e a oferta constante de novos dispositivos sempre impulsionaram o consumo, mas o cenário econômico atual trouxe novos desafios ao comportamento dos consumidores. A redução do poder de compra, a alta nos preços dos produtos importados e a preocupação com a sustentabilidade têm levado muitos brasileiros a reconsiderar a necessidade de adquirir novos aparelhos eletrônicos e a buscar alternativas mais acessíveis e conscientes.
Dados da pesquisa “Protect and Project Oneself”, da BNP Paribas Cardif, realizada em 2024, revelam que 88% dos brasileiros enxergam a queda do poder aquisitivo como uma das maiores preocupações sociais. Esse dado reflete mudanças significativas na forma como os consumidores lidam com seus recursos financeiros, priorizando a manutenção de equipamentos já adquiridos. O conserto de celulares, televisores, computadores e eletrodomésticos é, agora, mais do que uma questão de economia: tornou-se uma estratégia de sobrevivência financeira para muitas famílias.
Além das questões econômicas, o impacto ambiental causado pelo descarte inadequado de eletrônicos trouxe à tona a necessidade de prolongar a vida útil dos dispositivos. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que o lixo eletrônico mundial atinja 74 milhões de toneladas até 2030. Esse cenário gera uma pressão crescente sobre fabricantes e consumidores para buscar soluções sustentáveis, sendo o reparo uma das principais alternativas.
O mercado global de reparo e manutenção de eletrônicos está em plena expansão. De acordo com a Exactitude Consultancy, esse segmento deverá crescer de US$ 8,72 bilhões em 2023 para US$ 11,09 bilhões até 2030. Embora a Europa lidere o mercado global, países em desenvolvimento, como o Brasil, também apresentam crescimento expressivo devido à crescente demanda por serviços de assistência técnica.
No Brasil, a alta do dólar e a inflação pressionam os preços de dispositivos eletrônicos, tornando-os inacessíveis para uma parcela significativa da população. Por outro lado, as oficinas de reparo vêm se destacando como uma opção viável e prática para consumidores que não podem arcar com o custo de novos aparelhos. Claudio Xavier, da Cantinho Sonoro Assistência Técnica, enfatiza que “a manutenção tem se tornado uma solução não apenas mais barata, mas também mais sustentável”.
Com esse pano de fundo, este texto explora, em sete perspectivas, as razões, impactos e implicações da escolha crescente pelo conserto de eletrônicos no Brasil.
A crise econômica e sua influência nas escolhas de consumo
A crise econômica no Brasil tem sido um dos principais catalisadores para a busca por serviços de conserto de eletrônicos. A alta dos juros e a inflação persistente reduziram o poder de compra das famílias, forçando-as a reconsiderar gastos e priorizar o essencial. Produtos como smartphones e televisores, que antes eram trocados regularmente por modelos mais modernos, agora permanecem em uso por mais tempo graças aos serviços de reparo.
Esse movimento também reflete um aumento da conscientização financeira. Muitas pessoas percebem que os custos de manutenção são significativamente menores do que o financiamento de novos dispositivos, que frequentemente acarretam juros elevados. Além disso, a instabilidade econômica global e a desvalorização do real frente ao dólar têm tornado os produtos importados ainda mais caros, reforçando a escolha pelo reparo como uma alternativa econômica.
A sustentabilidade como fator decisivo
A preocupação ambiental tem desempenhado um papel crucial na decisão dos consumidores de consertar, em vez de descartar, seus aparelhos. O lixo eletrônico é uma das maiores ameaças ambientais do século XXI, com materiais tóxicos como chumbo, mercúrio e cádmio poluindo solos e águas subterrâneas.
Prolongar a vida útil de dispositivos eletrônicos reduz a demanda por novos aparelhos, diminuindo, consequentemente, o impacto ambiental gerado pela extração de matérias-primas e pela fabricação de componentes. No Brasil, iniciativas como o descarte consciente de resíduos eletrônicos vêm ganhando força, mas a falta de políticas públicas abrangentes ainda dificulta uma transformação mais ampla no setor.
Segmentos mais afetados pela tendência de reparo
Embora a busca por conserto seja uma tendência generalizada, alguns segmentos têm se destacado. Os smartphones lideram a demanda, seguidos por televisores e computadores. No caso dos celulares, serviços como troca de telas, reparo de baterias e consertos de circuitos internos são os mais procurados.
Televisores, especialmente os modelos mais avançados, como Smart TVs, também representam um volume significativo de reparos. Equipamentos de informática, como notebooks e desktops, têm experimentado uma procura crescente por manutenção devido à crescente prática de trabalho remoto, que exige maior desempenho desses dispositivos.
A expansão do mercado de assistência técnica
O crescimento do setor de reparo e manutenção não se limita a consumidores individuais. Empresas especializadas estão se profissionalizando, adotando tecnologias modernas para diagnóstico e reparo, além de investir em qualificação de seus técnicos. Esse cenário é promissor para o mercado de trabalho, gerando novas oportunidades para profissionais capacitados.
A digitalização também está transformando o setor. Plataformas online que conectam consumidores a técnicos certificados estão ganhando espaço, oferecendo comodidade e transparência. Por outro lado, o aumento da demanda também tem trazido desafios, como a escassez de peças de reposição e o aumento nos custos operacionais.
A tecnologia como aliada no setor de reparos
A evolução tecnológica também beneficia o mercado de assistência técnica. Ferramentas avançadas de diagnóstico permitem identificar problemas de forma mais rápida e precisa, enquanto tecnologias como impressão 3D começam a ser utilizadas para a fabricação de peças de reposição.
Além disso, a Internet das Coisas (IoT) permite monitorar o desempenho de aparelhos em tempo real, prevenindo falhas e reduzindo custos de manutenção. Essas inovações tornam o setor mais eficiente e competitivo, oferecendo melhores serviços aos consumidores.
Mudança de mentalidade e a valorização do reparo
A escolha pelo reparo, antes vista como uma solução paliativa, tem ganhado status de escolha consciente e estratégica. Essa mudança de mentalidade reflete não apenas o contexto econômico, mas também uma maior valorização dos recursos e da sustentabilidade.
Consumidores, especialmente os mais jovens, estão mais dispostos a investir em reparos, mesmo em detrimento da aquisição de produtos novos. Essa postura contrasta com o consumo descartável que dominava o mercado há algumas décadas e sinaliza uma transformação cultural relevante.
Desafios e perspectivas futuras do setor de conserto de eletrônicos
Embora o setor esteja em ascensão, enfrenta desafios significativos, como a obsolescência programada, que limita a reparabilidade de muitos dispositivos. Além disso, a falta de regulamentação no mercado de reparos no Brasil cria um ambiente de competição desleal, com técnicos informais concorrendo com empresas estabelecidas.
Ainda assim, as perspectivas são otimistas. A demanda por serviços de assistência técnica deve continuar crescendo, impulsionada tanto pelas pressões econômicas quanto pela conscientização ambiental. Com investimentos em tecnologia e qualificação, o setor tem potencial para se consolidar como uma peça-chave na economia circular e na redução de impactos ambientais.
A escolha pelo conserto, mais do que uma necessidade, representa uma mudança nos valores e nas prioridades dos consumidores brasileiros, marcando uma nova era de consumo mais responsável e sustentável.
Fundada em 2012 por um grupo de empreendedores, a agência de notícias corporativas Dino foi criada com a missão de democratizar a distribuição de conteúdo informativo e de credibilidade nos maiores portais do Brasil. Em 2021, foi considerado uma das melhores empresas para se trabalhar.
Facebook Comments